quarta-feira, 29 de março de 2023

PRETINHA, EU?, de Júlio Emílio Braz


 

Neste vídeo, o professor e escritor Stenio Erson fala sobre o livro PRETINHA, EU?, do escritor Júlio Emílio Braz. Fique atento! #pretinhaeu #julioemiliobraz #romance #canalliterário #oequadordascoisas

sábado, 18 de março de 2023

Lados opostos


 

Por Germano Xavier

@germanovianaxavier


comemoram a vida

seguem a direção do paraíso

e eu me firmo


sujam seus uniformes

maculam suas peles

e eu aprendo a viver


masturbam-se com ilusões ordinárias

e eu espero o Tempo


drogam-se

e eu escuto


desfilam trajes de falsidade

em sorrisos dados pelos cantos

e eu mostro meus dentes


cospem amizades fundamentais

e eu sou o mundo perdido


matam por dinheiro

e eu festejo o fracasso de todos vocês


meu lado é oposto

e assim me contento



* Baseado em poema homônimo escrito em 18/07/2002.

Imagem: Google

sábado, 4 de março de 2023

CIDADE FINADA, de Thiago Medeiros


 

Neste vídeo, o professor e jornalista Germano Xavier fala sobre o livro CIDADE FINADA, do escritor pernambucano Thiago Medeiros. Fique atento! #cidadefinada #thiagomedeiros #poesia #canalliterário #oequadordascoisas

quinta-feira, 2 de março de 2023

A poesia do ascensorista

*
Por Germano Xavier

Literatura é um engajar-se, Sartre vociferava. Convenhamos: há algo de verdadeiro nisso. Mas até quando seria possível manter o punho da voz firme ao sentir que “o fracasso é que a língua perde/ritmo”, como escreve o Gabriel Resende Santos, nascido num Rio de Janeiro em maio de 1994. E se o ritmo está alquebrado, a vida inteira se desmonta. Destarte, acreditar em Rimbaud e Whitman pode ser mesmo uma solução. O menino que questiona “quantos minutos tem a pétala”, é o mesmo que não conta segredos para nenhuma fúria e que sabe que todo “entendimento é um jogo de morte”.

A poesia presente em ELEVADOR tem o corpo sem acomodação, a alma sem afetações e gasta seu tempo e seu espaço tentando gritar alguma coisa no meio deste mundo de inaudíveis - habitado por um gentio estranho, muito estranho. Por tentar tal feito, já deixa a simplicidade de ser mera anotação em papel barato e ganha o status daquelas decididas palavras que nos emocionam por ou em determinado momento de nossas vidas. A poesia do garoto sobe e desce, eleva-se e se revela, releva e desvela a pessoa entrada no cubículo dos sentidos.

O efeito poético que se vê na respectiva obra brota de um ritmo aparentemente sólido e por demais amarrado. O autor trabalha o poema, não parece ser um amontoado de versos sem passado. Há sim um dito com elementos simples e modificações de forma um tanto já corriqueiras neste universo, mas talhada como escultura por mãos de quem realmente emprestou sofrimento à palavra. Como pregavam os gregos, o texto poético é aquele que cria alguma coisa, indefinida, mas alguma coisa. Eis a mais simplória definição da poiesis, conceito ao qual Gabriel se enamora em ELEVADOR.

Como não existe uma definição perfeita para a boa ou para a má poesia, os aspectos essenciais de uma obra ficam mesmo nas garras dos olhos-tempo do leitor, ser quase sempre ensimesmado que irá confrontar as estrofes lidas enquanto complementa o vago possível dos eixos em verbo com a ideia mais precisa do instante. A poesia de ELEVADOR acredita na grande beleza plástica que a palavra pode exprimir, mas não se deixa morrer neste detalhe.

Fala-se muito em mistério quando o ser enunciado é a poesia. Dá-se margem a rios de águas que correm por este mundo. Emoção demais, dizem, pode nublar a vista real das notáveis importâncias. Todavia, escrever é um passo para se sair dos labirintos – ou para se adentrar ainda mais por eles. E escrever poesia num mundo tão surdo-mudo quanto este em que vivemos soa como uma necessidade digna de aplausos. Portanto, uma salva de palmas para o ascensorista.


* Imagem:  http://www.evento.br.com/eventos-arquivo/382263/lancamento-do-livro-elevador-poemas-de-gabriel-resende-santos