segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Alessandra Barcelar e o sempre-é-tempo para a escrita (uma entrevista)



Uma conversa sobre quem se inaugura...



GERMANO XAVIER – O que a literatura significa para você?

ALESSANDRA BARCELAR - Meu contato com a literatura começou muito cedo, numa estante na casa de uma tia do interior, com uns 7 ou 8 anos de idade. Literatura, para mim, quando treino a escrita, é a possibilidade de ser outra pessoa, de ter outras vidas, estar num mundo paralelo. E isso é fascinante. Como leitora, a maior satisfação é constatar o que a literatura pode fazer a um paciente crônico, ou uma criança de comunidade, exercitando meu voluntariado em hospitais e contação de histórias em projetos sociais. Literatura une.


GX – Fale-nos um pouco mais sobre esses processos transformadores vivenciados por você a partir da literatura...

AB – Os dois projetos de leitura não foram premeditados. O primeiro surgiu de um voluntariado que eu estava fazendo, uma espécie de capacitação com pacientes soropositivos. Eu tinha uma inquietação com o ambiente fóbico das redes sociais, queria tirar do que eu lia ou conhecia algo além de uma resenha, queria algo além... Foi então que comecei a pesquisar sobre a Biblioterapia e, daí, passei a conhecer projetos envolvendo leitura em hospitais, já que é o meu ambiente de atuação, e assim começamos a trabalhar com leituras diversas para pacientes crônicos, com internações de longa permanência ou com pessoas de baixa renda e sem acesso à cultura. O resultado é maravilhoso, empatia, envolvimento. Geralmente opto por levar contos, pela rapidez da conclusão da leitura. A contação de história para crianças aconteceu em uma reunião social da rede SENAC juntamente com a prefeitura regional e ONGs... me encantei com um projeto de leitura e distribuição de livros para crianças que vivem em comunidades. Com certeza, se não fosse essa inquietude, eu não poderia estar vivenciando isso.


GX – Em sua jornada como leitora e difusora de textos literários, qual a experiência de leitura que mais te marcou? E por quê?

AB - É difícil falar de uma obra apenas, pois muitas me foram importantes em vários momentos. Mas a que me vem à mente devido a dificuldade que tive à época, já que achava um livro difícil e que foi muito importante para mim, foi Grande Sertões Veredas, pela obra, pela história, pelo dilema de Riobaldo, pela atração, pela religiosidade, pela forma de como foi contada aquela história, sem dúvida um livro para vida toda.


GX – Você, recentemente, tem conseguido adentrar espaços antes tidos como mais distantes. Como você enxerga a incursão de textos seus em algumas antologias e em outros tipos de publicações especializadas em difundir literatura? O que muda a partir de tais eventos?

AB - No meu caso, eu não via como espaços mais distantes e sim impossíveis. Sempre tive medo de colocar no papel qualquer pensamento, mesmo sendo uma leitora responsável. As incursões foram uma surpresa para mim, bem gratificante, confesso. O que muda são as possibilidades que aumentam, novos contatos, muitos trabalhos que antes não tinha noção que existiam, obras que posso trabalhar com os clubes de leituras, são mudanças que em um primeiro momento não pensei que aconteceriam.


GX – Vamos falar de predileções: Poesia ou prosa? E por quê?

AB - Prosa! Eu acredito que não tenho intimidade com a poesia, apesar de ler vários poetas como Wislawa Szymborska. E outros. Na contemporaneidade, eu não salto os olhos para poemas que nada mais são que contos pulando linha... não sei também se é algum preconceito meu, mas acabo preferindo textos em prosa. Mesmo sabendo que existe muita coisa boa na poesia. É mais uma questão de preferência mesmo, de contato com a palavra.


* Imagem: Acervo pessoal de Alessandra Barcelar.

Nenhum comentário: