quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Sobre "Onde todo tempo é breve", de Sonia Marques




Por Germano Xavier


(Cepe, 2017)


Breve é querer ir onde já estamos. Mundo pequeno demais para anseios de se ir além. Além de quê? Para onde trilhamos? Para onde apontamos nossas proas? Remada fixa em prol do Nada é a Vida? Quem sabe se? Onde todo tempo é breve: alma descoberta. Alma desnuda. Mulher que se abre feito flor, repleta de espinhos, mas doce pois Teu é o reino. Palavras de quem já viveu de verdade. Coisa rara. Palavras de se aprender. De se ensinar. De se ensaiar, também. Uma mulher que se coloca diante dos quandos, das incertezas, das brevidades. Uma mulher que se eterniza nela mesma, em sua plena condição feminina. Extremamente.

Uma mulher e sua voz. Voz embargada, por vezes. Voz dialética. Voz de rio. Voz nativa de si. Águas fundas: Sonia Marques. Que enaltece a Palavra. Que respeita a Palavra. Que se entrincheira. Que sangra desatadamente. Mulher com roteiros prontos na cabeça. Cabeça de sair. Que além de escrever, diz. De ideias simbióticas. Com dores alarmantes, que nos machucam. Que nos apresentam o fosso, ou sua possibilidade escura, gélida, esquizofrênica. Uma mulher-cuidado.

Onde todo tempo é breve: Carpe diem. A fuga para. E depois a Trégua. As tréguas. As esperas bordadas sobre a superfície das faces. As coisas que fizemos que não voltaríamos a fazer jamais. Tudo o que vira apenas carnaval. Os meses de abril em Paris, a lâmina afiada para o próximo corte. O pulso pulsando. Corpo quente em alumbramentos. O descaso de se deixar-paixão. A boniteza que há também no sofrimento. Os poetas. Os poetas. Ah, os poetas! A lua em nós todos. A velhice chegada. Recorte novo para velhas horas. A fruta estranha que brota no asfalto. A grande náusea. 

Suspeitas tantas e tantas outras crises. Medos e devaneios. Os equívocos dos emboras. A expertise. Visão horizontal. A ponta da agulha que é a ponta da escolha. Via Crucis: nascimento. queda. operância. visagem. mácula. castigo. redenção... Mulher de tantas estações em poemas compostos de circunstâncias e de exatidões terríveis. O vazio que também é virtude. O saber ser evidência, fazer barulho, manter a calma mesmo diante dos truques, dos mistérios, das palavras já ditas, das encruzilhadas do outono, da morte. Mesmo diante da vida.


2 comentários:

Sonia Marques disse...

Germano,

só agora vi seu comentário.
Muito obrigada por sua leitura.
É uma grande alegria ser lida desta forma.
Tenho um outro livro, em co-autoria com Juliana Alves, uma aluna artista plástica, ex-orientanda de Trabalho de Final de curso de graduação em Artes da UFPB. Chama-se Transparesser, homônimo da exposição da qual fui curadora. Foi editado pela UFPB. Não posso envia-lo no momento, pois estou no exterior e aguardo que a pandemia nos libere. Aguardo igualmente a publicação de mais dois livros de poesia pela Editora Trevo. Caso lhe interesse, terei muito prazer em envia-los todos e mais alegria em voltar a ser lida por você.
Um abraço virtual e poético

Sonia Marques

Germano Viana Xavier disse...

Olá, Sônia.
Muito feliz por você aqui.
Seja sempre. E já anseio grandemente por ler todos os livros mencionados.
Serão muito bem-vindos. Também tenho um canal no youtube onde falo sobre livros.
Em breve terá vídeo sobre este seu livro.

Um abraço meu baiano, daqui de Caruaru, pernambucando.