terça-feira, 7 de abril de 2020

Foi de lá que chegou



Por Germano Xavier


a manhã veio áspera. boca meio fétida. a alma parece ter sofrido durante o sono. quem sonha? quem sonha ainda? deveria ocorrer em breve. quão mínimo é máxima espera? sem paciência. arde tudo. um rubor. aqui dentro não tem brisa nem a última esperança existe. a manhã veio sem disciplina. pegou a todos. ave maria. cheia de graça. rogai por nós. alguma coisa da janela vejo e faz tudo balançar. alguma coisa para além. para ali. alguma coisa lá. baita rabisco no céu esquisito. louca besta solta. há um caminho entre meus olhos. um caminho que vejo. longo. áspero que nem a manhã. um caminho amanhecido e com cara de destino. ou desatino. meu caminho, lembrei. e o seu? qual é o seu caminho? ei, você que caminha, para onde estamos indo? o que é este caminho aí em frente? a linha nunca termina. parece jamais acabar. dentro da linha pode haver buracos. nos buracos podemos cair. o caminho é perigoso. é recheado de buracos o caminho dentro da linha do caminho. a linha pode bater numa pedra. a linha pode bater no caminho. a linha pode dar num buraco. dentro do buraco pode haver uma palavra. uma palavra ou uma esquina. aí eu nem entendo. mínima é a minha pedra. minha pedra sem linha. minha linha sem caminho. só buraco. a vida surge. não tenho caminho. tenho a palavra. e não é aqui que esta manhã termina. 


* Imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilib43IfY5k-3BRViOtJvDQJVCriIf4B9MlsCyKzdOUFRoFtfh4YwaZxmUw9lrDCuB3S5_efIYjnvwOfvp10Y8VtFvT3gom-IE0fo3WJx1S_xs-mulAcJdrp0mqoWADZkyhiKYxBGNoJQ/s1600/vento.jpg

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