Por Germano Xavier
Conto
para todos - quando tenho a oportunidade, óbvio - que saí de casa com 14 anos
de idade. Numa tarde já bem distante no tempo, esperei meu pai terminar o
expediente em seu consultório odontológico situado numa pequena cidade da
Chapada Diamantina, e pedi que escutasse o que eu tinha para lhe dizer naquele
momento. Era um pedido. “Painho, quero estudar em um lugar que ofereça uma
educação melhor do que a daqui”. Eu queria realmente sair, rumar mundo, criar
novos movimentos. Estava entrando no Ensino Médio e a hora era justamente
aquela.
Lembro-me
do meu pai ali sentado, cansado de um dia cheio de trabalho, mas escutando meu
incomum pedido. “Tudo bem, Germano, vamos pensar sobre esta possibilidade”,
disse-me, levantando-se para ir tomar o seu banho e se preparar para o jantar. Meu
pai não era de mentir. Se ele havia dito que ia pensar sobre o caso, é porque
ele realmente iria pensar sobre o caso. Aquilo me apascentava, acalmava-me os
ânimos de menino desejoso por bons estudos e um melhor “futuro”. A situação que
meu irmão mais velho enfrentava na escola estadual da minha cidade natal à
época, com muitas aulas vagas e muita falta de estrutura educacional,
fizeram-me atentar para o desejo de sair dali e querer estudar em um local mais
bem aparelhado para tal.
Sair
de casa cedo me fez aprender que o mundo é muito diferente e bem mais hostil
que o mundo existente de dentro de nossas casas, quando temos tudo ou quase
tudo que queremos, sempre muito perto de nosso alcance ou do alcance de nossos
genitores. Por falar nisso, agradeço aos deuses dos caminhos por ter tido uma
infância razoavelmente tranquila e poder falar isso aqui agora sem grandes
complicações. Mas, como eu estava dizendo, sair de casa me fez acordar para a
vida real que havia e que pulsava longe dos holofotes de minha mãe e do meu
pai.
Fui,
então, para uma cidade maior, mas ainda próxima da que eu nasci e morava. Encarei
aquilo como uma espécie de fase intermediária. Quando a barra pesava, era
sempre possível, e nada custoso, solicitar os auspícios da mãe e do pai, que sempre
foram pais incríveis e prontos para o embate, seja ele de qual natureza fosse
ou se apresentasse. Anos depois, viajei para mais longe, sertão nordestino
agora, para passar cinco anos da minha vida entre faculdades e primeiros
trabalhos. Tudo só, na companhia de alguns poucos amigos, mas geralmente só no
mundo e pelo mundo.
Estar
e ser só no mundo me proporcionou muitos aprendizados e algumas dores, também. Engolir
dores, sem dúvidas, é um dos melhores aprendizados que temos quando somos sozinhos
na jornada. Durante boa parte de minha vida, já adulto e crescido, foi sempre
preciso tomar conta das coisas todas da vida de um jeito muito semelhante aos
tempos de antanho. Coisas da vida, não? Quem nunca?
Aí, repentinamente encontramos uma pessoa que muda todos esses parâmetros. Uma pessoa cuidadosa ao extremo, que gosta de zelar e agradar, termina por fazer revolução e muda o modo como lidamos com tudo e com todos. Acredito que estar só no mundo por muito tempo me proporcionou sensibilidade suficiente para entender o valor que pequenas ações de cuidado possuem na vida do outro. Uma companhia que cuida de verdade é algo muito prazeroso, para citar apenas um adjetivo. Tem sido bom sentir novos movimentos em minha vida. Tem sido sereno e leve. Não ser ou estar só é bom também. Tão bom que já começo a esquecer como era mesmo ser sozinho ou estar sozinho. A vida não para mesmo de girar. A vida é incrível!
* Imagem: Google
3 comentários:
Texto magnífico. Ainda mais por apresentar e defender um ponto de vista bem relevante e apresentando sua vida real, sem deixar de homenagear pessoas, demostrando a importância que cada um tem em sua tragetória de vivência e aprendizado. Sempre surpreendendo.
Xavi,
Vc foi bravo lá aos 14 e encontrou "someone to watch over you" como recompensa.Enjoy!!
Tebet
Que seja eterno enquanto dure esse amor.Que dure para sempre .Que seja abençoado por Deus.Seja diferente Que tenha Alegria... Que ponha fogo em "Ambos".Quem é que não quer um amor assim. "🎼🎼🎶🎵" Alexandre Pires "
Postar um comentário