segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Florzinha (ou Um jardim-Neruda)


 

por Germano Xavier

para Débora Xavier


ela era uma doce e triste flor na aurora do Tempo

da menina-rio, ela era. mas em nova era,

uma mulher transformada no quente quarto

das esperas, como uma onça parida na ira

por seu caçador | aberta fenda no(u) corpo,

tal poética de amor - não era mais, já era.


agora, a onça, sentida em si sem dissabor, 

invoca a sanha de seu feminino terço:

doce manha a de querer, entre seus baixos lábios,

a mão, o toque, a língua, o beijo,

seu homem.


a mulher, agora, dominada,

dotada e viva de sabor, não quer outra coisa,

senão o campo das delícias, um jardim-Neruda.


a mulher, agora,

não respira, não almeja, não deseja

nada além, em sendo rica e abundante,

que sentir a caudalosidade de seu próprio mar.



* Imagem: Deviantart

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