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Por Germano Xavier e Luís Osete Ribeiro Carvalho
Texto escrito em novembro de 2005.
Certamente, falar em Escola de Frankfurt requer certa abstração e um olhar mais crítico sobre a importância dessa que foi, não só um agrupamento de pessoas pensando semelhante e com objetivos também muito parecidos, mas um movimento de contestação e de revolta. A Escola de Frankfurt desempenhou um papel fundamental tanto na discussão dos processos sociais quando na elaboração de novas ordens práticas e teóricas para as futuras gerações. É preciso enveredar-se pelos campos que enraizaram e frutificaram o nascimento da Escola de Frankfurt, assim como se apoiar em todo o seu legado. Ao mesmo tempo, deve-se aprofundar em seus maiores pensadores e suas respectivas ideologias, objetivando com isso uma análise mais sistemática acerca do assunto.
A Escola de Frankfurt recebeu esse nome porque seus principais representantes faziam parte do Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt nos idos dos anos 30 do século XX. O objetivo desse instituto era confeccionar um exame crítico da sociedade, em uma abordagem geral, como também investigar seus aspectos econômicos, culturais e de produção de conhecimento, tendo como ponto de apoio um marxismo renovado, sem conjugar fortemente os ideais historicistas e materialistas.
O grupo de estudiosos da Escola de Frankfurt exerceu uma colossal influência sobre os movimentos de contestação da segunda metade do século XX, devido à análise crítica que fez das sociedades desenvolvidas. Tal instituição foi fundada numa época bastante tumultuada e permaneceu vinculada à Universidade de Frankfurt por um bom tempo. Sua maior influência pode ser notada durante as manifestações estudantis de maio de 1968 na França. Pode-se dizer que o organizador-mor desse grupo, que se formaria tendo como base o Instituto de Pesquisas Sociais (entidade dedicada à pesquisa interdisciplinar entre filósofos, sociólogos, estetas, economistas e psicólogos), foi o filósofo alemão Max Horkheimer.
O Instituto de Pesquisas Sociais, que tempos depois passaria a ser conhecido como Escola de Frankfurt, lançou os fundamentos da Teoria Crítica, ordem de expressão e de pensamentos que designa um conjunto de ideias acerca da cultura contemporânea, onde se tomavam como fortes bases os ideias do marxismo e da psicanálise, porém deixando aberturas para as influências que o pensamento (em constante movimento) exerce sobre as premissas teóricas.
O Instituto de Pesquisas Sociais (Escola de Frankfurt), constituiu-se como sendo o núcleo de uma linha original de pensamento filosófico-político desenvolvido por Walter Benjamim, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Wilhelm Reich, Jurgen Habermas e Theodor Adorno. A teoria crítica proposta por esses pensadores se opõe à teoria tradicional, que se pretende neutra quanto às relações sociais. Ela, por sua vez, toma a própria sociedade como objeto e rejeita a ideia de uma produção cultural independente da ordem social em vigor.
O pensamento desenvolvido pela Escola de Frankfurt pode ser divido em estágios ou fases. Em sua primeira fase, que contou com a presença marcante da figura de Max Horkheimer, houve a exposição de um pensamento multidisciplinar, que em filosofia era antimetafísico e antipositivista e, sob o aspecto social, anticapitalista. Partilhavam, aqui, da ideia que o progresso econômico tinha como contrapartida a massificação e a perda da individualidade. Propunham a transformação da sociedade capitalista num socialismo fundado na razão e na liberdade, e que assegurasse o bem-estar de todos.
A segunda fase da Escola de Frankfurt teve um caráter mais pessimista, e ocorreu depois da Segunda Guerra Mundial. Quando falamos em pessimismo, devemos levar em conta que essa foi (senão) a única forma de agir, posto que houve a instalação de uma guerra e de um terror stalinista que deixou profundas marcas no pensamento marxista. Fora justamente nessa época, também, que o sistema capitalista de produção demonstrou uma gigantesca capacidade para assumir suas próprias contradições e para anular todo o pensamento crítico e todo o movimento de transformação do regime.
O principal expoente da terceira fase de construção de pensamentos foi o filósofo e crítico musical Theodor W. Adorno que, passando por diversas vertentes do marxismo, fogiu a toda e qualquer afirmação positiva. Para os pensadores dessa etapa, toda expectativa de solução ficava em aberto, inconclusa diante da realidade, e o progresso trazia em seu bojo uma regressão, pois conduzia o homem a um “mundo administrado”. A alternativa para a atual situação era a defesa do indivíduo e do particular, que escapam à violência da dominação, e a arte que, em seu não-hermetismo, permite escapar à uniformização e aos convencionalismos sociais.
Apesar de ser uma instituição de objetivos únicos, por vezes a Escola de Frankfurt se mostrou descentralizada. Nos outros estágios de desenvolvimento científico, buscou-se renovar o pensamento da “escola” à luz da epistemologia contemporânea e consideraram necessária uma revolução do marxismo. Jurgen Habermas e Hebert Marcuse foram os maiores representantes dessa fase que, entre outros ideais, denunciou o caráter repressivo da sociedade industrial e pregou transformações revolucionárias tanto nas instituições sociais como nas atitudes do homem. Foi aqui, também, que se acusou a sociedade capitalista de criar necessidades de consumo artificiais e incessantemente renovadas, mediante a manipulação das consciências pelos meios de comunicação de massa, fonte do conformismo.
Inúmeros pensadores influenciaram e foram influenciados pela Escola de Frankfurt, entre eles filósofos, psicólogos e artistas os mais diversos. Porém, vale ressaltar a maior importância de quatro pensadores, que são, a saber: Walter Benjamim, Theodor W. Adorno, Max Horkheimer e Jurgen Habermas. Sabe-se que muitos desses estudiosos deram a vida pelas causas propostas e debatidas pela Escola de Frankfurt, todavia é no intento de tentar esclarecer alguns pontos fundamentais das teorias elaboradas por estes pensadores que se dá ênfase aos nomes aqui citados.
* Imagem: http://www.deviantart.com/art/Industrial-air-conditioner-160296567
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