Por Germano Xavier
(Cepe, 2015)
Portugueses em Igarassu.
O Construtor constrói. A vida. A Boniteza. O Tudo. O Nada. No princípio, era o Vazio. Havia o silêncio. Havia o instante. O princípio mesmo. Uma árvore que estaria ali para ser frutificada, imersa no matagal das Coisas. Aí inventaram, de cara, a espada e a besta. Exalou-se uma amplidão perigosa por todos os muitos cantos. Foi preciso bússula. Começaram a andar de forma torta, os mistérios deixaram de ser resolvidos. Ninguém mais soube em que porta entrar. Todos os nomes se expandiram em místicos sinais.
Andou-se no escuro.
Vestidos de sono, adentraram matas. Quem não acompanhou, ficou para trás, apagado na escuridão do caminho. Usaram a lâmina sangrenta como lume. Vestiram o futuro de dor, de lágrima, de choro, de lamentação. Índio dormiu quase-nada, quase-nunca. Aceso que nem fogueira, vigiou. Difícil lida. A grande Ausência vagueou. Vagabundos. Geraram amarras e gritos. Geraram prisões. A Linha do Equador não suportou o peso dos corpos.
Rompeu-se.
O oceano despenteou um mar de fomes, misérias. A Construção não cessava. Não cessaria, jamais. Era foice eterna. Cabeça nativa era a sede das guilhotinas. Ave Maria, cheia de Graça! O Senhor é convosco? Pernambuco penetrado. Dupla penetração. Gozo. Sagrado profanado. Portos singrados. A língua era a do mal. O entendimento era via única. Manipularam resultados. O exame deu um só: Corpo Morto.
Embaraçoso.
Emaranhou-se. Nau. Captura. Surpresa. Virgindades. Virilidades. Atrocidades. Mulher e cria em fuga. Tormento. A palavra, de que vale? De que vale um resto de linguagem?
Máquina de escombros nascendo. Manjedoura.
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