Por Germano Xavier
(Cepe, 2017)
É por meio do Tempo que a persona quase-única que atravessa todos os contos do livro "Dancing Jeans – Baixo Augusta e outros contos", de Milton Morales Filho, se ancora, incurável em sua rebeldia e sua perdição. Atmosfera neon tem a obra. Fala-se de vivos e mortos. Calabouços modernos são os pequenos espaços por onde transitam pessoas aparentemente comuns. Dancing Jeans, no livro, é uma espécie de Pasárgada de mesma falta de austeridade. O paraíso perto dos olhos, das mãos e dos sentidos.
O Tempo é índigo, colorido para o homem, mas avesso à memória. Figura-se, até o cenário-escada, vivaz em excesso. Tudo é pó. Tudo é poeira. Tudo é pós. Como se existisse uma lua original sob a qual planetas orbitam, flexíveis. A melancolia é um poço. A fossa do cotidiano é quase palpável e, indubitavelmente, sem controle. "Dancing Jeans – Baixo Augusta e outros contos" têm no seu razoável grau de marginalidade um trunfo, por onde autor e obra se encaixam, tal qual um encanto ingênuo e surreal.
Paralelismos. Condutas bifurcadas. Marés de concreto e luzes artificiais. Caminhos que nos percorrem por estradas já revistas. As nossas histórias sem esconderijos. O livro do Milton termina sendo um reduzido guia de instrução para aquéns nada imóveis, para superfícies que possuem o poder de nos transformar em futuros ainda que incertos, como aquilo que tende a acontecer de supetão e nos revela o dia. Para ler com economia ou voracidade. Como quem espera um depois.
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