por Germano Xavier
O Absoluto vazio de Versalhes
"Versalhes é logo ali", para quem sai de Paris.
a manhã era fria e por isso levei um casaco comigo.
observei pela janela do ônibus a grandeza do velho castelo.
desci e tomei a fila. era imensa. o sol começava a apertar o juízo.
"este era o pouso do Rei Sol, não é para menos", balbuciei.
diante do frontispício daquele antigo e reluzente pavilhão de caça, não
era difícil encontrar presas humanas, todas apreensivas e curiosas.
o capital adora a França em certos lugares (ou seria o contrário?) e
a realeza francesa era no mínimo extravagante.
portões abriram-se para mim.
logo o Grande Trianon, as alas, a Capela
e a Galeria dos Espelhos, os quartos dos monarcas,
seus segredos, suas artimanhas políticas, suas vozes de ouro,
suas gulas e invencionices, todo um percurso
marcado pelo reduzido dos espaços lotados
e das cordas de contenção.
lugares como Versalhes explicam o motivo da humanidade
estar assim na atualidade, perdida em infinitas perdições.
na perdição das injustiças, das desigualdades, na
perdição das dúvidas e das dores, na perdição
das solidões e das intolerâncias, na perdição
dos medos.
quando desemboquei nos jardins do palácio, respirei
todo um organismo matemático que me libertou
pela metade. as contadas horas me conferiram belas vistas,
mas também não me avisaram sobre os perigos do labirinto.
eu havia encontrado Borges em Versalhes
e aquilo me renderia uma memória eterna.
desejei possuir mais horas ali dentro, confuso
entre a visão de um corvo na grama do parque
e o Apolo na fonte do Tempo a me apressar.
"Versalhes, este vazio Absoluto é toda a história que tens a contar?", me perguntei.
a voz era interna e afeita ao nada.
não esperei por uma resposta.
fui o último a entrar no ônibus que me devolveria à Paris.
(Versalhes, manhã de 13 de junho de 2017)
2 comentários:
Ah, não vejo a hora de andar pelas ruas de Paris e buscar seus versos nelas.
Muitas saudades dessas viagens, Rozana.
Paris é fantástica.
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