quarta-feira, 16 de junho de 2021

Vaqueiro da cara lascada


 

Por Germano Xavier


uma homenagem a Zé do Mestre, 

à Pega de Boi Elizeu Xavier (meu avô), de São Bento do Una-PE, 

e a todos os vaqueiros do mundo



vaqueiro de verdade é o da cara lascada,

que destripa a caatinga e rasga todos os portais

da seca, da imensidão: seu ofício e seu lar.

no meio de coronéis e lampiões, vai definindo

o vento áspero dos mil Gerais.


vaqueiro veste a serra, o morro e o gibão,

traja o perigo e o couro dos animais rurais.

nas feiras marca o adorno, costura o ritual dos santos 

de proteção. vaqueiro sovela o sol,

vaza o dia e molda a noite.


e no limiar dos sertões, o peleiro 

o aguarda para remendos encourar, quando 

Senhor Bom Homem e São Crispim tecem 

as novas coragens.


repasse imortal do mestre gonzagueando

sábados de criação. vivo é o passo do pai nas 

mãos do filho. perneira, guarda-peito, chapéu e luva...

a peça quase inteira se da peste não for

o indumentado cabra, se da cara lascada não for

o bendito vaqueiro.


* Imagem: http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2013/12/exposicao-no-recife-retrata-universo-do-artesao-ze-do-mestre.html

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