sábado, 1 de janeiro de 2022

Sobre "Elogio do Carvão", de Marcus Vinicius Quiroga


 

Por Germano Xavier


O livro vencedor do I Prêmio Cepe Nacional de Literatura 2015 na categoria Poesia, intitulado de ELOGIO DO CARVÃO e escrito pelo carioca Marcus Vinicius Quiroga, é inteiro entrecortado e/ou baseado no poema "Meninos carvoeiros", de Manuel Bandeira. São, ao todo, 14 atravessamentos poéticos em diálogo direto com o consagrado poema do autor recifense. Quiroga entoa, de início, uma espécie de loa ao Grafite, à escrita, ao poder que a palavra tem de simplesmente dizer verdades e de pintar realidades. O grafite, que tanto escreve o rosto do pão quanto a quentura gélida das fomes. O grafite, que é, na verdade, o que incomoda, o que fica - o carvão do grafite. Depois, rasga com os dentes do verso o pão. O pão que adia a morte por um dia de uma vida extrema. O pão que divide a noite e o dia sem lua calma. Os meninos são, pois, como espantalhos. Quem são estes homens? - pergunta o poeta. Homens-escória, homens-peste? Todo espantalho é sem rastro, a não ser o do abandono. Uma conclusão? E a velhinha do poema do Bandeira? Quem é ela? Ou quem terá sido? A que vive vidas outras? A mulher na rua. Carvoero é o Tempo. Carvoero. Assim mesmo, sem o i. A língua própria dos carvoeros. Animais. Animais que não apelam. Para nada. Simplesmente vão. Animais que fazem. Serviço sujo. Relho. A dor de quem bate. E novamente o Pão. Pão de joio. Meninos. Carvoeiros. Meninos morcegos. Cangalha. Na cangalha guardam a rudeza da vida. Meninos que dão vários gritos de dor. Lenha. O fogo estancado. Viver. Sobreviver. Tarefa que nunca acaba. Remendo. Roupas de circo. Quem é o palhaço desse circo? D'après Portinari. Sob o ângulo do grafite, um sorriso distante dentro do horizonte da poesia.


* Imagem: Google

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