segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Sobre "Estudo do texto: "De como fazer filosofia sem ser grego, estar morto ou ser gênio", de Gonzalo Armijos Palácios", escrito por Ana Lúcia Sorrentino


 Por Germano Xavier


"Aqui no Brasil a gente é estimulado a não filosofar e você sabe disso". Movida por uma espécie de revolta interna, já que "os professores não deixam os alunos produzirem, os professores querem que a gente comente o comentário do comentador", a filósofa paulista e amiga de longa data Ana Lúcia Sorrentino escreveu o seu "Estudo do texto: "De como fazer filosofia sem ser grego, estar morto ou ser gênio", de Gonzalo Armijos Palácios", em um interessante diálogo com o texto do Gonzalo. 

Nele, inúmeros temas intrínsecos à filosofia são trabalhados de forma simples e objetiva, a começar pela falta de liberdade que estudantes da área possuem para se produzir filosofia no Brasil atualmente. Sorrentino critica "a necessidade de se ficar lendo comentadores", num perde-ganha eterno dentro do jogo de palavras entre os variados comentadores de uma teoria ou de um filósofo em questão, ao invés de ser dar importância à dada opinião ou se focar em um pensamento minimamente original. Ainda dentro da esfera acadêmica, a filósofa escancara a falta de aceitação por parte dos professores, que teimam em refutar essa "particular" opinião. "Mexer com o filósofo consagrado é muito difícil. Enfrentá-lo, digo. É muito difícil contestar um filósofo consagrado, mas a gente precisa defender sempre o pensamento próprio".

Em sua análise, Ana Lúcia Sorrentino explica que é preciso fazer exatamente aquilo que os gregos fizeram. "Eles transgrediram, foram rebeldes, falaram o que pensavam", reforça. "Sendo assim, a língua não deve ser um empecilho para se filosofar. É possível e extremamente viável filosofar em língua portuguesa". A  filosofia é para quem? Para a elite que pensa? O que fazer para a filosofia chegar mais perto de todos nós? A filosofia é para eleitos? E por que escrever filosofia de forma tão difícil? Acabar com esse entrave referente à língua é, pois, primordial. Para Sorrentino, de acordo com o seu ponto de vista, somente olhando para o problema e pensando a partir do problema, ou seja, pensando a partir da própria realidade, é que a filosofia poderá sobreviver.

"Assim como comentar arte não é ser artista, comentar filosofia não é ser filósofo", diz o Gonzalo no texto esmiuçado. Em cima disso, Sorrentino se posiciona ainda mais veementemente. "O filósofo perdeu a espontaneidade, pois não está imbricado na própria realidade. Quem disse que o brasileiro seria incapaz de filosofar? Quem prova tamanha indelicadeza?" A autora preconiza que, para fazer filosofia, não é preciso seguir cartilha alguma. Basta apenas filosofar, filosofar de verdade.


* Imagem: Google

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