domingo, 23 de maio de 2021

Poemas estranhos e estrangeiros (Parte VIII)


 

Por Germano Xavier


Em terras de Hergé, mas em busca de Marx


ainda era cedo quando pegamos a giratória do Arco do Triunfo

para um último aceno a Paris. logo Saint-Denis, o Charles de Gaulle,

a Picardia, Champagne, as proximidades da Amiens de Verne, A1, E19,

até um pouso calculado no Atomium.


Bruxelas me recebeu com flores e bastante discrição.

a catedral de São Michel e Santa Gúdula aclimatava a paz 

dos meus primeiros passos em solo belga.

ali, nas imediações da Rue d'Arenberg, dobrei e investi passos

por dentro das Galerias Reais Saint-Hubert.


parei por um instante para prestigiar uma moça que cantava lindamente

o que parecia ser uma canção autoral. o som da gaita me cativa.

peguei em diagonal até à Rue de la Colline. Tintin de Hergé 

ali poderia ser encontrado e um tempo fiquei.


enfiado por entre as gentes, me fiz andar e logo se abriu para mim

a estonteante Grand Place, considerada por alguns especialistas viajantes 

a praça mais bonita da Europa e, quiçá, do mundo. depois de vários rodopios 

nas vistas, fixei no Le Cygne. reza a lenda que foi dentro daquele modesto estabelecimento

que Marx e Engels pensaram e escreveram o Manifesto do Partido Comunista.

estar ali, por tudo, era incrível. a gente acaba sentindo um pouco

daquela aura histórica só de respirar nas proximidades dos fatos

e dos sentidos.


havia uma felicidade diferente em mim.

imaginei toda uma memória de reuniões proletárias e de luta 

e de enfrentamento. a poesia do socialismo pairava no ar em meio 

a tantas narrativas inversas presenciáveis sem nenhum esforço.


após aquele meu natural deslumbre,

toquei a estátua Everard 'T Serclaes, experimentei uma das famosas guloseimas

belgas e ao lado do Manneken Pis sorri sorrisos de liberdade.


a tarde era um destino repleto de guildas.

encostei minhas costas nas paredes do imenso Hotel de Ville 

e simplesmente fotografei o Tempo.


(Manhã de 14 de junho de 2017)


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