Por Germano Xavier
Eu acordei meio grogue. Não dormi bem, o que não é nenhuma novidade. Levantei. Quase uma vertigem. Libei um gole d'água. O cobertor estava no chão, o travesseiro todo amassado. O ventilador girando lento no quarto abafado. Meu irmão resfolegando seu sono de seixo.
"2010 acabou", disse alguém. E aquilo me soou estranho. “Como assim, acabou?”, perguntei aos meus botões. “E tudo que aprendi "naquele" ano, também se acabou? E a lembrança de certas coisas que fiz em 2009, não existe mais? Os 187 livros que li - batendo meu próprio recorde, que foi de 172 em 2006 -, não valeram de nada? As inesquecíveis viagens de moto que fiz por aí, cortando O LUGAR MAIS LINDO DO MUNDO, também sublimaram? As pessoas que conheci, os suores que senti, os aprendizados, as aulas que lecionei, os poemas que escrevi... tudo isso, "acabou"?”, insisti.
Não arrumei a cama, fato insólito. Caminhei pelo corredor, fui ao banheiro. Meu pai já havia acordado. Minha mãe ainda estava deitada e pronunciava meu nome imperativamente: “Você não disse que ia viajar hoje?", bradava. Respondi que sim.
Estava de malas não-arrumadas. Destino: Algum Lugar. Decidi isto, desde que entrei de férias. Preciso espairecer a mente, pois 2010 não foi um ano fácil. E se escrevo este texto, neste exato momento, é porque perdi o ônibus que passa aqui pela manhã com destino a. Mas, tudo bem, o tempo passa e não existe apenas um ônibus no mundo. Vou sozinho, levando na mochila um livro.
Eu não sei onde quero chegar escrevendo este texto, mas sei que não é no que é "acabado". Quero, sim, que ele seja recomeço, que balbucie ventanias por mundos distantes, que me sirva de alento sempre, que me encaminhe por paraísos não descobertos nesses idos iniciados novamente. O que eu quero, na verdade, é que seja ele, só. Um texto, por simplesmente ser ele mesmo, e que eu, aqui, o seu escritor, pudesse calçar palavras por muitos "onzes" que, sei, ainda vingarão.