domingo, 19 de agosto de 2018

O que cabe nas paisagens de Amâncio Siqueira?



Por Germano Xavier



Um homem encaixota-se por inteiro. Fiquei fitando a capa por um certo e também desregulado tempo. Belíssima imagem. Só pela capa já valeria o livro, já valeria possuir o livro. Trabalho sensacional da Cepe Editora, como já é de praxe por lá. Encaixotado, aquele homem parte para seu destino incerto sem saber se aguentará suportar o peso de suas caixas todas penduradas pelo corpo. O mundo é uma surpresa. O corpo parece até suportar o peso e o possível medo do caminho, mas o caminhar é lento, talvez certeiro, talvez decidido. O suportar parece até ganhar corpo, mas é um ganhar trôpego, como que sem a totalidade do vigor vital. A alma, no fundo, se engrandece e vai, porque acredita. E segue. O homem segue. O homem que é, essencialmente, realidade e sonho. Repito: o homem segue, seco, sem cessar. Passadas firmes, apesar de curtas. Segue como a escrita de Amâncio Siqueira, escritor que se consagrou como sendo um dos vencedores do V Prêmio Pernambuco de Literatura, hoje conhecido por Prêmio Hermilo Borba Filho de Literatura, que tem revelado bons nomes no cenário literário dos quatro cantos pernambucanos. Nem tudo cabe na paisagem, compêndio de contos escritos por Amâncio, é um exemplo da qualidade das letras confeccionadas e difundidas nestas paragens. Aqui, na prezada obra, o leitor se envereda por pequenas viagens e por resolutas descobertas, dentro ou fora das personagens, estando completamente imersos ou não nos cenários. Nada de descobertas magnânimas ou escandalosamente devastadoras, mas descobertas simples, porém pujantes. Tornamo-nos, até, Socó Pombo, uma tal persona a nos remeter a um outro tal de Joe Gold, personagem real contado e recontado pelo grande jornalista norte-americano Joseph Mitchel, ícone do New Journalism, assim como embarcamos em cicatrizes, passados, confissões, vinganças, intrigas familiares e outras incandescências e/ou errâncias mil. Nem tudo cabe na paisagem cabe dentro de uma tarde de leitura, sem grandes embaraços estilístico-estéticos nem dificuldades semânticas de outras ordens. O livro é, com extrema sinceridade, de uma honestidade encorajadora. Pode não ser primaz, mas conquista.


* Imagem: http://blogaugustocesar.blogspot.com/2018/04/divulgacao-companhia-editora-de.html