domingo, 29 de setembro de 2013

Olhos no Velho Chico


Por Germano Xavier

Gosto de olhar para o rio quando ele fica verde. É como se ele dissesse “olhe, estou quase da cor do teu olhar”. O rio está presente em mim, e sempre sonho morrendo nele, um dia, morrendo, caudalosamente morrendo. Silenciosamente morrendo, como se morre com a bebida de Dioniso. Morrer para viver. Acredito. Morrer para viver, acredito. A bem da verdade é que não tenho o verde ocular tão claro quanto o verde do rio, mas na luminosidade da metade do dia, meu olho quase que se transforma – ou seria transporta? – num pedaço d’água do São Francisco e se inunda dele, nele, como se os dois estivessem a combinar um encontro nada casual. Quando atravesso a ponte, é como se o rio me permitisse a passagem para um lugar belo, onde tudo seria naturalmente leve e verdadeiro. Não quero aqui entrar em maiores explicações, mas hoje não olhei para ele como quase sempre faço, namorando-o. Eu quis assim, jamais sendo indiferente a ele. Mas percebi o verde bonito de tuas pequenas ondas. Foi bastante para que minha alma fosse abençoada. Não é bom perturbar sempre os deuses assim, de forma tão gratuita, ainda mais quando estão em suas sestas acobertadas pelos dourados raios de luz do astro-rei. Estou melhorando como mesmo. Todo dia faço questão de me matar e todo dia faço questão de nascer de novo. Estou gostando dos resultados. Quem sabe eu esteja no caminho certo. Se não, tenho uma certeza: a de que estou no bom caminho errado. E, de uma forma ou de outra, sigo tentando...

sábado, 28 de setembro de 2013

Se a nossa rua fosse minha

Imagem: Deviantart
Por Germano Xavier

haveria uma dor nela
impregnada e sutil
toda vez que regressos fossem
o dito

um fosso o de ir
um poço
uma fossa aberta
seria a demora
e a espera

pularia muros íngremes
invadiria quintais alheios
roubar-te-ia flores do jardim da senhora amena
para te dar quando chegasse ao poste
eu
um vadio amante
navio em você-porto

sul
sul o de querer
norte
norte o de correr

se a nossa rua fosse minha
para acabar de ser tudo o que quis
partiria em disparada
alucinado em alva visão e planificado
em teu sorriso
uma rota

para deixar que o setembro não cessasse
a morte contínua de não ser dois
esquecendo da vida
perdida entr'as mãos

se minha fosse a nossa rua
tal mina em chão entrado
eu
pobre coitado
inverteria sinais e poria o trânsito ao acaso
para caso de um ne me quitte pas
em cor vermelha de saudade

um chamado
(imagino a ânsia)
a correria a alegria o afã a doce loucura de uma corrida
atletismo de amor
vencendo os medos do caminho
as agruras cinzas e os pássaros que uivam na noite

simplesmente
se fosse minha a nossa rua
não seria nua a lua vestida em desassossegos
e mucos de nós-boca e brandos vãos
mereceria outdoors de nós-nunca-um-não
um tão sequer segredo
o de ser um passo apenas
uma dobra a menos
um quarteirão quebrado
uma esquina para trás
uns portões deixados e um sino na mão
plim-bom

- oi, ar-dor!

Bocas


Por Germano Xavier

Bocas!
Para que servem as bocas?
Serão elas, as bocas,
as tão procuradas armas de destruição em massa
que tanto esgotam a sensatez das potências mundiais?
O que são bocas?
O que faz tua boca?
Você controla a boca na tua boca?
Serão elas, as bocas, as portas para o infinito distante,
para o mistério das coisas?
Bocas!
Para que usamos bocas?
Bocas seriam nossas docas,
portos, belvederes?
Cais, bu-cais?
Bocais?

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Ampliação e revista, uma mesura apenas


Por Germano Xavier

um barulho em mim soa
impávido, afoito
se alonga indecente
no fundo do olhar e
no último lampejo meu
antes do golpe terminal,
decisivo.

uma ostentação toante,
sem decoro nem moral,
sufoca-me por ser de base enigma.
na marquise esse ruído não está,
não espera cair para tombar também
sobre ela
e talvez desaparecer?

não apaga, não dorme, não descansa.
(qualquer indício de decrepitude
mistura-se à água suja da chuva
que vem descendo e dobrando todas as esquinas).
e simplesmente, sutilmente, some.

um fragor-tumulto,
um vulto que explode sobre o branco
do papel:
meu ectoplasma?
insiste, ele,
eles todos juntos,
a hecatombe,
a transformação das velhas graças
das velhas caras...

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Amanhã-Tempo


Por Germano Xavier

é preciso subir
bem alto
prestar atenção
no que sobe
no que se alonga
no que se afila
é preciso subir
bem mais alto
que o mais alto arranha-céu
correr
correr sempre
correr procurando
o ponto de início
da subida
semear ininterruptamente
o amanhã alto
o amanhã-tempo
que só faz sumir
sumir
sumir

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Aberturas para o intratável



UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
CAMPUS PETROLINA
UNIDADE DE ENSINO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

CULTURA POP E A LITERATURA DE CAIO FERNANDO ABREU:
ABERTURAS PARA O INTRATÁVEL


PETROLINA
2009

GERMANO VIANA XAVIER

CULTURA POP E A LITERATURA
DE CAIO FERNANDO ABREU:
ABERTURAS PARA O INTRATÁVEL


PETROLINA
2009


1 - INTRODUÇÃO

Caio Fernando Abreu, jardineiro, está dando risadas onde quer que esteja enquanto escrevo este texto. O sorriso dele é tímido, cínico, afetuoso, cinematográfico, teatral. Há em seus dentes um certo branco de ironia, tão natural quanto a vontade de viver que lhe corrói os ossos. Caio Fernando Abreu, jardineiro nascido em Passo de Guanxuma – sua Macondo, a la Gabo -, hoje Santiago do Boqueirão-RS, é daqueles raros exemplares humanos que sabem muito bem cuidar dos seus próprios espinhos, das suas próprias ervas daninhas, de suas respectivas arestas ou protuberâncias. Poucos jardineiros souberam sulcar a terra do seu jardim com tal zelo e devoção quanto ele, que afastava pacientemente as saúvas e eliminava todos os caramujos ruins das proximidades de seus girassóis, tão girantes e ensolarados.

Caio Fernando Abreu, o outsider, o escritor Pop, o jornalista e o jardineiro, é um menino que não segue a ordem natural das coisas, da vida. Um garoto que morre, nasce, cresce, morre novamente antes de viver, recresce, desmorre um pouco, trabalha, alegra-se, enfadonha-se, vive, morre, morre, vive, vive, ama, odeia, ama... Homem avesso, mulher mergulho, homossexual hetero. Caio Fernando Abreu não é uma imagem definitiva, tampouco poderia almejar ser. Mas é um homem ao todo, fragmentado e unido num panorama maior: sua caminhada.

O escritor de Morangos Mofados e Os dragões não conhecem o paraíso, sem grande esforço, leva-nos a percorrer todas as glórias e todos os fracassos de sua curta-longa vida. Artista das letras que queria estar sempre no olho do furacão, envolvido com o seu tempo, principalmente usando o seu tempo até onde desse, até onde pudesse, mas que também era capaz de se esconder de tudo por dias a fio e cultivar a roseira do silêncio mais profundo.

A escrita Pop de Caio Fernando Abreu pode ser resumida como sendo a perspectiva de um ser humano ao extremo, que muito amou, muito mesmo – ou não. Que conjugou o verbo-mor amar com muita facilidade, com muita dificuldade, misturando desapego e fome. A linguagem de um magricela obeso e genial, de voz fina e grossa, de um profissional errante, de um viandante global desacostumado a acostumar-se com qualquer um ou qualquer coisa. Homem sem casa dono de todos os territórios, de um poeta do conto, de um cronista romântico e dramático, de um ator de si mesmo, assassino feliz de sua própria vida, autor que burilou sua morte com a foice mais cortante.

Amigos, influências, viagens, idas e vindas, trabalhos, anos 70 e 80, drogas, serenidade, amores e desamores, desilusões e alegrias, encontros e desencontros, de tudo um pouco a obra de Caio Fernando Abreu aborda. Sendo que no fundo de tudo isso, a presença sombria da AIDS pervaga o enredo de seus textos nos últimos dias de sua vida. Eu sei que ele está dando risadas agora por eu estar escrevendo isso, como também sei que está muito feliz porque ele sabe que não sou um fã de Caio Fernando Abreu, mas um amante, do jeito que ele sempre quis, que fôssemos amantes dele e não tietes.

Caio está vivo como até hoje vive o jardim que ele deixou no bairro Menino Deus, lá em Porto Alegre. Vivo como a alma deixada na Casa do Sol e na Casa da Lua, moradas da amiga e poeta Hilda Hilst, como as pegadas registradas em solos (estranhos?) estrangeiros, como a escrita de verdade no primeiro time de jornalistas da revista Veja – ainda no tempo em que era uma revista e não essa coisa que é hoje -, como tanto, com tantos...

“Você é Quixote. Você é Quixote, Caio” – dizia Clarice Lispector quando ao lado dele numa manhã de autógrafos.

2 - JUSTIFICATIVA

Este projeto discorre sobre as prováveis nuances ou marcas lingüístico-textuais que situariam a obra do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu no que hoje se convenciona chamar de literatura Pop. No intuito de operar um exercício de organização e aferição de informações histórico-narrativas presentes em contos, novelas, peças teatrais e crônicas, entre outros gêneros utilizados pelo autor referido, aliando a isso uma espécie de confrontação dos dados adquiridos com os instrumentos da análise e da criação literária, o presente estudo entra em contato direto com o espectro da formação identitária dessa determinada “escola” artístico-literária.

Na tentativa de eliminar características que se apresentem flexíveis dentro de mais de uma “escola”, busca-se, aqui, vislumbrar o que há de mais intrínseco ao universo da literatura Pop. Constituindo-se de alguns sustentáculos primordiais, como por exemplo o estudo sobre a origem do termo, seus precursores e mais importantes obras, assim como seu atual estágio de desenvolvimento dentro do panorama literário brasileiro e mundial, a dada pesquisa projeta, ainda que de forma resumida e inicial, a possibilidade de, utilizando-se dessa estirpe literária, construir um campo de maior problematização e discussão, dentro do ambiente escolar, referentes às temáticas sociais e humanas verificáveis na obra de Caio Fernando Abreu.

A significação do tema escolhido, sua novidade, sua oportunidade e seus valores acadêmicos e sociais são evidentes, haja vista o parco acervo documental-histórico concernente à questão da literatura Pop em território nacional, aos seus sintomas e suas maiores demandas, tanto no que tange à esfera da própria academia quanto ao debate social. O trabalho, desse modo, ganha peso e importância, pois servirá como mais um instrumento oportunizador de condições igualitárias de acesso indiscriminado ao contexto informacional ao qual está ligado. A dificuldade em encontrar apoio material acerca da literatura Pop, principalmente na região do Vale do São Francisco, pode fazer com que haja um certo distanciamento entre gerações, impedindo a fundação de um espírito de coletividade e dificultando a apreciação mais justa dos diversos assuntos constituintes da ordem social.

Num plano maior, o presente projeto corrobora a idéia de que ainda é tempo de melhorar o panorama educacional do nosso país. E é atuando no ambiente social, munidos de todas as ferramentas necessárias – a literatura é uma delas -, que poderemos obter resultados mais satisfatórios e que nos preencham de uma esperança imensa no potencial humano transformador.

3 – PROBLEMA

O problema central desta pesquisa, haja vista as diretrizes já enfatizadas na justificativa, volta-se para o seguinte questionamento: que aspectos e características aproximam o livro Morangos Mofados, de Caio Fernando Abreu, do universo da cultura dita Pop?

Embora o foco principal esteja voltado para a obra Morangos Mofados, o conhecimento que envolve a cultura Pop e a literatura faz-se necessário para o entendimento da obra em questão. Para tanto, alguns questionamentos direcionam o campo de estudo até chegarmos ao ponto crucial: O que seria Cultura Pop e Literatura Pop? Como surgiram? Que acontecimentos históricos marcaram o início do gênero na literatura mundial e brasileira? Que características podem ser definidas como pertencentes à literatura dita Pop e como elas são trabalhadas nos textos/contos do livro de Caio Fernando Abreu?

4 - OBJETIVOS DA PESQUISA

4.1 - OBJETIVO GERAL

a) Identificar, a partir da análise do livro Morangos Mofados, de Caio
Fernando Abreu, elementos inerentes à cultura pop.

4.2 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Identificar variantes conceituais conexas ao termo Pop, tendo como base as teorias pré-existentes;

b) Investigar os aspectos sócio-históricos que ajudaram a fundação do termo Pop, assim como suas ligações com a literatura;


c) Compreender a inserção da obra Morangos Mofados, de Caio Fernando Abreu, no contexto da literatura dita Pop;

d) Verificar, a partir de análises textuais, a presença de elementos lingüístico-temáticos essenciais ao universo da literatura Pop.

5 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Em entrevista concedida ao doutor em letras pela PUC-RJ, Marcelo Secron Bessa, em 1995, o escritor gaúcho Caio Fernando Abreu declara: “Acho que sou uma figura um pouco atípica na literatura brasileira (...) Na minha obra aparecem coisas que não são consideradas material digno, literário (...) Mas deve ser insuportável para a universidade brasileira, para a crítica brasileira assumir e lidar com um escritor que confessa, por exemplo, que o trabalho do Cazuza e da Rita Lee influenciou muito mais do que Graciliano Ramos. Isso deve ser insuportável. Você compreende? Isso não é literário. E eu gosto de incorporar o chulo, o não-literário.” Retrato de uma nova ordenação ideológica no mundo das letras e da cultura, de um caminho de inovações e renovações mais visivelmente trilhado a partir da década de 80:

“Desde a década de 1980 a arte pop se tornou um topus recorrente no reexame da ideologia da modernidade, este balanço a que a antevisão precoce do desfecho do século XX compelia, em face do recrudescimento do contencioso político, econômico e social que se acumulara no processo de exaustão de mais uma era de modernização.” (SALZSTEIN, 2006)

A fala do escritor gaúcho reforça a existência de um mecanismo classificatório muito antigo. Estabelecer parâmetros para que a abordagem de determinados assuntos aconteça obedecendo-se a uma linha mais uniforme dentro dos diversos segmentos do conhecimento, sempre foi um dos preceitos da sabedoria humana e, porque não dizer, também um recurso demasiado polêmico. Com a cultura e a literatura não foi diferente. A partir do momento em que, dentro de seus respectivos universos, foram surgindo bifurcações, rotas com características diferenciadas entre si, fez-se inevitável a efetuação de uma classificação/nomeação de ordem sistemática, tendo como ponto de apoio os elementos basais que as norteiam.

É justamente dentro desse esforço estratégico e intelectual do homem que as nomenclaturas denominadas Cultura Pop e Literatura Pop foram forjadas, agregando-se a elas um novo padrão conceitual, com marcas e alicerces próprios. No caso do termo Cultura Pop, também chamada por alguns de Cultura Popular ou Cultura de Massa, a estrutura fundante dialoga, indubitavelmente, com o conceito de povo imiscuído às suas particularidades de ordem socioculturais extremamente ligadas à atualidade.

Cumpre, portanto, admitir que o interesse dos anos 1980 pela pop continha uma centelha de revelação em meio a um punhado de mistificações ideológicas (não duvidemos de que a atitude essencialmente includente do novo circuito artístico internacional se exercia nos quadros de uma re-hierarquização de poder em nível mundial, segundo a qual centros de decisão estrategicamente difusos continuavam a regrar a forma e a qualidade do aparecimento dos “contextos periféricos” nos eventos e instituições desse circuito).” (SALZSTEIN, 2006)

Se “periférica” ou não, se mais ou menos relevante, é impossível tratar do tema sem se preocupar com as determinações que os centros de difusão midiáticos, em sua maioria indústrias culturais, que disseminam, através de périódicos, livros, revistas, cinema, televisão, música e etc, exercem sobre os novos e diversificados panoramas envolvendo comportamento e ação humanos. A interação que perpassa entre esses meios e as pessoas, aqui tratadas como consumidoras de cultura, dão liga à intencionalidades históricas e ajudam significativamente na elaboração de um entendimento mais eficaz de todo o processo.

De fato, as novas massas que no curso dos decênios subseqüentes acorreram à sucessão atordoante de eventos artísticos e às novas bienais inauguradas mundo afora demonstravam que o público da arte se havia alargado para muito além das antigas classes médias urbanas tangidas pela cultura universitária, e que o mercado de produtos culturais se internacionalizava descanonizando fronteiras de bem estabelecidos pólos hegemônicos.” (SALZSTEIN, 2006)

A estética literária Pop , assim como a cultura Pop, faz parte de uma socialidade. Assim vistos, produtos culturais de toda ordem seriam poderosos elementos de interligação entre indivíduos. Dilemas existenciais, referências do e ao mundo Pop, conexão com as constantes variações do cotidiano geridas pela sociedade de consumo, temas essencialmente urbanos, representativos da explosão dos blogs e da informática, são também aspectos que conseguiram elevar a literatura dita Pop ao status de arte, sem que para isso tivesse de se igualar, de algum modo, aos modelos artísticos classificados como eruditos.

Bastardia, vulgaridade e boêmia — essa fórmula moderna segundo a qual arte e cultura se contaminavam sem perderem suas jurisdições respectivas — eram a um só tempo o subproduto da esfera pública burguesa e o que propriamente pressupunha o poder normativo desta; eram o que lhe testemunhava a universalidade, mas que ao mesmo tempo recomendava que esta deveria ser sempre repactuada, na exata medida em que a transgressão persistiria flanqueando-a à meia luz,de maneira apenas suficiente para obter um reconhecimento tácito”. (SALZSTEIN, 2006)

Nesse ínterim, percebe-se a germinação de um modelo literário que, apropriando-se de signos e mitos compartilhados pela sociedade de consumo – e por sua vez pela cultura de massa, iria efetuar um maquinário de dessacralização da arte e da cultura. Era o nascimento da Literatura Pop, auxiliada, no Brasil, pela “euforia do consumo cultural da década de 80” (PRYSTHON, 1993). Apresentando-se numa atmosfera de crítica, mesmo que disfarçada, representando singularmente o corpo e o erotismo, fundindo linguagens utilizadas por outras correntes, quase sempre aproveitando o caráter subversivo das mesmas, buscando o ímpeto contestador, assumindo posições sobre sexualidade e amor, interligadas às mudanças ocorridas no mundo nas últimas décadas, a Literatura Pop ganhou status e legitimou-se como uma verdade dentro do universo maior das letras.

6 - METODOLOGIA

A pesquisa para a elaboração do respectivo projeto monográfico pode ser classificada como pertencendo aos tipos: Bibliográfica, abrangendo leitura, análise e interpretação de textos e documentos, no intuito de observar, registrar e analisar os fenômenos desejados; a abordagem é do tipo Qualitativa, partindo do pressuposto de que dar-se-á ênfase a toda uma complexidade envolvendo os temas envolvidos, a saber Cultura Pop e Literatura Pop. Com isso, subtende-se que não será elaborado nenhum tipo de questionário, assim como nenhuma forma de entrevista ou outro sistema de coleta de dados, já que todo o processo produtivo basear-se-á em leitura, análise e interpretação textual. Toda a mecânica utilizada será praticada para que o pesquisador demonstre verdadeira proximidade com o objeto de estudo.

BIBLIOGRAFIA

ABREU, Caio Fernando. Morangos mofados. São Paulo: Brasiliense, 1982.
----------------------------------. Ovelhas Negras. Porto alegre: L&PM, 2002.
----------------------------------. Pequenas Epifanias. Rio de Janeiro: AGIR, 2006.
----------------------------------. Pedras de Calcutá. São Paulo: Alfa ômega, 1977.
BAUDRILLARD, Jean. À sombra das maiorias silenciosas. São Paulo: Brasiliense, 1985.
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. Petrópolis: Vozes, 1994.
DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. São Paulo: Perspectiva, 1982.
FREITAG, Barbara. A teoria crítica: ontem e hoje. São Paulo: Brasiliense, 1990.
HABERMAS, Jurgen. O discurso filosófico da modernidade. Lisboa: Dom Quixote, 1990.
LIMA, Luiz Costa. org. Teoria da Cultura de Massa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
MAFFESOLI, Michel. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.
PRYSTHON, Ângela Freire. Absolute Beginners: cultura pop e literatura no Brasil dos anos 80. (Tese de Mestrado, Universidade Federal de Pernambuco, 1993).
SALZSTEIN, Sônia. Cultura Pop: Astúcia e inocência. Disponível em: http://www.cebrap.org.br/imagens/Arquivos/cultura_pop.pdf (acessado em 10 de junho de 2009)
SCHARTZ, Jorge. Vanguarda e Cosmopolitismo. São Paulo: Perspectiva, 1983.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Apoéticos


Por Germano Xavier

eu choro a dor de
um poema
mal sentido
porque poemas ferem
com suas armas invisíveis
porque poemas,
quando não bebidos,
quando não comidos
em sua inteireza,
são abscessos nojentos
e intratáveis.
eu choro a dor de
um poema,
cada um que nasce
e que não nasce
no profundo dum homem
e que não caminha
os seus limites inatingíveis
eu choro a dor de
um poema
e, principalmente,
eu choro,
muito,
a dor dum homem
sem poesia.

domingo, 22 de setembro de 2013

Gullar em Otto Ledoux


Por Germano Xavier

Existem pessoas que salvam um dia que tende ao desastre. E hoje foi assim. Minha vida “bonita” não daria nem um romance policial noir de quinta categoria, daqueles em que nada acontece na trama que nos deixem perplexos ou assustados ou ansiosos pelo final. Mas, como eu disse, existem certos tipos de pessoas que nos puxam o corpo, bem na hora do pêndulo que fulmina o balanço da derradeira hora, e nos estende o braço dizendo que “estou contigo, não vá”. Dia marcado pela imprestabilidade das ações e pelos votos esperançosos de que o dia de amanhã seja menos criminoso comigo. Improdução poderia ser a melhor palavra para um dia como o meu de hoje. Porém, potencialmente favorecido. É que fui agraciado com um livro do ano de 1976 que trazia na capa os seguintes dizeres: “toda a poesia de Augusto dos Anjos e um estudo crítico de Ferreira Gullar”, assim mesmo, com a inicial minúscula. E vocês ainda querem que eu escreva mais alguma coisa neste pobre diário? Poupem-me! Obrigado, Inês Guimarães.

sábado, 21 de setembro de 2013

Poemas inacabados


Por Germano Xavier

I

curvatura divina
meus fantasmas imundos
perdidos na alameda falsa
canhões são pétalas
roseiras são diversas


II

improváveis tempos
onde minha desconfiguração
hora de imberbe desfaçatez
cabedal instantâneo de desmarcas

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Um pensamento-coração

Imagem: Deviantart
Por Germano Xavier


me pedes
para destronar com tudo
e mandar tudo
ao esquecimento
quando me invades em sol
na janela cinza
de meu quarto

olho em volta
envolto d'uma bruma
e cancelo pensamentos sem sal
para um dia morno
e logo atravesso
senhor dos sonhos
a rua que agora é nossa

sólido
te acoberto
viro de lado
e já não é mais a mesma cena
a mesma parede repleta de livros
é a tua sombra
branca
sorrindo
enamorando a minha

Acres e ocres


Por Germano Xavier

Até quando precisaremos do doce artificial que a vida nos proporciona? Até quando não conseguiremos vencer nossas vaidades? Até quando nos portaremos fracos diante dos verdadeiros medíocres? Até quando? Acreditar que a morte é a superação da dor talvez não seja a melhor escolha. Talvez não seja. Talvez...

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Poesia


Por Germano Xavier

você me entorta a cabeça
você me faz esquecer
do toque macabro destes dias
destas luas ensanguentadas
e sem vida...
deste cheiro de sexo nas paredes
destes afãs loucos e rebeldes
sem causas aparentes, longínquas

quando abraço o corpo de tua carne
quando beijo as nuances de tua rima
quando entrego-me a esta sina
a de te escrever

Por Germano Xavier e Luís Osete, em 2005.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Psicologia de Colombo


Por Germano Xavier

Quis Colombo desejar desvendar os mistérios
do mundo. Quis Colombo querer criar o seu próprio caminho.
Colombo quis e buscou pelo sonho.
A crença de que a Terra era redonda desafiando
e contrariando ideias da igreja, o poder.
(Mais poderosa que o homem?)
Quis Colombo e elaborou dúvidas sobre a realização do sonho,
mas certo que a coragem era superior ao medo.
E escreveu o enredo da história.
Desdominação psicológica da igreja sobre as pessoas.
Mesmo não tendo chegado ao seu objetivo inicial,
não se arrepender de ter viajado.
Respeitar as diferenças nos momentos iniciais.
Angustiar-se pela demora (medar
de não concluir a viagem e de desobter sucesso).
Desacomodar a sociedade diante das leis da igreja.
Gerar fascinação nos índios pelos espanhóis.
Mudar os costumes dos índios e dos espanhóis.
Ser selvagem depois. O nobre espanhol
(explorador queria que os índios fossem escravos)
em sua posição de liderança, em posição de Colombo.
Inicialmente dar aos índios posição inferior aos espanhóis.
Fabricar ganância em todos que participarem da viagem
(em dois aspectos: descobertas e ouro).
Romper os padrões científicos da época.
Mudar o relacionamento dos índios com os espanhóis depois da morte
de trinta e nove exploradores (se isso acontecer).
Não dividir os espanhóis em "uns a favor de Colombo"
e "outros a favor de Moxina".
Disseminar sentimento de superioridade por parte dos nobres que participaram da expedição.
Abrir o olho para qualquer nomeação de qualquer vice-rei.
Jamais sofrer de desilusão quando souber que algum Américo Vespúcio descobriu o continente
que ele tanto desejara. Quando encontrar a esposa reconhecer que a liberdade é o bem mais valioso. Conseguir a confiança de uma rainha por não temê-la.
E quando o príncipe pedir para que se descreva a primeira lembrança da viagem,
que venha a memória da terra surgindo entre a neblina
como um sonho que se concretiza ante a força da imaginação.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Esta


Por Germano Xavier

esta escrita que sai
de canto, que resvala um tanto
assim,
vai sem medo no dedo,
cai sem segredo
no enredo de mim.

que atordoa,
a tarde do verso
pode um
universo diverso, pode
a palavra?, pode ser
o inverso
do que se quer
ser?

domingo, 15 de setembro de 2013

Espetáculo


Por Germano Xavier

O triunfo dos arcos,
a palidez necessária em compota dobrável: minha
campânula.
Sempiterna, individuada,
entrançada agulheta em bossas me ferindo
em repique,
sobre o tempo.

Minha penúria, minha má-fé, pífia faca
de sílex como Manelete a domar o touro bravo na arena.
Toureira das animalidades do amor em arbitragem sub-reptícia.
Atulhando o ferro em gusa na feitura do ferro de marcar a carne.
Animal mulher na inventança das revoltantes solidões de si.
A pura menstruação dos silvos divinos.

sábado, 14 de setembro de 2013

Esparsos



Por Germano Xavier

Ninguém sabe do fantástico.

Tais nulidades
(devoções)
emolduram-se como mortos
absurdos.

Curte o humano
a fúria inumana
das memórias ancestrais.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Perdidas


Por Germano Xavier

chatas palavras tão comprimidas.
verdadeiras cartas não entendidas.
são como facas não retraídas?
abrem alas à várias feridas?
são também taças embevecidas...
como são muitas, meu deus,
as vidas perdidas!

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Poema sem ateliê


Por Germano Xavier

ao modo expressionista Die Brucke
(ou apenas mais uma paródia séria)


atravessamos a ponte curva
e um canal me leva à Gerda.
ando vendo ondas ilustradas
e, mais acima, estrelas estraladas.

todo o tipo de enquadre
revelar nos quer um nu natural.
mas bem no centro assumo, como sendo e tal,
a tempestade elevada por um guindaste.

deram solução às corizas das pessoas,
e conjugamos o verbo todos primitivamente.
Jakob, o que anda mesmo precipitando?

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Poema para uma viagem de dias


Por Germano Xavier

nestas horas me tenho incrédulo
e também no labirinto, preso,
da felicidade.
conheço-te de longe
(menina que inquieta minh'alma).
foges para onde?
a vida é um caminho de nuvens
que enxergamos passar
da janela,
um caminho de toada triste,
de tortas pedras.
e este mundo
fica tão simples na tua voz!
(ele não é maior que a distância
negra do teu claro coração).

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Peça mítica


Por Germano Xavier

Quebre a rosa,
pulsão da primavera,
contra o heterônimo amor,
esta simbólica estação.
Atire a medalha refratária ao engano
da sagração,
pois o próprio verbo,
ao fazer do corpo mapa e mundo,
a despeito das difundidas obscuridades
da Terra,
eterniza-se em si.
Sinalize a morte do infinito,
nascente antiga,
alma volitiva,
guia de imantação.
Quebre-a, pulsando, puro.
Modele o mito
na inaudita ação.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Palavra


Por Germano Xavier

Pá que lava
a larva que vem do varal
vara a própria larva:
a palavra é a larva.

domingo, 8 de setembro de 2013

Poema de massa


Por Germano Xavier

Pontos em revista,
o crescente e próprio
e talvez formal
artigo

civil.

Diante do recorte,
mudo e processual.
me programo
governo de ninguém.

E abaixo às emergências!

sábado, 7 de setembro de 2013

Poema para uma aula de Astrologia


Por Germano Xavier

O sol é menino-homem.
A lua menina-moça.
Cada vez que se encontram,
sobre a cama do universo
e sob o lençol das estrelas,
as pessoas olham,
aqui da Terra,
perplexas,
para a escuridão do Amor.

Mania de chamar isso de eclipse...

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Poema para fins contratuais


Por Germano Xavier

depois manda o contato (telefone, endereço...)
do dono da casa,
já que eu não sei ainda se vou ficar.
se eu não encontrar outro lugar,
precisarei permanecer mais um mês,
e aí então terei de conversar com o proprietário.
você já sabe para onde vai depois daqui?

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Pequena narrativa acerca do que se pretende e suas reais confirmações


Por Germano Xavier

O resultado é sempre um pesar
sobre os ombros,
desmontados
pelo infortúnio da expectativa,
que grita
de modo a ensurdecer a quem ouve
ou espera por respostas
da neblina no quarto,
em suas sombras e distâncias.

O homem caminha
no sufoco das margens e das brechas,
aberturas de inconformismos.
E o homem caminha
em seu passeio único,
no saboreio do sangue das romãs
e das variedades do espelho.

E quando o fim se aproxima,
desviado de sua própria força,
aceita, como num invólucro de covardia,
a fuga desmembrada
de toda a sua angústia e fé.

há em quem grita um desejo por paz, este caos absoluto.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Por ser pouco amável hospedeiro


Por Germano Xavier

Porque já sei o quero de mim...
E porque há no jardim sempre uma erva daninha.


de mim
não quero este desgoverno
e esta fluída tristeza
nem este garimpo sem força
e brilho

que se afaste
a doença dos meus ombros
sempre sôfregos e tristes
e o câncer de minha quietude
hoje insuportável lepra

por gostar demais da solidão
que esta me sirva um pássaro
toda vez que adormecer em estrelas
o dia branco em pleno poente

que seja distância a armadura
de minha estranheza e silêncio
e que eu fuja da noite calma
sem produção ou objetivo
e que eu siga procurando o puro

e desejo que não vingue
em outra face a inércia das mãos
sempre lentas e pesadas
de dar o mais que a vida não pede
porque ficamos ruins quando não temos
e principalmente quando não somos

que pouco nos outros permaneça
o que em mim não germinou
esta celeuma quem sabe
esta razão bagunçada
estas danças e estes interlúdios
estes palcos sem a platéia melhor

por ser pouco amável hospedeiro
fogueira em brasa queimando
claro cordão e luzeiro cálido
o que em mim se faz clarão
que eu acenda a chama de uma verdade
única e só para mim

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Poema amarelo


Por Germano Xavier

amarelais
em teu cais
febril,
rútilo de seda
sedenta pela gosma do amor

não tardes, que chegarei
vermelho
em sombrio veludo carmim

não tardes, que chegarei
em sede
em seca
a despejar
o muco
da alma
em ti

não tardes, que chegarei
carmesim

domingo, 1 de setembro de 2013

Pedagogia do chão


Por Germano Xavier

solar teu piso
de carne
e imensidão

a direção, investigo,
dos teus passos
de mar

abraços, compassos
em filosofia
instrumental

atento para o teu
plano
de desengano

teu território é
mágico, silêncio básico
de minha educação