Por Germano Xavier
Gosto de olhar para o rio quando ele fica verde. É como se ele dissesse “olhe, estou quase da cor do teu olhar”. O rio está presente em mim, e sempre sonho morrendo nele, um dia, morrendo, caudalosamente morrendo. Silenciosamente morrendo, como se morre com a bebida de Dioniso. Morrer para viver. Acredito. Morrer para viver, acredito. A bem da verdade é que não tenho o verde ocular tão claro quanto o verde do rio, mas na luminosidade da metade do dia, meu olho quase que se transforma – ou seria transporta? – num pedaço d’água do São Francisco e se inunda dele, nele, como se os dois estivessem a combinar um encontro nada casual. Quando atravesso a ponte, é como se o rio me permitisse a passagem para um lugar belo, onde tudo seria naturalmente leve e verdadeiro. Não quero aqui entrar em maiores explicações, mas hoje não olhei para ele como quase sempre faço, namorando-o. Eu quis assim, jamais sendo indiferente a ele. Mas percebi o verde bonito de tuas pequenas ondas. Foi bastante para que minha alma fosse abençoada. Não é bom perturbar sempre os deuses assim, de forma tão gratuita, ainda mais quando estão em suas sestas acobertadas pelos dourados raios de luz do astro-rei. Estou melhorando como mesmo. Todo dia faço questão de me matar e todo dia faço questão de nascer de novo. Estou gostando dos resultados. Quem sabe eu esteja no caminho certo. Se não, tenho uma certeza: a de que estou no bom caminho errado. E, de uma forma ou de outra, sigo tentando...
Um comentário:
E nada como a tentativa.
Que é avida senão um conjunto de instantes onde se respira?
beijo
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