sábado, 25 de novembro de 2017

Poemas de Germano Xavier em Francês (Parte XCI)



Por Germano Xavier

"tradução livre"



Quarta-feira, 3 de maio de 2017
Ensaiando destinos


Des destins expérimentaux

Il faut du courage
Pour essayer des destins
Pour succomber au risque
Pour se livrer à la mort
Pour inciter des faiblesses

Voyons le cas de ce pont secondaire
Qui s’effondra durant les premières pluies
Comme celui qui a miné, éliminé
En face de la déchirure insoupçonnée

Du courage, oui
Pour écrire des poèmes
Pour assortir des mots
Pour décider des sens
Pour dévier les discours

Comme la certitude que nous éprouvons
Lorsque tout paraît déjà contaminé
Comme le rude motif de l’amour
Qui ne peut pas se stocker

Du courage, oui
Pour s’incliner vers l’abîme
Pour atteindre la violence
Pour essayer la fureur chimique des trahisons
Pour s’arrêter tout simplement

Et il arrive que ce chaos que l’on recherche
Ne reconnaît qu’un vainqueur : la technique de la vie
E le malheur va interrompre ce qui n’échoue jamais

Comment sera donc cet humain élaboré
Au niveau de ses petites réactions
Comment agira-t-il, celui que nous méconnaissons
Lorsque l’indifférence nue le provoque?


* Imagem: https://pixabay.com/pt/machado-madeira-hack-casos-1748305/

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Poemas de Germano Xavier em Francês (Parte XC)



Por Germano Xavier


"tradução livre"



Domingo, 12 de março de 2017
Octaedro

Toujours pour Julio Cortázar


Octaèdre


Ce sont huit histoires sur ce que l’on acquiert :

La première nous montre un narrateur ravissant qui dimensionne la vie.
La seconde dévoile l’étreinte entre le cordon insolite et le réel.
Dans la troisième nous interpénétrons le Temps.
La quatrième nous laisse côtoyer les logarithmes.
La cinquième marque le début de notre déroulement.
Dans la sixième nous sommes dominés par une accaparante anxiété.
Arrivés à la septième nous comprenons que nous n’avons rien compris.
La huitième nous permet de devenir un conte.

Et dans toutes ces histoires nous éprouvons la même sensation :
Le rêve est immédiat.


* Imagem: https://pixabay.com/pt/alho-ervas-cozinhar-alimentos-2810491/

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Alessandra Barcelar e o sempre-é-tempo para a escrita (uma entrevista)



Uma conversa sobre quem se inaugura...



GERMANO XAVIER – O que a literatura significa para você?

ALESSANDRA BARCELAR - Meu contato com a literatura começou muito cedo, numa estante na casa de uma tia do interior, com uns 7 ou 8 anos de idade. Literatura, para mim, quando treino a escrita, é a possibilidade de ser outra pessoa, de ter outras vidas, estar num mundo paralelo. E isso é fascinante. Como leitora, a maior satisfação é constatar o que a literatura pode fazer a um paciente crônico, ou uma criança de comunidade, exercitando meu voluntariado em hospitais e contação de histórias em projetos sociais. Literatura une.


GX – Fale-nos um pouco mais sobre esses processos transformadores vivenciados por você a partir da literatura...

AB – Os dois projetos de leitura não foram premeditados. O primeiro surgiu de um voluntariado que eu estava fazendo, uma espécie de capacitação com pacientes soropositivos. Eu tinha uma inquietação com o ambiente fóbico das redes sociais, queria tirar do que eu lia ou conhecia algo além de uma resenha, queria algo além... Foi então que comecei a pesquisar sobre a Biblioterapia e, daí, passei a conhecer projetos envolvendo leitura em hospitais, já que é o meu ambiente de atuação, e assim começamos a trabalhar com leituras diversas para pacientes crônicos, com internações de longa permanência ou com pessoas de baixa renda e sem acesso à cultura. O resultado é maravilhoso, empatia, envolvimento. Geralmente opto por levar contos, pela rapidez da conclusão da leitura. A contação de história para crianças aconteceu em uma reunião social da rede SENAC juntamente com a prefeitura regional e ONGs... me encantei com um projeto de leitura e distribuição de livros para crianças que vivem em comunidades. Com certeza, se não fosse essa inquietude, eu não poderia estar vivenciando isso.


GX – Em sua jornada como leitora e difusora de textos literários, qual a experiência de leitura que mais te marcou? E por quê?

AB - É difícil falar de uma obra apenas, pois muitas me foram importantes em vários momentos. Mas a que me vem à mente devido a dificuldade que tive à época, já que achava um livro difícil e que foi muito importante para mim, foi Grande Sertões Veredas, pela obra, pela história, pelo dilema de Riobaldo, pela atração, pela religiosidade, pela forma de como foi contada aquela história, sem dúvida um livro para vida toda.


GX – Você, recentemente, tem conseguido adentrar espaços antes tidos como mais distantes. Como você enxerga a incursão de textos seus em algumas antologias e em outros tipos de publicações especializadas em difundir literatura? O que muda a partir de tais eventos?

AB - No meu caso, eu não via como espaços mais distantes e sim impossíveis. Sempre tive medo de colocar no papel qualquer pensamento, mesmo sendo uma leitora responsável. As incursões foram uma surpresa para mim, bem gratificante, confesso. O que muda são as possibilidades que aumentam, novos contatos, muitos trabalhos que antes não tinha noção que existiam, obras que posso trabalhar com os clubes de leituras, são mudanças que em um primeiro momento não pensei que aconteceriam.


GX – Vamos falar de predileções: Poesia ou prosa? E por quê?

AB - Prosa! Eu acredito que não tenho intimidade com a poesia, apesar de ler vários poetas como Wislawa Szymborska. E outros. Na contemporaneidade, eu não salto os olhos para poemas que nada mais são que contos pulando linha... não sei também se é algum preconceito meu, mas acabo preferindo textos em prosa. Mesmo sabendo que existe muita coisa boa na poesia. É mais uma questão de preferência mesmo, de contato com a palavra.


* Imagem: Acervo pessoal de Alessandra Barcelar.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Mariana Basílio, poeta de olhos queimados (uma entrevista)


Uma conversa sobre o livro Sombras & Luzes (Penalux, 2016)



GX – Quem é a Mariana Basílio de Sombras & Luzes?

MB – É uma poeta que aceitou sua condição. No primeiro livro, Nepente, eu ainda estava procurando o que seria o elemento propulsor que havia me movido nos anos anteriores – versar o inominável, dialogar com os detalhes, escavar os mistérios – então tive um insight. Publiquei o primeiro livro meses depois, aos 25 anos, procurando trajar este meu novo trajeto.

Com o próximo livro, Sombras & luzes, foi completamente diferente. Já não tentava me encontrar ou me adaptar, já me compreendia na realidade a que me propus. Projetei o livro de maneira mais madura, e passei a ter uma rotina diária bem mais rigorosa em relação às leituras e escrita – como consequência, passei a escrever com mais liberdade e confiança.


GX – Teus poemas são como buquês repletos de rosas densas, cujos espinhos do caule perfuram até o mais profundo lugar de nossa alma (ou consciência). De onde vem toda essa força?

MB – Fernando Pessoa dizia: “Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu”. Está tudo na essência do sentir, sentir que o interior não é mais do que o exterior, nada nos salvará da morte, que então a poesia (ou o amor, como versava Neruda), nos salve da vida. Já Herberto Helder, num dos poemas que mais aprecio, parece me denunciar: “Algumas vezes amei lentamente porque havia de morrer / com os olhos queimados pelo poder da lua”. Os olhos queimados – olhos de poeta, da criatura que não sossega sem cavar as profundezas. Talvez o que eu seja cintile no bruto das palavras.


GX – No fim do livro, você esboça uma rota de construção de seu livro. Todavia, eu reforço a curiosidade sobre tal processo e lhe pergunto novamente, na expectativa de arrancar de ti algum “segredo” não revelado em suas considerações finais. Então, Mariana, como se deu a feitura do seu Sombras & luzes? Há semelhanças e/ou diferenças nele para com o seu Nepente?

MB – Me sinto nesse contexto como Júlio Cortázar: pareço mesmo ter nascido para não aceitar as coisas tal como me são dadas. Faço e desfaço, desfaço e faço. É sempre um tecer melodramático viver em minhas decisões. Fiquei realmente em dúvida sobre expor as tais observações gerais, o tal roteiro. Mas como o livro acabou se tornando um projeto de quase 300 páginas, acabei me decidindo por publicá-las em conjunto.

Se há semelhanças nos livros? Bem, talvez estejam na temática mais abrangente que ainda me recobre, envolvendo temas como vida e morte, humanidade e natureza, e ainda, alguns autores que são minhas influências em ambos os livros. Mas, sem dúvida, vejo e sinto muito mais diferenças do que semelhanças, já sou outra pessoa e poeta nessa época do Sombras & Luzes.

Tudo mudou, simplesmente.


GX – Mariana, existe alguma pergunta realmente necessária a se fazer a uma poeta como você? Alguém já a fez? Se não, qual seria?

MB – Não sei, talvez haja inúmeras, talvez não haja nenhuma. Não sei o que significa direito “uma poeta como você”. Mas vou tentar levar isso para um campo mais abrangente e traduzirei um pouco como me vejo no presente da poesia brasileira – deslocada das tendências mais contemporâneas. O que faço é bem particular e, por isso mesmo, um movimento muito solitário. Mas não me incomodo com isso, a minha única preocupação é estar focada e trabalhar muitíssimo no invisível dos invisíveis – perfurando o rumo das palavras em que realmente me encontro.


GX – Se todo escritor é um país estrangeiro, como diz um de teus versos, qual seria o teu lugar neste mundo, Mariana? E qual seria o lugar da poesia que teces?

MB – Meu lugar é o lugar universal, o lugar do vazio que recobre o todo (e talvez eu o encontre quando escrevo) – aqui sou uma inocência socialista abaixando as fronteiras dos países, unificando o que amo na humanidade: o total de nós.

Só me vejo no “eu” porque me propago em “nós”. Por isso “todo escritor é um país estrangeiro” – além de outros preâmbulos do verso.


GX – O que há para ser descoberto, ainda, na vida?

MBO que há para não ser descoberto? Só estou no começo, mesmo que eu morra amanhã, saberei, ainda é vago, ao mesmo tempo que intensa, a lâmina com que lapido minha voz e construo, exausta, as minhas espirais. Não sei precisar (e adoro isso). Mas como diz Mia Couto (e assumo em prévia do futuro): “grandes palavras escondem grandes enganos”.

Sigamos então, ainda mais humanos do que no instante que já se findou.






*Mariana Basílio (Bauru, 1989) é uma escritora, poeta e tradutora paulista. Licenciada em Pedagogia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), campus de Bauru (2012). Mestre em Educação pela Unesp, campus de Rio Claro (2015). Autora dos livros de poesia Nepente (Giostri, 2015) e Sombras & Luzes (Penalux, 2016). Recebeu em outubro de 2017 o prêmio ProAC de criação literária do Estado de São Paulo, contemplando a publicação de sua terceira obra poética, Tríptico Vital (prelo, 2018). Escreve atualmente seus três próximos livros: Megalômana (poesia), Kairós (poesia) e A Revolução das Rosas (romance). É colaboradora dos portais Zonadapalavra e Liberoamérica. Possui poemas, entrevistas, resenhas e traduções publicados em diversas revistas do Brasil e de Portugal, entre elas: Alagunas, Diversos Afins, Escamandro, Efémera, Garupa, Germina, InComunidade, Inefável, Limbo, Mallarmargens, Oceânica, Odara, O Garibaldi, O Equador das Coisas, Raimundo e Vida Secreta. Site para contato: www.marianabasilio.com.br