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terça-feira, 16 de abril de 2013

O domador de pianos


Por Germano Xavier

"Onde vãos de abrir, ele foi amurando
opacos de fechar; onde o vidro, concreto;
até fechar o homem: na capela útero, com
confortos de matriz, outra vez feto".

(João Cabral de Melo Neto, em Fábula Arquiteto)


Doze badaladas tem a música do Tempo. Doze estrofes tem a música do verso. O velho piano branco com doze versos está no canto. Sem canto está o piano. Sem piano tem o pianista. Sem pianista o canto está no canto. O teclado com duas rimas está sem rima, está em pranto, poeticamente sem métrica. Com doze horas distintas, doze momentos inversos, avessos. Será a chegada inescapável da morte? O piano no canto sem rima sem verso no canto sem música no canto do Tempo fala-nos dos instantes tantos de desistência e a vida emerge sem dedos que toquem a vida no canto. O poema assola o pianista. O poema que assola o pianista é a morte. A morte faz do pianista um sertão. Um ser-tão. O poema, como que despretensiosamente, invadindo o ser do pianista, imiscuindo-se ao ser-tão do tocador, toca a dor do homem no canto sem canto, corrói-lhe a gema do espírito, atacando-o à surdina, por intermédio da rotina, do cotidiano de seu ser sentidor. Sem encanto, no canto, sem canto, desencantado pianista, tão velho quanto o velho piano, quanto a velha tecla branca óssea, alabastrina, sina. O piano sem pio, sem pia o pianista onde descarregar fúrias? Onde despovoar descantos? Nem a metalinguagem, pois se é um poema onde a interpretação deve incidir sobre o fazer. Todo poema é uma ciência completa. A ciência da morte arquiteta a construção de palavras novas, mas muito dos versos velhos tornam-se imortais. Tudo em prol do canto claro, sem obviedade, mas que alimente. Pode-se interpretar a morte nas partituras sobre a armadura dum piano branco. Pode-se interpretar a morte como uma alegoria da realidade. Principalmente a partir da décima segunda badalada, a partir da décima segunda estrofe, a partir do décimo segundo verso, do décimo segundo momento, que é quando tudo acaba, que é quando tudo novamente se inicia. O homem, pianista, assolado, acostumado no canto, na óbvia sombra faz movimento de retorno e se tranca. O tranco da vida é a liberdade. O jogo é comparativo. O pianista liga o ato de tocar à catadura. O tocar que serve, o toque imprescindível, o toque destituído de adornos, o toque ornamental. Vale o que mais pesar nos ouvidos, na peneira, no funil da alma e do corpo. Vale o que mais significar. O sino necessário, mesmo se seco o badalo, sem boniteza alguma, o canto sem maquiagem. O pianista tem consciência de que no espaço reduzido do canto, impregnado de cortes o imprevisto é impossível de acontecer: a existência de um elemento estranho no teclado – pode ser o poema, ou não. Pode ser a pedra. Na pedra reside o fabuloso do poema. Na pedra e no canto. O organismo vivo da pedra, motor de tudo: o canto do poema. Na pedra do poema pode existir a poesia. A poesia pode estar na morte, a poesia pode ser a morte. O pianista toca o poema. O pianista é um tocador de pedras. A pedra se apresenta em doze estrofes de doze versos cada. A pedra tem métrica livre. A pedra não rima.

sexta-feira, 29 de março de 2013

O lead jornalístico e o cotexto


Por Germano Xavier

caminhos para uma simbiose obrigatória


As marcas textuais que caracterizam e qualificam um texto como sendo, ele, um produto jornalístico são diversas, assim como se dá com outras tipologias ou gêneros de texto. Além de requerer sua respectiva presença em um dado suporte midiático, seja ele em formato impresso, radiofônico, televisivo ou eletrônico, o produto textual de ordem jornalística também pressupõe, entre tantos outros mecanismos, a velocidade, a informatividade, o desprendimento e alguns elementos técnicos que auxiliam no processo ao qual se destina. E é justamente dentro deste panorama que se faz demasiado visível a forte dependência que o lead tem para com o cotexto discursivo.

O lead de um jornal impresso, para tomar como exemplo, tem por finalidade fazer com que o leitor, ao ler o primeiro parágrafo de toda a matéria/notícia publicada - local onde geralmente o lead aparece -, seja informado dos acontecimentos basais - em geral, o lead tenciona responder às perguntas "o quê?, como?, quando?, onde? e por quê". Todavia, para que a transmissão da mensagem seja efetuada com clareza, as relações entre os termos utilizados e o sentido agregado à mensagem precisam estar em perfeita harmonia. E, para que isso ocorra, é necessário que haja uma rigorosa observação do contexto, que, para Maingueneau (2001, p.26), "não é necessariamente o ambiente físico, o momento e o lugar da enunciação."

O cotexto encaixa-se dentro do contexto, e forma, juntamente com o "contexto situacional" e com os "saberes anteriores à enunciação", um complexo de instrumentos que auxiliam na compreensão do texto. O lead, como parte fundamental de uma notícia jornalística, deixa-se encaminhar pela íntima relação que tem com os elementos dêiticos/conectivos pertencentes ao cotexto linguístico. Segundo Maingueneau, são estas "sequências verbais encontradas antes ou depois da unidade a interpretar" (2001, p.27) que vão assegurar a qualidade ou o teor de incompreensibilidade/clareza possivelmente presentes no lead.

Sendo assim, percebe-se uma simbiose linguística de fundamentos quase que obrigatórios. É verossímil, e nada constrangedor, dizer que um não existe sem o outro, ou que um é indispensável ao outro. Todo esse processo faz com que, quase que imperceptivelmente, o sujeito-leitor se utilize, ao ler o lead dentro do corpo de um texto jornalístico, de recursos indispensáveis à interpretação do conteúdo, fazendo com que o propósito informacional seja plenamente averiguado no ato da leitura.

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MAINGUENEAU, Dominique. Análise de Textos de Comunicação. São Paulo: Ed. Cortez, 2001.

terça-feira, 26 de março de 2013

Ondas nada comuns


Por Germano Xavier

O uso da esfera pública com a finalidade de formação de uma consciência coletiva (localidade), a democratização da comunicação e a promoção ao engajamento da comunidade em prol da defesa e da manutenção de sua particularidade social, possibilitando a geração de movimentos sociais que encontram no pleno direito ao exercício da cidadania a sua meta primordial, formando também "agentes políticos" saudáveis... Talvez sejam essas as três características mais desrespeitadas no ambiente de uma rádio com a concessão para ser comunitária. Em síntese, a maior parte das características e funcionalidades objetivas ligadas a qualquer rádio comunitária é desrespeitada e/ou desviada a partir do momento em que seu pensamento básico atrela-se, direta ou indiretamente, à mídia. Tal fato explica, de uma forma mais contundente, a desvalorização do caráter original das emissoras de rádio comunitárias. Perde-se assim o foco da racionalidade, abrindo espaço para a introdução de uma metodologia discrepante da que a origina. A defesa e a preocupação com o que é de ordem social e de interesse geral (maioria) da comunidade/localidade é reprimida a tal ponto que o cidadão é obrigado a aceitar posicionamentos que não condizem com a sua realidade, tornando-o alienado e reduzindo-o ao papel de mero consumidor de bens simbólicos. Há uma espécie de prática de uma "violência" simbólica por parte dessas estações transgressoras, um nuvem negra que sobrevoa a atmosfera cognitiva e intelectualizante de milhares de pessoas. Outro ponto a se destacar é a instrumentalização do meio comunicativo, nessa caso o rádio, por meio de figuras políticas ou partidos/legendas, com o desejo de angariar conquistas eleitorais. Uma apropriação indevida de um espaço destinado a outros objetivos, mas que serve de combustível para a máquina da corrupção. E o pior de tudo é saber que esses atos são, indubitavelmente, facilitados por administrações também fraudulentas. Muitos mitos são forjados através dessa prática ilícita. Desse modo, a comunidade acaba perdendo a vez e a voz, o direito à cidadania, à moral e à liberdade de expressão. Essa atitude, quando não aparece clara e inteiramente perceptível aos ouvidos do cidadão, surge camuflada, jamais perdendo o seu caráter degenerante. Não obstante, há a prática do que se convencionou chamar de "coronelismo radiofônico", entre tantos outras artimanhas que são utilizadas. Aqui o patrão (geralmente um candidato político) arma uma rádio comunitária, difunde suas propostas e, depois de se sagrar vitorioso - ou não - "entrega" a emissora à população, manipulando interesses e vontades que deturpam os anseios da massa.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Espelho, espelho meu (ou quando a Babel é humana)



Por Germano Xavier e Elizabeth de Souza

Espelho, espelho meu, há no mundo alguém tão parecida comigo? Olho para o espelho e vejo a mim mesma... Bom, então não há dúvidas que sou eu quem está do outro lado do espelho, ou há?

Meus gestos insanos são repetidos pela imagem na minha frente com tanta naturalidade que chega a assustar.

Incisiva, a imagem me olha no fundo dos olhos, o que me deixa perplexa diante de mim, trazendo o benefício da dúvida.

Será que sempre fomos assim, minha imagem e eu?

Será que essa que olho do outro lado do espelho é uma farsa que me faz acreditar nos seus gestos calculados?

Observo seus gestos semelhantes e em perfeita sincronia com os meus. Não consigo pegá-la distraída em algum instante fugaz, onde possa denunciar alguma diferença. Repete meus gestos suavemente, compartilhando o momento como se fosse ela mesma, uma criatura real.

Olha para mim, como se conhecesse todos os cantos do meu ser, despindo-me diante do espelho.

Nessa cumplicidade silenciosa ficamos encantadas, minha imagem e eu. Um encanto do qual desconhecemos a causa e o efeito, mas são quase perceptíveis nossas idas e vindas por tempos imemoráveis e lidas pelo espaço sem fim.


...


“No vestíbulo há um espelho, que fielmente duplica as aparências”, escreveu Jorge Luís Borges em seu conto A Biblioteca de Babel, já quase tomado pela cegueira, mas inda dominado pelo seu gênio literário.

Babel é o homem, e é também o espelho. Babel é a réplica fundada em símbolos ocasionais, e é também a moça tomada de encanto no canto qualquer de um qualquer cômodo, moça prostrada diante de sua semelhança. A infantilidade perdida no olho do assombramento, no moinho da descoberta. O que restará ao homem ante o vazio de se saber? Pode o homem conhecer sua Babel completa?

Borges fuça, dizendo: “Os homens costumam inferir desse espelho que a Biblioteca não é infinita (se o fosse realmente, para que essa duplicação ilusória?)”.

A Biblioteca é o mundo, e é também Babel. A rosa doentia, maculada pela nódoa da história. A Biblioteca é o sentimento dos extensos processos e das ininteligíveis relações. A Biblioteca é a vida, e é também o homem, o experimento.

A moça do espelho, distantemente perdida, perdidamente distante, atravessa o corredor do decrépito aposento. Tão jovem e já tão vítima. Punhal que dilacera é o saber. Adaga que perfura o fundo, fundo, é o saber-se. Sabre sem governo, máquina de guerra. A bomba que extravasa. Até onde o homem sabe? Até quando o homem saberá que sabe?

A moça, distante e perdida, agora destece o tecido das estantes. Livros que voam, livros que planam, livros que tombam. Outros que dançam. Será mesmo o chão o limite? Quem garante que tudo não passa de ilusão? Onde a fronteira? A menina estende o braço iradamente, torna-o rijo e ataca as enciclopédias. Lombadas feridas, brochuras brocham, alfarrábios esfarelam-se, catataus viram folhas inermes, o ar é tomado pelo pó. Há um embate entre o real e o imaginário. A Babel inicia. A Biblioteca é um corpo sólido, matéria de convulsões.

Adiantará o corte na face? E o que vem de dentro, não trucida? Não esquarteja a pelanca do homem? Adiantará a dúvida? Borges responde: “Prefiro sonhar que as superfícies polidas representam e prometem o infinito...” A moça corre, não pára. Difícil demais o convívio com o saber-se. Difícil demais a dor de ser...



Exercício de diálogo textual. Agradeço a Elizabeth (http://mundodebeth.blog.terra.com/) por permitir a feitura dessa "conversa" a partir de seu texto, intitulado "Espelho, espelho meu!!!". Usei excertos do conto "A Biblioteca de Babel", do escritor argentino Jorge Luís Borges, que consta no livro "Ficções".

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Estes Brasis


Por Germano Xavier

Da mesma forma que a cultura serve para denunciar o progresso da sociedade, o tempo serve para reformar e construir novos conceitos e ideias. E, em se tratando do polêmico debate concernente ao estudo de nossa identidade nacional (leia-se, brasileira), isso fica ainda mais evidente após uma análise mais acurada sobre o afloramento da visão de que o povo brasileiro deve ser pensado como a fusão de inúmeros fragmentos raciais que, por conseguinte, desencadearão em uma Unidade/Singularidade frente a outras etnias; ideologia essa que começou a ser mais bem tratada a partir dos anos 60. "Nós somos um povo mestiço e isso não podemos esconder", assim escreveu Darcy Ribeiro em seu livro O Povo Brasileiro. Essa afirmação só vem a corroborar um aspecto identitário nacional que, na pior das hipóteses, é completamente visível e indiscutível - ou alguém aqui sabe dizer a verdadeira origem de seus traços físicos? A formação desse "povo ninguém", como assim designou o autor da obra, mesclado e repartido em trejeitos europeus, africanos, indígenas e tantas outras derivações, acabou implicando, querendo ou não, na produção dessa "unidade multifacetada e multicultural" chamada brasileiro. O documentário, que leva o mesmo título da obra, dirigido por Isa Grinspum Ferraz, apresentando este mesmo discurso através de outra linguagem midiática - neste caso a televisão -, faz brotar impactantes questionamentos referentes ao papel desempenhado pela mídia, ou melhor, que deveria ser desempenhado por ela, no justo desígnio de promoção desse "universo homogêneo" que é o nosso país. O filme ainda conta com depoimentos de Chico Buarque, Gilberto Gil, Antônio Candido, Tom Zé, Aziz Ab'Saber, Paulo Vanzolini, Hermano Vianna.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Da coragem intelectual


Por Germano Xavier

Em se tratando de crítica literária, todo olhar inteligente sobre algum texto ou alguma produção intelectual maior ou mais bem elaborada deveria ser, antes de tudo, um olhar ingênuo, possuir dentro de si e de seu campo de visão um primeiro foco baseado essencialmente na ingenuidade. É somente o olhar destituído de maquinações ou estratégias de ação mais contundentes que pode melhor construir toda uma esfera de complexidade crítica de que se necessita para o desempenho de qualquer atividade de investigação. A ingenuidade dos olhos é quem produz a mais verdadeira causticidade, elemento indispensável para o leitor profissional ou mesmo para qualquer tipo de pessoa que se legitime enquanto bom leitor. Deste modo, o caminho para o urgente distanciamento existível entre o leitor e a obra se abre de maneira facilitada, o que ajuda – e muito – no processo de construção do discurso crítico. Assim, o sujeito de criticidade invade o objeto com mais firmeza de análise e sobrepõe-se a ele, fazendo com que o objeto passe a estar inteiramente em seu domínio. Hoje, nos mais diversos meios de comunicação, seja no Brasil ou no mundo, o que se enxerga é um bando de intelectuais (como eu poderia dizer?) maquinados, robotizados, manipulados por ordens expressas de método e técnica, capacitados para complicar o que muitas vezes é simples, habilitados para descomplicar o descomplicável com receitas baseadas numa estética do adorno calculado. Falta a eles – e a nós também, críticos por natureza – o redescobrimento da ingenuidade e de seu poder de persuasão. Falta-nos o primeiro olhar, mesmo que corrompido, mas o primeiro olhar. O olhar que é feito de espanto, de um susto irremediável, um olhar apaixonadamente lúcido, um olhar amante por excelência, que por sua vez é também um olhar de dúvida, de incerteza, um olhar perdido e com medo da multidão no objeto. Mas um olhar sem covardia, que olhe para o interior das coisas sem precisar descascá-las, um olhar mágico-mítico, ou melhor, um olhar corajosamente ingênuo.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Literatura pode ser ensinada?


 Por Germano Xavier

É possível ensinar alguém a escrever literatura? É justamente acerca desta problemática que a matéria "Cartas na mesa", do jornalista Jerônimo Teixeira, aborda. De maneira comparativa, o repórter traça uma espécie de resenha do livro "Cartas a um jovem escritor", do romancista peruano Mario Vargas Llosa. Nesta reportagem, o autor envereda-se no antigo hábito que certos escritores tinham de agir como verdadeiros conselheiros literários, receitando em forma de missivas as técnicas fundamentais para o bom desempenho do ato de redigir textos literários. Aprender a escrever como cânones certamente não é uma faculdade conquistada apenas com a leitura de livros de tais portes, até porque a escrita beira o "humano", e isso pouco se adquire com a metodologia livresca de determinados autores. Para os interessados no assunto, vale a pena conferir os dois textos supracitados.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Um pouco de Sociologia da Educação


 Por Germano Xavier

• Para Karl Marx e Engels, o fundamental é associar a educação ao trabalho, visando dessa forma a implantação de escolas politécnicas, ou seja, ao mesmo tempo que o indivíduo é preparado intelectualmente, ele também é capacitado para exercer determinada função com mais capacidade; 

• Para Émile Durkheim, a educação é o meio que a sociedade usa para incutir nas gerações futuras suas heranças culturais, seus costumes, valores vigentes e isso sem que o indivíduo possa discordar ou não de determinada instrução que lhe está sendo passada. Ao invés da educação possibilitar uma amplitude maior de visão de mundo, ela condiciona o indivíduo a se tornar estático, mesmo através do processo educativo; 

• O fundamental para Max Weber no processo educativo (e isso numa tradução bem mesquinha) é a possibilidade de adquirir diplomas, com o intuito de ocupar cargos cada vez mais altos, sem falar na obtenção do prestígio social que o diploma lhe proporciona; 

• Karl Marx e Max Weber viam a educação como uma possibilidade de mudança social, já Émile Durkheim discordava dos dois por achar que o processo educativo não poderia trazer transformação social; 

• “Por técnicas sociais refiro-me a todos os métodos de influenciar o comportamento humano de maneira que este se enquadre nos padrões vigente da interação e organização sociais.” (Émile Durkheim); 

• Uma pergunta: não estaríamos nós, sociólogos da educação, mais uma vez construindo as teorias que interessam ao momento político? (Aos sociólogos da educação...); 

• Em primeiro lugar, a divulgação do conhecimento trazendo a reflexão que produz a crítica é comandada pelo professor. E não sabemos bem de que lado vai estar o professor. (Ao professor sem compromisso com a educação e que é parcial...); embora as pesquisas mais recentes mostrem o professor, ele mesmo, como vítima da violência, via salário precário e descaracterização da profissão. (Ao Estado, por não valorizar o professor como meio de transformação social...) A violência simbólica, bastante sutil, emana muitas vezes do livro didático que o professor utiliza. (Crítica ao livro didático, que não dá ao professor o suporte para trabalhar com os alunos...); 

• “A existência de técnicas sociais é particularmente evidente no exército, cuja influência repousa principalmente sobre a organização, o treinamento e disciplinas rígidas e sobre formas específicas de autocontrole e obediência.” (Karl Marx); 

• “... mas também na chamada vida civil, as pessoas tem de ser condicionadas e educadas para ajustarem-se aos padrões dominantes da vida social.” (Max Weber); 

• E aí, para que time você torce?

domingo, 1 de abril de 2012

Evolução na educação


 Por Germano Xavier

Subitamente, o sistema educacional vem incorporando artigos tecnológicos em sua base estrutural. A informatização do ensino é, hoje, fator de destaque para o progresso nesta área tão crucial para o futuro das democracias. Tudo muito útil, porém mal aproveitado. Como fazer da tecnologia uma esperança para o futuro? O arcabouço de ensino, antes obsoleto, conta hoje com os mais avançados recursos para a formação do cidadão. Equipamentos como a televisão e o computador estão se tornando itens obrigatórios nas salas de aula. Novos paradigmas de aprendizagem estão sendo fomentados, melhorando assim, tanto a vida do aluno como a do professor (será mesmo?). O que se enxerga, porém, é o mais profundo descaso como o nosso porvir. Material mal conservado, sem manutenção, e até esquecido, formam o retrato mais puro de todo esse desleixo. Fato que desanima, pois talvez com esse novo “apoio” os índices de analfabetismo não fossem tão alarmantes em diversos países do chamado Terceiro Mundo, e dos ainda em desenvolvimento. É de admirar que setores governamentais, por vezes, aleguem falta de verbas para serem direcionadas a tais investimentos. Cabe uma maior cobrança, pois assim as portas se abrirão para uma educação digna e de qualidade.

sábado, 24 de março de 2012

Apontamentos sobre Psicologia do Desenvolvimento


 Por Germano Xavier

• A Psicologia do Desenvolvimento estuda a evolução do ser humano em todos os seus aspectos, ou seja, no que concerne aos aspectos físico-motor, intelectual, afetivo-emocional e também social.

• Estudar o desenvolvimento humano significa conhecer as características comuns de uma determinada faixa etária, permitindo-nos reconhecer as individualidades, o que nos torna mais aptos para a observação e interpretação dos comportamentos.

• É de extrema importância estudar o desenvolvimento do ser humano, pois isso também significa descobrir que ele é determinado pela interação de vários fatores.

• Físico-Motor: refere-se ao crescimento orgânico, à maturação neurofisiológica, à capacidade de manipulação de objetos e de exercícios do próprio corpo.

• Intelectual: refere-se à capacidade de pensamento, de raciocínio.

• Afetivo-emocional: refere-se ao modo particular de o indivíduo integrar as suas experiências.

• Social: refere-se à maneira como o indivíduo reage diante das situações que envolvem outras pessoas.

• Sensório-motor: de 0 a 2 anos. A criança conquista todo o universo que a cerca; coordenação do movimento das mãos, olhos, uso de instrumentos, aceleração de habilidades, emoções primárias.

• Pré-operatório: surgimento da linguagem, interação com outros indivíduos, aceleração do pensamento, sentimento interindividuais, maturação neurofisiológica completada.

• Operações concretas: conhecido como Infância, início da construção lógica, lida com as operações, sabe sequenciar ideias ou eventos, vontade, cooperação.

• Período das operações formais: conhecido como Adolescência, pensamento formal, manipulação de conceitos, exercício de reflexão, ponto de vista, início de conflitos internos...

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Notas sobre a leitura no mundo


 Por Germano Xavier

A expansão avassaladora do Império Romano foi, entre outros fatores, um dos principais motivos para o desenvolvimento de uma cultura de leitura entre os indivíduos do mundo antigo e, posteriormente, em todas as épocas históricas vindouras. O Latim, língua que abarcou e agregou todas as “ferramentas” comunicativas e toda a produção de conhecimento da época, também representou uma forte arma para o progresso da prática da leitura naquela época. Todos queriam “beber” dessa fonte, pois era a partir dela que os indivíduos poderiam figurar em melhores condições sociais dentro do próprio contexto social em que viviam. Foi, também, com o advento da Reforma Protestante, formulada e praticada por nomes como Lutero e Calvino, que textos, antes considerados sagrados e extremamente sigilosos, vieram à tona, fato que acabou incentivando muitos leitores a desempenharem suas respectivas funções. Após este momento, a discussão sobre os relatos e passagens bíblicas começou a fazer parte do cotidiano das pessoas. Outro fato que ajudou a proliferação do hábito da leitura foi justamente a invenção da imprensa, em meados do século XV, pelo alemão Gutemberg, um dos maiores responsáveis pela popularização do objeto livro no mundo e, também, quem ajudou a lançar as premissas básicas e materiais para uma moderna e dinâmica economia baseada no conhecimento, assim como na disseminação da aprendizagem de proporção de massa. No Brasil, um pouco antes da promulgação do regime republicano, grande parte da população, principalmente a dos grandes centros urbanos, já tinham o conhecimento de publicações oficiais, como as vindas da Imprensa Régia e também por conta dos pasquins, folhetos de cunho revolucionário e crítico que circulavam livremente e/ou clandestinamente por diversos setores da sociedade. Pouco depois, a implantação de um sistema de ensino regular tornou-se no maior objeto para favorecimento da leitura em nosso país, fato bastante discutível nos dias de hoje. A partir de sua fundamentação, a escola passou a exercer função básica na construção de um país de leitores, o que, de fato, ainda é muito precário e de proporções diminutas se comparado a países do primeiro mundo. Claro, tudo isso antes da popularização da rede internacional de computadores: a internet. Daí para frente, é uma outra história.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O jornalista do interior do Brasil


 Por Germano Xavier

Quando pensamos em jornalismo, melhor dizendo, nas atividades jornalísticas essenciais, logo nos vem a idéia de que este é um tipo de trabalho sediado numa grande metrópole, ou numa cidade já bem desenvolvida, num lugar (a redação) repleto de jornalistas apressados andando de um lado para outro, com os seus cigarros nublando de uma fumaça densa o ambiente, no atropelo quase que inconsciente das horas e das notícias. Santa ingenuidade! É evidente que é muito difícil não pensar nisso. Pensamos, por vezes, até na séria possibilidade de que o desempenhar do jornalismo é algo impossível de ser concretizado longe desses obsoletos padrões estereotipados. Todavia, essa visualização/modelagem vem sendo desconstruída e uma nova percepção do jornalista está sendo modelada com o advento lento do passar do tempo. A verdade é que a demanda pelo trabalho do jornalista vem crescendo gradativamente, ao passo que o mundo se conecta globalmente e a informação vem se tornando aparato fundamental na vida de todos os indivíduos. Empresas renomadas e/ou em fase de crescimento, com uma visão diferenciada da maioria, estão acessando cada vez mais as informações adquiridas pelos profissionais do jornalismo, assim como os setores públicos, melhorando suas respectivas imagens e entrando também em quesitos que tocam a esfera da responsabilidade social para com os anseios mútuos de uma cidadania mais plena. Apesar de ainda muitos entraves de bases arcaicas ainda acometerem o pensamento que se tem acerca de um setor de comunicação, de informação, vê-se, cada dia mais, o interesse elevado de diversos conglomerados comerciais e também de algumas prefeituras em manter em funcionamento um complexo de imprensa bem arregimentado em seus arredores, para efeito de divulgação de propósitos os mais variados possíveis na internet, no rádio, na televisão e nos demais meios de divulgação de massa. É certo que ainda há um efeito de muita estranheza em se adotar um sistema de comunicação em localidades tão pequenas e afastadas dos grandes centros urbanos, assim como é certo também que estamos muito longe de termos – nós jornalistas interioranos – as condições mais dignas para o exercício sublime do nosso trabalho, mas é preciso estar ciente – sempre - de que é preciso seguir adiante, acreditando no progresso das mentes e das gentes deste país e de nossas queridas terrinhas, e contribuir de forma duradoura e verdadeira para a construção de uma humanidade mais digna e respeitável. Oxalá que tudo se encaminhe para o bem!

sábado, 19 de novembro de 2011

Traduzido


 Por Germano Xavier

A tradução é um ato impossível. Schopenhauer estava certo quando disse que “todas as traduções são necessariamente imperfeitas”. Os homens, nós homens, estão, diariamente, tentando fazer alguma espécie de tradução, sem suspeitar de que estão apenas correspondendo palavras e idéias, e não unindo os sentimentos na direção da vida em liberdade. Eu fico aqui pensando com os meus botões se é mesmo possível interpretar sensações ou fugir da naturalidade com que elas nos chegam. Não seria melhor abrir o peito duro e permitir a entrada do vendaval da poesia da vida, sem mentir algum discurso inacabado ou manipulado a nós mesmos e por nós mesmos?

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Serventia


Por Germano Xavier

Para que serve um texto? Certamente, esta é uma pergunta um tanto que pretensiosa, pois estamos dialogando com um assunto bastante amplo e, diria, ilimitado. Mas, por que ilimitado? A resposta é simples: porque os textos (gêneros textuais) sofrem influência do espaço temporal/tempo, assim como de todas as suas vicissitudes, sofrendo mutações constantes (transmutações) em seus modelos de organização e disposição de seus elementos, sem falar que novos gêneros são criados a todo instante, em diversas partes do mundo, em diversas circunstâncias. Os gêneros textuais são maleáveis. Os gêneros textuais refletem as mudanças pelas quais o mundo e o ser humano atravessam. A cada geração, novos gêneros textuais surgem, acompanhando as modernas ferramentas tecnológicas de comunicação que revolucionam o modo de efetuar a transmissão de mensagens, informação, conhecimento. Cabe ressaltar a importância e influência da internet, como também a fundação de um espaço virtual: o ciberespaço. Em outros tempos, as espécies textuais se restringiam ao romance, novela, conto, crônica, fábula, carta, apólogo, farsa, tragédia, ópera, revista, entre outros. Circunferência aumentada, nestes renovados idos, pelo uso do e-mail, torpedos, mensagens virtuais instantâneas. Construir o conhecimento e a cultura de um povo, registrando a história através da palavra e da expressão, este é o papel primordial que legitima a função de destaque dada aos gêneros textuais.

domingo, 4 de setembro de 2011

Signo linguístico e Saussure


Por Germano Xavier

Com base nos conceitos do lingüista suíço Ferdinand de Saussure, o signo lingüístico deve ser definido como uma unidade composta por duas faces diversas: uma face conceitual e uma imagem acústica, que corresponderiam, respectivamente, a significado e significante. O signo “tucano”, por exemplo, é a unidade que une uma face do som “tucano” a uma esfera de pensamento – como, por exemplo, ave silvestre. Ainda de acordo com Saussure, o conceito e a imagem acústica mantêm vínculos de ordem psíquica, já que necessitam de regras pré-modeladas mentalmente para se estabelecerem como signo.

Saussure revela duas características como sendo as principais do signo lingüístico: a arbitrariedade e a linearidade. Para o estudioso, a combinação entre significante e significado é feita de forma arbitrária, imotivada, determinada por convenções e hábitos sociais, fora do poder do indivíduo de criá-lo ou modificá-lo. Sendo assim, não haveria nenhuma ligação natural entre a idéia de “pé” (significado), por exemplo, e a seqüência de sons p-é-s (significante). Saussure destaca como exceção as onomatopéias, que, em sua concepção, remetem direta e objetivamente aos elementos da realidade que evocam.

Para Saussure, o significante, enquanto natureza auditiva, deve ser disposto numa só dimensão de ordem temporal. Tal propriedade, denominada por ele de linearidade, opõe-se aos significantes visuais, já que estes podem explorar mais de uma dimensão no espaço, podendo ser apreendidos simultaneamente e de diferentes maneiras. A partir dessa organização em cadeia, segundo a qual os significantes se sucedem uns após os outros, é possível a estruturação de um sistema lingüístico.

Quem sou eu, quem sou eu?


Por Germano Xavier

Da mesma forma que a cultura serve para denunciar o progresso da sociedade, o tempo serve para reformar ou construir novos conceitos e idéias. E, em se tratando do polêmico debate concernente ao estudo da identidade nacional (leia-se brasileira), fica ainda mais evidente e perceptível tal embate ideológico após uma análise mais acurada acerca do afloramento da visão de que o povo brasileiro deve ser pensado como a fusão de inúmeros fragmentos que, por conseguinte, irão desencadear numa unidade/singularidade frente outras etnias, fato esse que começou a ser mais bem tratado a partir dos anos 60 do século XX. "Nós somos um povo mestiço e isso não podemos esconder", assim escreveu Darcy Ribeiro, em seu influente livro "O Povo Brasileiro". Essa afirmação só vem a corroborar esse aspecto identitário nacional que, na pior das hipóteses, é completamente visível e indiscutível. Ou alguém aqui sabe dizer da verdadeira origem de seus traços? A formação de um povo "ninguém", como assim designou Darcy, mesclado e repartido em trejeitos europeus, africanos e indígenas, acabou implicando, querendo ou não, na produção dessa unidade multifacetada e multicultural chamada "brasileiro". O documentário homônimo à obra do grande pensador, antropólogo, escritor e político brasileiro, apresentando esse mesmo discurso, porém agora através de outra linguagem, faz brotar impactantes questionamentos no que diz respeito ao papel desempenhado pelos dispositivos midiáticos, ou melhor, que deveria ser desempenhado por eles, no justo desígnio de promoção desse universo homogêneo-total que é o povo deste país chamado Brasil.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

O artista e a liberdade


Por Germano Xavier

O artista é, por natureza, um vaidoso. Envaidece-se. Unta os olhos de contemplação, orna os caminhos por onde passarão seus delírios e, por fim, desfila pelos mais ermos logradouros sua imagem de mundo. O artista não teoriza, cria. E se teoriza não sabe se. De sua mão, primeiro instrumento de consciência humana, germina o sentimento vital, aquele que fomenta a manifestação mais pura da liberdade: a Arte. Todavia, será mesmo a Arte um espaço sem muros?

Nem a Arte é livre - posso pensar assim? -, já que só é capaz de sugerir e incitar emoções através de imagens arranjadas seguindo uma certa ordem, a ordem da composição. Mas é o artista o ser que está mais perto da independência, ou seja, da liberdade. É ele que, criando e recriando o belo e suas todas ramificações, destiraniza o espírito da humanidade. É o artista que, em certa medida, gera um processo de autonomia de personalidade, visto que nossos sentidos estão sujeitos a todas as espécies de inibições e repressões.

O verdadeiro artista é aquele que sofre, e do sofrimento se alimenta. E sofrer não é apenas dor. A alegria também pode ser sofrimento. O verdadeiro artista é aquele que vomita em qualquer forma de opressão. O artista é, literalmente, um vômito sem cor, formato nem recheio pré-estabelecido. Ou deveria. Ao refletir nos espelhos da vida as imagens traduzidas em seu interior, o artista se submete a um processo de mutação, conseguindo mutar, por influência, todos que da ação artística se alimentam.

Salve o artista, o pássaro pousado no farol das imaginações.


Publicado na saudosa "Revista Visões - Materializando Idéias", em 2005.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Todo texto


Por Germano Xavier

Todo texto é um hipertexto. É justamente sobre esse alicerce fundamental que Ingedore Koch vai tentar desvendar os segredos do texto plurilinear, ou seja, constituído de múltiplos sentidos, repleto de ramificações, conexões e possibilidades. Koch pretende o hipertexto como um complexo processual de construção de sentido. Resumindo, o hipertexto como um corpo plurilinear e multiramificado. Para ela, todo texto é um hipertexto, independentemente do suporte que utiliza, sendo que a diferença com relação ao hipertexto eletrônico reside apenas no suporte e na velocidade com que essas outras "direções" são acessadas. Como exemplo mais contundente, a autora cita o exemplo do gênero reportagem, que geralmente é circundado por boxes explicativos, sejam eles gráficos, tabelas ou mesmo fotografias. O hipertexto possibilita ao leitor ser ele uma espécie de construtor ou co-autor do texto, a partir do momento em que, na posse do objeto textual, o leitor desvela diversas fontes de informação, assim como diferentes aspectos e propriedades que só serão reveladas de forma aleatória e desfocada. Entre as características do hipertexto, estão a não-linearidade, a volatilidade, a territorialidade, a interatividade, o descentramento e a multisemiose. O principal componente do hipertexto, ainda segundo a autora, é o hiperlink, que é o dispositivo técnico-informático que permite efetivar ágeis deslocamentos, realizar remissões de outros textos, bem como possibilitar o acesso a outros campos informacionais. São três as funções do hiperlink: 1) Dêitica (indicar, sugerir caminhos, enunciar e focalizar); 2) Coesiva (entrelaçar discursos, amarrar informações); 3) Cognitiva ("encapsulador" de cargas de sentido, acionador de memória e de construção estratégica).

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Conceito?


Por Germano Xavier

- Amiguinho meu, tu me ensinas a voar um vôo nunca existido?
- Não, eu não posso. Um dia tudo já existiu.

Indo ao dicionário Aurelião, encontraremos o seguinte significado para o termo grego "Mímesis (Mimese)": imitação ou representação do real na arte literária, ou seja, a recriação da realidade". Roger Samuel trabalha dentro dessa perspectiva de exemplificação quando malina nas gavetas de suas teorias e de suas pestes. Por ser um conceito filosófico, portanto demasiado amplo, esta "imitação" a qual indica tal autor alcança um horizonte de discussão quase que ilimitado. Para Platão, mímesis é uma espécie de imitação da realidade (Idéia) em terceiro grau, um pouco distante do plano do pensamento original. Se no platonismo a mímesis ocupa um espaço recatado, sem grandes importâncias nem faculdades, em Aristóteles o termo vai ocupar um lugar de destaque, revelando-se como o processo pelo qual o fazer poético encerra variados símbolos e significados. A mímesis não é um exercício metalinguístico - como é óbvio que não deixa de ser, jamais -, porém ela mais se aproxima da metáfora, como energia vital e força propulsora integrante do núcleo poético. Sem tanto me alongar querer, mímesis está mais para um exercício de revelação externa ou interna de algo, tendo como ponto de apoio uma determinada realidade já existente, sofrendo influência do nosso inconsciente e, também, das circunstâncias diversas as quais estamos diariamente e temporalmente entrando em contato.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Brasis



Por Germano Xavier

A relação existente entre o excerto do livro Raízes do Brasil, intitulado de "Novos Tempos", cujo autor é Sérgio Buarque de Holanda, e o documentário "Casa-Grande e Senzala", sobre a obra de Gilberto Freyre, faz-se essencialmente visível na tentativa de ambos em explicar o processo de formação do povo brasileiro através de diversas teorias, explanações, conceitos e interpretações. A obra de Gilberto Freyre discorre tendo em vista o mito das três raças - Branco, Índio e o Negro -, partindo do pressuposto de que a junção dessas três raças constituiu o alicerce fundamental para a "construção de uma identidade brasileira, realçando as parcelas de contribuição condizentes a cada uma, através de seus costumes, crenças, línguas, entre outros aspectos". No texto de Sérgio Buarque é notável o enfoque dado aos conflitos e perturbações dos povos que aqui viviam no período colonial. Há também uma preocupação na questão da chegada dos imigrantes (portugueses, em sua maioria), que ocasionou mudanças no modo de agir e pensar dos nativos, retratando também as transformações ambientais. Segundo o autor, os velhos padrões da colônia se viram ameaçados com a migração forçada da família real, no ano de 1808; tal fato fez com que o país deixasse o anonimato para começar a ser pensado como uma ordem nacional propriamente dita. Toda essa modificação, drástica e rápida, veio contribuir para a germinação de um "caos", de uma desordem que atingiu mais especificamente os modos de vida rural. Em "Novos Tempos", Sérgio Buarque mostra o apego da sociedade atual moderna ao recinto doméstico, uma relutância em aceitar a super-individualidade. O autor questiona a importância da leitura para o cidadão (indivíduo). O texto deixa claro a existência de uma preocupação exacerbada com a gramática, com o Direito Formal, com a retórica e com a palavra, elementos que eram utilizados na fomentação de uma nova "realidade", mais artificial e livresca; fator esse que colocava a intelectualidade num patamar de sujeito diferenciador e segregante, já que o livro e a sua rotineira leitura funcionavam como um instrumento de elevação e de dignificação para aqueles que o cultivavam. A posição social ou a mobilidade social, de acordo com o pernambucano Gilberto Freyre, não estava vinculada diretamente com a aquisição de conhecimento, ou com a leitura de livros, mas sim à cor, ao poder, à hereditariedade e até à quantidade de escravos que um senhor tinha. O livro e a leitura, assim como a cor e o poder eram fatores de repressão social. O documentário conta a formação do povo brasileiro, enfatizando o fato da colonização explorativa dos portugueses, o contato com os povos indígenas e os negros trazidos de diversas localidades do continente africano. Esse povo - o brasileiro - acaba tendo uma singularidade, uma caracterização intrínseca, apesar da complexidade do seu surgimento; surge um povo com hábitos e costumes próprios. A verdade é que Sérgio Buarque tenta, através do nosso passado, enxergar o futuro. O Brasil, diz o autor, tem muitas características ibéricas, e que é justamente daí que é construída a sua cultura. E então?