terça-feira, 16 de agosto de 2011

O artista e a liberdade


Por Germano Xavier

O artista é, por natureza, um vaidoso. Envaidece-se. Unta os olhos de contemplação, orna os caminhos por onde passarão seus delírios e, por fim, desfila pelos mais ermos logradouros sua imagem de mundo. O artista não teoriza, cria. E se teoriza não sabe se. De sua mão, primeiro instrumento de consciência humana, germina o sentimento vital, aquele que fomenta a manifestação mais pura da liberdade: a Arte. Todavia, será mesmo a Arte um espaço sem muros?

Nem a Arte é livre - posso pensar assim? -, já que só é capaz de sugerir e incitar emoções através de imagens arranjadas seguindo uma certa ordem, a ordem da composição. Mas é o artista o ser que está mais perto da independência, ou seja, da liberdade. É ele que, criando e recriando o belo e suas todas ramificações, destiraniza o espírito da humanidade. É o artista que, em certa medida, gera um processo de autonomia de personalidade, visto que nossos sentidos estão sujeitos a todas as espécies de inibições e repressões.

O verdadeiro artista é aquele que sofre, e do sofrimento se alimenta. E sofrer não é apenas dor. A alegria também pode ser sofrimento. O verdadeiro artista é aquele que vomita em qualquer forma de opressão. O artista é, literalmente, um vômito sem cor, formato nem recheio pré-estabelecido. Ou deveria. Ao refletir nos espelhos da vida as imagens traduzidas em seu interior, o artista se submete a um processo de mutação, conseguindo mutar, por influência, todos que da ação artística se alimentam.

Salve o artista, o pássaro pousado no farol das imaginações.


Publicado na saudosa "Revista Visões - Materializando Idéias", em 2005.

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