Por Germano Xavier
Uma borboleta azul pousou em seu ombro de mulher. Um pouso suave, como deveria ser toda aterragem de borboleta. Bela e cintilante, a pequena notável tivera pousado em terras femininas. Talvez tivera sido atraída pelo cheiro da alma feminil ou, talvez, ficado encantada com a beleza, também singular, daquela moça.
A rapariga descansava seu corpo na sombra de uma árvore centenária, diria milenar. Seus olhos fechados não foram capazes de perceber a chegada da borboleta. A sensação das suas perninhas tocando aquela tez branca também não fora percebida. A borboleta abria e fechava suas asinhas, mexia suas antenas pretas como se estivesse querendo dizer alguma coisa. Mas a moça continuava em seu profundo repouso. Emprestar um pouquinho de beleza a este mundo tão feio e miserável, talvez fosse mesmo um trabalho muito árduo.
A tarde vinha chegando...
Depois de percorrer todos os cantos da menina, da cabeça aos pés e dos pés à cabeça, a borboleta, após um leve vôo, foi parar na orelha daquela criatura que não aparentava nenhum desconforto com todo aquele zigue-zague que o pequenino inseto imprimia. O sossego era tamanho que, se porventura caísse um meteorito ao seu lado naquele instante, devo crer que seus olhos ficariam ali fechados, trancados com as chaves dos sonhos mais distantes.
A borboleta insistia, mas nada acontecia. Foi aí que ela içou um resoluto vôo até a altura superior das costas da menina. Chegando lá, abriu suas asas de um reluzente azul-marinho e, como num passe de mágica, a borboleta atravessou a barreira do espaço-matéria da pele, fazendo-se tatuagem. Agora a jovem tinha uma borboleta azul tatuada em suas costas.
Não demorou muito e a menina despertou. Mas não foi um despertar comum, de humano; fora um avivar de borboleta, como se tivesse acabado de sair de seu casulo. Os braços foram elevados, os cabelos foram penteados pelo vento, as pernas serviram de um impulso e, de repente, um vôo. Um infinito vôo.
Um vôo de menina-borboleta... E nada foi como antes.
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