sábado, 31 de agosto de 2013

Potins


Por Germano Xavier

I

ferido de mortal beleza,
um torno me aper
ta e lambe e su
ga,
na monocórdia dor
de na
da ser


II

despejado na sola
do sa
pato holandês,
do anti
go avô,
o rapazola libava
a candura das esquinas
cor de ele
tri
cidade


III

limítrofe
passo
engolido

... o homem em pernas
limítrofes...

grítrofes,
atrofilamento
rouco
de liberdade

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Penumbra do corvo


Por Germano Xavier

adormecimentos
são pássaros fechando os seus bicos
de neve crescem
alpistas
de um verde rasteiro
nos bicos de neve
dos pássaros

enclausura-se um desejo
e tudo adormece
inclusive o silêncio

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Poema de assombro


 “Se tudo fosse tecido
De uma outra calma,
E se na tua face
Não tivesses este sempre
E eterno
Espanto assim
O que seria de ti, alecrim?”
(Jozailto Lima)



Por Germano Xavier

varzear as tardes de arcano
passear nossas buscas
eternas
varrer o vulto
a incerteza dos contornos
(incontornáveis?)
ser o gosto felino
e burilar sete vidas
vivendo e morrendo
cada uma
em cada achado
em cada espanto

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O de vanguarda


Por Germano Xavier

viver às turras
difundindo os pecados veniais,
ser bandido e ser herói
desviando do próprio desvio,
desgarrar-se em desenraizamentos
e provar mil provações,
tentar mil personagens
e no fundo ser não sendo vastidões

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

domingo, 25 de agosto de 2013

Poema para a mãe

Imagem: Deviantart
Por Germano Xavier

com palavras aproveitadas de Iara Fernandes,
para minha mãe


como você, podem até se abater
por conta de doenças, mas não se entregam.
possuímos músculos-coração que não batem à toa
e se recuperam fácil, como todo o resto da estrutura.
apesar dos pesares mais pesarosos,
eu vejo que me amas e tu vês isso em mim?

sábado, 24 de agosto de 2013

As tardes


Por Germano Xavier

“Serena, a eternidade espera na encruzilhada de estrelas.”
(Jorge Luís Borges)


Caminhar os ecos da alma
sob o adormecimento do sol,
cujos olhos fitam cada penumbra
escondida nos corações
humanos, que, indesejando,
são pássaros dizendo adeus
sem medo nem dor...

é fotografar sentidos
da mais bela jornada
secreta, onde o sombreado
que cai com a lua
é a fortaleza extra
para o rumar honesto e cônscio.

As tardes derramam a falência
do imaginável.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O sol em orientes

Imagem: Google
Por Germano Xavier

eu tenho aquele segundo
emprestado na ida infinita
num tempo marcado e ríspido
de tua boca larga a me dizer infâmias

tenho aquela imagem
perdida dentro do espelho sujo
na umidade escorregadia dos lavabos
de tuas ancas em dobras de origami

eu tenho aquele largo e insano
corpo de costas a me dar afeto
nas ilhas vazias de nós mesmos
a nos comprometer memórias

eu tenho aquele baque agudo
de nossos nojos alimentícios
fincados e puros
numa metodologia de afundamentos brandos

tenho aquela velha ânsia
em ficar me remontando
quebrando os vasos das flores mortas
e colecionando sementes
uma árvore frondosa espanta toda luz
mas é o verde que sobra
atrás da luminária de sombras derretidas

numa rota nova adentro atalhos obscuros
caminho sem plano e me formo alterado
olho em frente e um rosto me é tirano
e mais só vejo aquilo de que me engano

O Punctum


Por Germano Xavier

neste tropel de gente
o único que não mente
é o demente

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Um gesto contra a morte


Por Germano Xavier

Uma angústia me rebate.
Diante do grande e do ínfimo,
sinto que posso morrer
a qualquer momento
se não começar logo este poema.
É uma corrida contra tudo e todos,
mas meu menor inimigo é
certamente o Tempo.

É que passei lento,
ora sarjetei o mundo,
calmamente...
e esse mundo,
esse mundo de meu deus,
quase sempre nos atira
da janela
ou da alma.

Sei não se ele sabe - o Tempo...
mas mesmo encadeirado,
eu vivia viajando.
Como agora.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Verbo puro


Por Germano Xavier

Pálido pode ser o meu sangue,
sem-vermelho, rosada água grossa,
mas minha palavra não. Ela é
o que tem de ser, o que tem de sair,
o meu vômito e a minha dor instalada.
A palavra que possuo é antes a parte
sem parte de mim, o doce coagulado
feito de fel, minha incandescência.
Eu escrevo porque o verbo me preenche
de uma lama sadia, de um lodo podre
e pobre, sem o qual não vivo, não viveria.
É a minha sujeira que extravasa no papel,
que o mancha, que vira borra, uma porra.
Eu sou a palavra que não posso ser,
a agulha sem ponta que perfura, que entra
rasgando a carne da pele do osso do fosso
da parede da fossa. Está em mim a minha falta
de existência, meu rosário de elegias,
minha ingratidão sem porquês. E hoje,
após reaprender a matar, calculo o meu sopro
na boca do canhão, e trago a fumaça para dentro
do peito, na intenção de separar o que penso
das gestatórias molduras de deus.

domingo, 18 de agosto de 2013

Sobre almaços e arestos


Por Germano Xavier

Ontem, noite imensa, de amor matando amor.
Para renascer.

Na movência das maneiras
e das formações argênteas do dia,
como começar pelo início
se as coisas acontecem antes
de acontecer? Como não crer
na morte do deus, se é
mesmo possível? Se a morte de deus
é uma possibilidade, como a da vida...

Eu estou morto.
Morri na madrugada de hoje.
E ainda não sei como reagir
diante da minha morte, que é,
também, uma possibilidade.

Alimária sou eu?
Um compungido curioso de amar
impossível?
Meu destemor é
impossível?

Acabou de acorrer - o meu amor,
que era tão possível - diante do quadro
da noite para um socorro de faltas
e solidões. E querem nos convencer
de que não morremos totalmente
quando o deus morre.

Encostado no tapume, um ser quase andrógino
por detrás do madeirame vem,
morosamente, ao sol, portentoso.

É o deus que malha?
É o deus que, impromptamente, judia
e que se esquece de haurir?

Guardo gotas de codeína para a pavoneação
das efemérides, que sou pirotécnico.
Acostumado às mumunhas, e já sem bons angúrios,
coabito os infernos que armazenei como víveres.

As pessoas, sim,
as pessoas desembocam. Como o deus que existe também.
E a parte que teima fica porque é simplesmente imortal,
inatingível? Essa, engalfinhada em mim,
está porque não me pertence e é assim que o começo se agrava?
Começamos quando a parte que nos falta evidencia-se?
A quem direcionar minhas orações vou
se acaso a ferida recrudescer?

sábado, 17 de agosto de 2013

Meus tempos sobre motos

Fotografias: Germano Xavier (Em Iraquara-BA)
Por Germano Xavier

Meu currículo em duas rodas:

Quando comecei a pilotar motos: 14 anos

Primeira moto grande que pilotei: Suzuki GS 500E 

Primeira moto que comprei: Honda CBX 250 Twister

Viagem mais longa de moto que fiz: Iraquara-BA até Caruaru-PE (1.140km)

Maior quilometragem em cima de uma moto: 47.000 km numa CBX Twister 250

Quedas de moto: 2 na estrada da Matinha/Iraquara-BA

Motos que mais gostei de pilotar: Honda Sahara 350, Suzuki Boulevard M800, Yamaha RD 350, Suzuki GS500E e Yamaha DT180

Moto dos sonhos: Honda Shadow 750 ou qualquer custom da Harley-Davidson



Clique nas imagens para ampliar:

Em Morro do Chapéu-BA.

Em Jacobina-BA.
Em Saúde-BA.

Em Pindobaçu-BA.
Em Antônio Gonçalves-BA.

Minha Honda CBX Twister 250
Primeira viagem na Twister.
Minha CBX 200 Strada.
Eu e meu irmão.
Eu de CB300r.

Voltando de Irecê-BA.
Custom do meu irmão Gustavo.
Em Bonito-PE.



Tillergirls


Por Germano Xavier

para estas dançarinas do modal e literal desbunde,
televisivas ou não,
dissolvidas "na precisão decorativa do cálculo"
(Eduardo Socha)

Marcha, soldado!, na dança,
excita a massa testosterônica
e não faz ballet.

Vamos em marcha, soldado,
ao som da orquestra sinfônica,
trocando de pele em qualquer toilet.

Marcha, soldado, alinha o rouge,
assexuadamente paralela de tão massa,
massificada -Ó, minha pobre (donzela?)...

Marcha, soldado, de top cor pastel,
pois se não marchar direito
leva bronca no motel.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O encouraçado Potemkin e a lógica da revolução

Imagem: Google
Por Germano Xavier

O mar se abriu. Tormentas, só do passado. Hoje as coisas estão mais fáceis, alguém diria. Nem sei. Mas continuamos com aquele todo pesar. Uma hora ou outra tudo explode mesmo, tudo extrapolará. Ninguém nasceu para comer carne podre, com vermes em dança nojenta. E eles vão insistir sempre, não pense o contrário. Dirão que são apenas larvas, e que nada farão de mal ao organismo já acostumado com podridões. É quando a revolta aumenta e cerramos o punho de ódio, e não de outro sentimento. 

O mar não está para peixe. Quase nunca está. Já esteve algum dia? Está tudo tão desalinhado na linha do horizonte... nem sei o que dizer. Continuamos com aquele sempre penar. Em boa hora virá a mágica. Kabam! Alakazam! Um contra todos. Ou melhor, todos contra um. Não há nada de comestível nessa ordem invertida de valores em que vivemos. Antes, somos as comidas. Devoradas por especulações, máquinas, engrenagens macabras, sistemas, moedas, consumos, farsas, corrupções, bandidagens, esgotos de todos os tipos. O que fazer?

Recusar a carne fétida. Eis o princípio de tudo. A recusa é um ato de fé. Fé é um artifício de e para desobediências. Um dia tudo sai do controle. O mundo é incontrolável. Somos incontroláveis até certo ponto. Até o ponto final. Há no mundo vários Vakulinchuks, marinheiros das revoluções, bucaneiros das manifestações. Temos o poder de fazer com que os soldados abaixem as suas armas de Estado, seus canos de alienação. Do que precisamos?

Talvez, de alimentar os peixes com carnes lógicas e partícipes dos mercados. Peixes são animais carnívoros. E nem que eles não fossem... desceríamos as escadas, em multidão, tal qual uma onda abrupta, rompendo, varrendo os medos e as angústias de nossos abissos adormecidos, de costas para o passado, de frente para o futuro. Veríamos o quão bonito é a cor de nosso próprio sangue, quando derramado sobre a pele do chão que amamos. Veremos?

Sim. Até porque a vida está sempre recomeçando. Perdemos para um dia sairmos vencedores. Ninguém pode com a gente. Juntos, digo. Unidos, podemos tudo. Ou quase tudo, até mudar o mundo para melhor. Contra a injustiça, a força da coletividade derruba e aleija. Czares sempre existirão. Nossos filhos, que descem rolando mundo afora, precisam de mãos vivazes. Odessa será o marco de um triunfo pleno, onde homens e mulheres reabilitarão os mares de antanho, contaminados de perversidade e desequilíbrio. Somos intolerantes por natureza. Não esqueçamos disso, jamais. Mais carvão nessa fornalha, por favor, pois o mar se abrirá!

Partido Jimbo 1


Por Germano Xavier

A profecia do ser


Père Lachaise viu nascer
o que nenhum Deus profetizou- e os Deuses
estão ciscando nos chiqueiros

Courson foi dar a última,
chorou vitalícia 1971;
a porta entreaberta não era
o fim

então, guarda jovem
o pulsar

sinfonia rouca, louca
aventura

ataque, a sutileza
do drama eterno
num lisérgico em L.A.

acabo de viver,
acabo


Após entrar em transe, ouvindo repetidas vezes a negação existencialista simbólico-xamânica de um poeta do Rock, em The End.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Espetáculos de corte


Por Germano Xavier

para Jô Castro Lima

A desamena paisagem
sob a luz opaca, no palco
a voz sem cor da atriz mambembe e
a impressão de que tudo não passa
de um ontem triste
nas mãos de um impostor de hojes.

Minha saída sem porta, meu caminho
sem passos. Minha saudade rica
de futuros inconstantes, minha constante
febre de indestinos, meu navegar
inteiro, perdido no ermo pelas paredes
aquáticas onde dançam
meus cílios de sal, e o quadro que vejo
permanece intacto, destituído da queda
num pior roteiro.

Quando fecho meus olhos, abrindo
meus sonhos, indo e indo, em coro-paixão,
pantomina-desejo, no trote acortinado, nu
na catarse do ar que de ti emana,
no império da arte, no ar, aplaudo-te:
ato final do meu decíduo não.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Menino arisco

Imagem: Google
Por Germano Xavier


Um dia, sentado numa pequena amurada
em algum lugar qualquer,
fiquei a observar a labuta de uma mulher que varria o chão.
Depois de muitos volteios e de uma certa irritação na face,
acordei para o seu monólogo curioso:

"O menino vento hoje está um moleque arisco,
não vai me deixar trabalhar."

Pois que percebi a existência daquele menino
(e também da mulher que varria o chão)
construída numa relação de verdades
na dança da vassoura comprida aos dribles afetuosos
organizando as estações.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Guia


Por Germano Xavier

Ao calor do gosto da água
recebido em minha boca,
fujo.

O primeiro entre tantos

que, imarginado, não suspeitava
dos reais caminhos. Fui,

sempre, imitação de um verde-paisagem
imagético, que de modo a marcar
meu destino

me apanhava fácil, sem raiz.

Fui sempre um outro, desenhado,
matemático e inerme.
Afetado pelo frescor silente
dos acontecimentos,

adúlteros.

E fazia um branco esmorecido
a luz das catedrais que me cobriam.
Pelas noites caídas, eu me enegrecia.

E já não sei se a morte,
este arcanoso livro fechado,
deseja o meu traço já tão manso
e sem cor.

Resta-me um gole,
ácido, na espera do sempre
e tarde amanhecer...

domingo, 11 de agosto de 2013

Imagética


Por Germano Xavier

Cego, espreito tua distância finita.
Percorro as ondas da tua figura
e, abraçado ao espelho da amargura,
silencio minha vontade mais bonita.

Só o vulto de tua chama me acalanta,
e eu, vazio, imagino a fugaz candura
que derramas tu sobre a carne dura
desta cruel insensatez que m'espanta.

Teu retrato, perdido no tempo,
ausente em cada presença ressentida,
surge em mim como a flor no campo,

colorindo a nuvem cinza da vida.
Eu bebo tuas marcas de menina,
e, sem razão, vivifico ilusão mais fina.

sábado, 10 de agosto de 2013

difamação


Por Germano Xavier

Quando o arrependimento acoberta
o sentir, não há nada
que o faça levantar.
A mãe da tristeza aponta os olhos
e envia lampejos que ferem
- quando algo não se acerta
ou mesmo
quando a certeza é duvidosa.
O líquido, de amarguras feito,
escorre. Explode
uma bomba de lástimas,
amiga da dor, refém da esperança.
Oxida a corrente mais forte.
Sem licença pedir, obriga o gigante
à sua culpa. Um batimento entoa
mais caloroso por entre as veias.
Não é água e nem possui cor,
porém abastece a fonte seca d'alma.
Perde-se, horizonte.
Ainda inexplorada, numa outra dimensão,
flutua. Há maior infortúnio
que uma lágrima de amor?

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Indo


Por Germano Xavier

salta aos olhos as cordilheiras
da dúvida. sou só expectativa.

como agir doutra forma,
senão a de pararmos diante da novidade?

muita luz nestes instantes em que me desboto,
noites em que navego.
pelo bem querer de querer-me, viverei.
como a coruja das noites nevoentas
a tudo olhar com os olhos do mais resoluto desejo.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Lírico


Por Germano Xavier

rego
o verso
regoverso

ego
o verso
egoverso

ego
ver só

o verso
overso

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Lúdico


Por Germano Xavier

aquém
de mim
está o ego

além
de mim
está o ego

entre
e sem nenhum fim
entr(ego)-me

a mim

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Marzipã


Por Germano Xavier

Tarde azul d'encontro,
encontro azul de céu,
céu de dois em um;
somente um gosto,
gosto do marzipã na boca
- na boca da tarde.

Senhor de um bom fim
(Bom fim, qual mesmo é?),
andante eu em descobertas.
Joaninhas-canoras - existem?.

Mais real que surreal,
a ave-inseto peçonha do bem
existe sim! Besourinho joana,
de joaninhas asas abertas,
alados sonhos surgindo do simples.

Tarde azul d'encontro,
encontro austral de janeiro,
início de um bom fim sem-fim,
dos confins inóspitos e insuspeitos.

Ela simplesmente descia a ladeira
com passos de anjo,
exalando um puríssimo olor,
olor do mais puro afã.
Fruto doce: marzipã.

domingo, 4 de agosto de 2013

Cinco cordas duplas em intervalos de quarta


Por Germano Xavier

Joaquim vinha de longe nas alpercatas,
sacola de couro em uma das mãos
esbarrando zunidos ao vento,
nas costas uma guitarra barroca,
rosa de pergaminho em três dimensões.

Vinha depois de guerra ou coisa assim,
amada na espera por longo beijo,
aceno de face também longínquo demais
nas horas.

Titubeou, fez barulho de entrada.
Entrou sobremaneira.
Viu novo país na sala em meninos estranhos
sem Joaquim nos olhos.

Esqueceu, o pobre do moço,
que o tempo apaga a música guardada no peito,
que o tempo macula a flâmula
da paixão, do amor,
que o tempo pode ser o da renascença.

sábado, 3 de agosto de 2013

A bunda

Imagem: Deviantart
Por Germano Xavier

um enlace de outros tempos
num houvesse sem futuro
corroído pelo medo
marcado agora ficou
pelo mesmo tempo
sem medo
com futuros que haveriam

fomos nos atravessando
um de cada lado da vida
entre distâncias e apegos
e depois de tanto afago
rápidos no entanto
uma surpresa e um segredo

você me revelou as bandas
em várias cores tecida
num balanço bom de vida
me abalando por inteiro

a bunda que amaria
tão logo me abundou
de rogo de rubro de fogo
e de carmim pintei em branca
a carne d'alma que agora fora
para sempre inundada

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Grande e a máquina do tempo

Imagem: Google
Por Germano Xavier

Iraquara já foi uma cidade mais romântica e pacata, pelo menos para mim. Talvez eu já tenha sido, também, um sujeito mais romântico e pacato. Decerto que as coisas mudam o tempo todo, que as pessoas não permanecem as mesmas para sempre. Assim caminha a humanidade e este ditado já é bastante velho. Avenidas se alargam, postes são instalados, antenas captam e difundem o invisível, prefeitos prefeituram, obras são construídas, verbas são desviadas, amigos morrem ou somem, crianças crescem e se transformam em adultos, enfim... 

Eu só não sei o motivo, mas algo hoje me fez recordar de mais um capítulo de minha infância vivida entre os paralelepípedos de minha rua, a Tito Luna Freire - mais especificadamente nas proximidades da casa de número 17 -, que também foi a rua de muitos outros meninos e meninas que por aqui perambulavam atrás de uma brincadeira vespertino-noturna ou de um futebol de pés descalços.

Então, vamos aos fatos. O certo é que lá nos meus áureos tempos infantes, mesmo tempo que atravessava a vida de meus colegas de rua-escola, uma ocorrência sempre me tirava do solo que pisava. Era quase sempre no fim da tarde, quando a brincadeira de meter gols em travinhas improvisadas com chinelos sujos estava pegando fogo, sangue de todo mundo quente, e de repente, lá estava ela... a máquina do tempo! Não sei os outros, mas toda vez que a "máquina do tempo iraquarense" cortava a rua Tito Luna Freire eu me lembrava logo do clássico filme DE VOLTA PARA O FUTURO, película bastante exibida pelos canais de televisão nas tardes do início dos anos 90 do século passado.

Não, não precisa se espantar, caro leitor. É tudo muito simples. A "máquina do tempo" a qual me refiro não passava de um VW Fusca todo depenado, sem portas e sem teto, cujo dono era um pintor bastante conhecido nas redondezas àquela época e que, por ter uma estatura avantajada, atendia pelo nome "Grande". Um nome mais do que justo. As más línguas diziam que o fusca de "Grande" não tinha teto porque era o único jeito para que ele pudesse guiá-lo. Sinceridade, ver aquilo de perto dava um misto de susto e de engraçamento.

Pois assim era na Iraquara de minha infância. "Grande" e a sua "máquina do tempo" quase toda tarde apontava na esquina da minha rua e lançava-se entre os chinelos e os meninos jogadores de futebol. E aquilo era quase um evento, quase algo mágico, um negócio muito esquisito de bom. Todos paravam para olhar a travessia do gigante de longas pernas magras e seu possante de motor irrequieto. Eu ficava olhando, plasmado, para todos os detalhes daquela passagem. Fitava tudo e acompanhava o rastro de fumaça que saía do escapamento até o possante sumir nas dobraduras de outras esquinas mais ao longe, já no fim da rua.

Nunca mais senti algo parecido. Nunca mais vi algo semelhante, até porque aquilo havia de ser único. Os tempos são outros, é verdade. Os fuscas mais antigos são quase peças de museu hoje em dia. Meninos jogando bola no meio das ruas também se rarearam. Nossa capacidade de nos espantarmos com as coisas bonitamente simples também parece estar cessando aos poucos. Mas, está tudo bem. Esta é a nova ordem para os dias que vivemos. É aquela velha ladainha. Sorte de quem viveu e viu. No meu caso, vivi, vi e hoje bateu aquela boa e velha lembrança...

Sobre magia e duendes


Por Germano Xavier

Um caminho de pedra
tem mais flores
que um caminho de flores.
É óbvio.
As flores já são
a definida forma,
o desfecho.

As pedras, caladas,
carregam um teatro
em cada solitário silêncio,
e nos fazem acreditar
no feitiço mágico
dos duendes de jardim.
E é aí onde mora a moral da história:
a gente sente a menina eternidade
do imaginar.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Um quase soneto inevitável à maneira de Platão


Por Germano Xavier

sobre a sombra viajo e o verso,
que é parte de esperança inteira,
vaga e vou, a respirar poeira,
em dor infame e amor imerso.

desço ruas do tempo, avenida
que dá para a desgraça
mundumana - amor é traça,
monstro devorador de vida?

assim, o ser que sou, somente
destarte inseto vira (mutação
perene de instantes). ativação

em contorcer-se ferozmente,
renegando parte que lhe cabe,
se cabível for o negar d'amar-te.