sábado, 16 de julho de 2016

Manifesto do grito pela democracia!



Texto-montagem produzido pela turma 2014.2 do mestrado em Letras 
da Universidade de Pernambuco/Campus Garanhuns, 
apresentado em seminário da disciplina Literatura e Ensino, 
ministrada pelos professores Dr. Elcy Luiz da Cruz e Dr. Jairo Nogueira Luna.


Palavras não adiantam mais? Quantas defesas feitas para a nossa presidenta! E nada! Argumentos memoráveis, articulados, suntuosos... E nada! Como convencer quem não quer ser convencido? Será que palavras não adiantam mais? ADIANTAM SIM! Esse SIM não é o sim patético que ouvimos no Congresso Nacional há algum tempo, é o SIM de um grupo engajado na luta para fazer valer a palavra da defesa de um ideal democrático conquistado às duras penas pelo povo brasileiro.

Nós queremos liberdade. Queremos apenas expor nossas ideias, sem limites, sem prisões, sem exclusões. Queremos apenas o direito de ter nossos direitos garantidos. Não queremos mais do que isso. Queremos apenas LIBERDADE DE EXPRESSÃO, essa LIBERDADE de expressão que de uma forma golpista pode ser calada por facções que moveram uma guerra, apoiada por uma mídia avassaladoramente poderosa. Lamentável! Sigamos contra os oportunistas, contra os que querem sepultar a democracia. Não fiquemos inertes! O peso do chicote da censura poderá doer muito em nossas costas! O povo grita com medo da democracia escapar às mãos! Nossa democracia ainda engatinha, sendo um frágil rebento! “Os doutores da lei” querem nos tirar este rebento, querem nos roubar a última flor do nosso jardim, e querem que fiquemos calados. Nunca, jamais! Nosso grito ecoará na história!

Vamos insistir na manutenção do nosso direito ao jogo democrático, então é:

pelo direito à Democracia que lutamos, que brigamos, que insistimos...

pelo direito à Democracia que estudamos, que lemos, que insistimos...

pelo direito à democracia que falamos, que bradamos, que insistimos ...

pelo direito à Democracia que protestamos, que enchemos as ruas, que insistimos...

pelo direito à Democracia que, às vezes, silenciamos, que calamos nossa voz, mas insistimos...

pelo direito à Democracia que nossos pensamentos nunca se calam, antes bradam, esbravejam e, por isso, insistimos...

pelo direito à Democracia que jamais iremos nos prostrar diante de situações adversas que desonram o direito de todos. Assim, insistimos...

Sim, insistimos porque se faz necessário nestes tempos escuros, de homens partidos, como já dizia Drummond. Insistimos porque os direitos de todos estão sendo subtraídos por aqueles que falsamente nos representam e, dessa forma, nos desonram. Insistimos, pois é necessário agir.

Enfim, insistamos!

Nosso manifesto não cansa de falar em Democracia, palavra que vem do grego, que está sendo usurpada por um bando de patifes que deveriam estar sendo expelidos pela cloaca neste momento, aquela mesma cloaca que já ganhou contornos literários nos versos concretistas de Décio Pignatari. Nossa literatura neste momento é de luta, é de não aceitar o que está sendo imposto por um grupo de falsos moralistas, que querem o poder apenas para manipular os mais pobres, os quais conseguiram ascender um pouco com o governo que afastaram temporariamente com um golpe.

Não há dúvidas que nós, trabalhadores e trabalhadoras de camadas sociais menos favorecidas, estamos enfrentando um duro soco na democracia, pois são inúmeros os retrocessos já sinalizados por esse governo ilegítimo. Retrocessos que nem precisamos citar, porque o grito dos menos favorecidos socialmente já podem ser ouvidos nas ruas de todo o país.

“Se o penhor dessa igualdade conseguimos conquistar com braço forte, em teu seio, ó liberdade, desafia o nosso peito a própria morte!”

Como são fortes essas palavras do Hino Nacional brasileiro! Quantas conquistas alcançamos ao longo dos séculos, em diversos âmbitos, principalmente no politico. O direito de votar aos 16 anos, a liberdade de expressão que perpassa por qualquer assunto nos oportuniza a continuar lutando por melhores condições de vida. E agora, estamos prestes a perder! Jamais! Lutemos, bucaneiros!

Como ficamos esperançosos com um passado recente, vagas em Universidades Públicas ampliadas, direitos garantidos as empregadas domésticas e o acesso ao Profletras, esse por si só não deveria dar direito a ninguém que ingressou no programa e ser contra a nossa presidenta... e tantas outras conquistas! Vamos perder? Não! Lutemos, bucaneiros!

O impeachment é uma ferramenta jurídica e é regulado pelo Art. 85 da Constituição brasileira de 1988 e seu uso é restrito a casos que envolvem ofensas sérias (crimes de responsabilidade) feitas pelo presidente. Como as irregularidades contábeis na administração de fundos da dívida pública das que Dilma Roussef é acusada não se tratam de uma ofensa séria no senso prescrito pela Constituição, fica evidente que este processo de impedimento não é legítimo.

Então, não é exagero considerar esse processo de impeachment contra a presidenta um golpe branco que vai trazer consequências negativas e duradouras para a regra democrática brasileira. Nós consideramos necessário declarar nosso repúdio absoluto à destituição ilegítima da presidenta Dilma Vana Roussef em face de tudo que aconteceu, e, nosso apoio forte para a manutenção da democracia brasileira.

Trouxemos essa parte mais técnica no parágrafo anterior para aqueles que almejam algo mais jurídico, por isso nosso manifesto é completo, ele transita pelo técnico e pelo literário, e principalmente pela DEMOCRACIA!

Veio a nossa mente que o manifesto não é uma arma, e sim um instrumento que faz da palavra uma bandeira, um ideal, assim como o Futurismo iniciou sua caminhada com o “ Manifesto Futurista!, assim como o Comunismo conquistou seu espaço com o “Manifesto Comunista”, nós do Profletras 2014 não estamos iniciando nada, mas estamos fechando um ciclo levantando uma bandeira através de palavras a favor do democrático, mais uma vez sentimos no direito de evidenciar a literatura, nesse aspecto lembramos um poema que complementa nossa discussão: “Agosto 1964”, de Ferreira Gullar.

Agosto 1964

Entre lojas de flores e de sapatos, bares,
mercados, butiques,
viajo num ônibus Estrada de Ferro - Leblon.
Viajo do trabalho, a noite em meio,
fatigado de mentiras.
O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
relógios de lilazes, concretismo,
neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,
que a vida
eu a compro à vista aos donos do mundo.
Ao peso dos impostos, o verso sufoca,
a poesia agora responde a inquérito
policial-militar.
Digo adeus à ilusão
Mas não ao mundo. Mas não à vida,
meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
da punição injusta,
da humilhação, da tortura,
do terror,
retiramos algo e com ele construímos
um artefato, um poema,
uma bandeira.

Essa é a bandeira do nosso manifesto!

As coisas aqui no Brasil não estão em seus melhores dias. O cenário é de névoa. Tudo muito nublado. O futuro do país está em jogo. O futuro de um país que, ao que parece, será para sempre “o país do futuro”, e não o país do presente ou do amanhã próximo. Muito turvo é o horizonte. Um país de depoimentos ininterruptos. O drama é forte. Depoimentos quase sempre risíveis. Alguns não, a maior parte deles. Nem na literatura encontramos figuras tão caricatas, grotescas, teatrais, fanfarronas, cínicas. Assim são e/ou se portam muitos de nossos deputados federais, senadores e parte inteiriça da corja. Não dá para confiar na palavra deles. Acordos secretos escabrosos feitos. Panos quentes. Toalhas de enfrentamento ou desistência sendo vendidas, cargos, postos e depostos, compensações. Tudo muito escuro. O povo sem saber direito. Dúvidas. Incertezas. Medo. Ódios.

Somos contra o impedimento da Presidenta Dilma, por princípio. E por convicção. Não é bom para a imagem do país lá fora. Não é bom para a imagem do país aqui dentro. Não resolverá os reais problemas da nação. De nada adiantará. É evidente o propósito da oposição. Tomar o poder e não salvar o país. O que está para acontecer é um aborto. Impedimento, como o que está em trâmite e da forma como foi imposta, é uma violência na história política do país. Corruptos julgando outros mais ou menos corruptos. Um aborto, repito. Especialmente quando expõe e acentua a divisão política, ideológica, cultural, econômica e até regional de um país. Isso não favorece a igualdade no país, só reforça os preconceitos, os estereótipos. Um processo vergonhoso. No Rio de Janeiro e São Paulo, o carnaval pela democracia. Bem brasileiro. Bem a cara do Brasil? Mas o Brasil não é só o sudeste conservador! Pão e circo e o povo indo atrás.

Que país é esse? Uma calamidade. Na capital Brasília, um muro ergueram para separar os dois tipos de manifestantes, os dois tipos de “povo”. Aqui temos dois “povos”? Pode rir, se quiser. É cômico. Os que são contra e os que são a favor. É trágico. Um país de mais de 200 milhões de habitantes agindo como se dois times de futebol disputassem a final de um campeonato de futebol. O prêmio: a Taça do Poder. Um espetáculo. Uma imprensa manipuladora, interesseira e sem escrúpulos. Uma esculhambação geral. Desmoralizante. Uma tristeza. Torcemos nós para que nada disso se pinte de realidade e tudo fique como antes e que o antes progrida em face de melhorias necessárias a todos nós, brasileiros. Torcer. Torcer muito.

Sigamos, bucaneiros!

E, FOOOOOOORAAAAAAA TEMER!!!!!!!!!

(Todos assinam!)
**

* Imagem: http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2016/05/geral/501545-parada-gay-em-sao-paulo-vira-ato-de-fora-temer-e-volta-dilma.html
** Turma 2014.2 - UPE/Campus Garanhuns.

domingo, 10 de julho de 2016

O Equador das Coisas no I Encontro Baiano de Mídia Livre

*

Por Germano Xavier


E ao completar 9 anos de existência na internet, descubro que o meu blog, O EQUADOR DAS COISAS, que se transformaria também, em 2012, num jornal de literatura impresso (amor demais à Carol Piva, Karime Limon, Iara Fernandes e toda a turma que veio depois), foi selecionado pela Rede de Mídia Livre Bahia 1798, "que busca mapear e compartilhar conteúdos que fortalecem a liberdade de expressão, para participar do Primeiro Encontro Baiano de Mídia Livre, nos dias 10 a 13 de agosto. O evento, que acontecerá na Biblioteca Central dos Barris (Salvador-BA) e tem o apoio da Fundação Pedro Calmon, é uma iniciativa da rede de mídia livre Bahia 1798. O objetivo é promover um intercâmbio entre midialivristas, comunicadores populares ou comunitários, estudantes, fotógrafos, produtores audiovisuais, pesquisadores e produtores culturais do estado da Bahia, com agentes da mídia independente já consolidados em outros estados do país. A programação inclui ações de formação em quatro painéis e dez oficinas, com convidados de todas as regiões brasileiras. A inscrição é gratuita, disponível no site www.bahia1798.org". Represento o Território de Identidade da Chapada Diamantina, na categorização Produção Cultural: Literatura. Uma boniteza de dar gosto bom na alma e um presentaço de aniversário a este espaço que construo com todas as minhas forças, ao lado de meus leitores. Um salve, Pedro Caribé! Sigamos, bucaneiros!







* Imagens: www.bahia1798.org

domingo, 3 de julho de 2016

Um grito quando o carro passa

*

Por Germano Xavier


"Eu não tenho enredo de vida? sou inopinadamente fragmentária. 
Sou aos poucos. Minha história é viver. E não tenho medo do fracasso. 
Que o fracasso me aniquile, quero a glória de cair."
(Clarice Lispector, em Água Viva)


estou tentando encontrar o meu caminho. o caminho parece sempre ser feito de bifurcações. bifurcações nos levam, nos erram. acertar é difícil. o erro é latente. já vivi grandes crises assim antes. crises nos potenciam a ser mais ou a ser menos. com o passar do tempo elas se tornam mais poderosas, tanto no nível de sofrimento quanto no nível de transformação. transformar-se é um caminho. longo. real. imaginário. qualquer observação mais aprofundada não valeria a pena se não provocasse tormentas antes da calmaria. hoje sou o mar. o mar me leva. suas águas imensas. não estou na cidade. estou no porto das minhas ilusões. um grito quando o carro passa abrindo a manhã. tarde e noite. alvorada voraz. minhas mãos fechadas. meus olhos densos. penso que estou melhor do que há um tempo, tempo em que me encontrava de fato estagnado. agora talvez eu esteja on the road. eu devia estar feliz. não apenas porque tomei atitudes perante minha vida, em prol de minha felicidade, mas porque estou me pondo em movimento. penso cada vez mais na importância do movimento. o movimento é o caminho. nem sempre ele é de ascensão. porém, às vezes, é preciso descer ao fundo do poço para encontrar a mola propulsora que nos ajudará a subir. obrigado, esperança, por não me abandonar na minha dura tarefa de existir e ser quem sou. obrigado, dor, por não me facilitar o empreendimento dos meus passos, fazendo-me autor de esforços constantes. obrigado, vida, por me abrir suas portas da percepção, mesmo nas escuridões avulsas. obrigado, angústia, por me fazer revelações diárias. obrigado, amor, por ser. obrigado, poesia, pela palavra interna e inteira. estou tentando desencontrar o meu caminho. o caminho parece sempre ser composto de retas, intermináveis. paralelas nos içam, nos direcionam. errar é fácil. o acerto é distante. viver grandes crises é preciso. crises nos delimitam a ser mais ou a ser menos. com o passar do tempo elas nos tornam mais fracos e fortes. afundar-se é um caminho. curto. ficcional. sanguíneo. psíquico. qualquer observação menos sutil não valeria a pena se não provocasse paz antes da ebulição. hoje sou o céu. o azul me recorta. suas nuvens macias. não estou na zona portuária de mim. estou no monte das minhas verdades. um grito quando o carro passa fechando a madrugada. tarde e noite e dia e tarde e noite e dia. alvorada morta. minhas mãos abertas, meus punhos cerrados. meus olhos densos emergem um verde rural de minha ancestralidade provinciana. penso que estou pior do que há um tempo, tempo em que me encontrava de fato em movimento. para onde eu ia? agora talvez eu esteja fora da estrada. eu devia estar triste. eu devia não estar. eu devia parar de pensar em estar. penso cada vez mais na importância do nada, do sossego. a inércia é o caminho. nem sempre ele é o das perdas. podemos vencer a qualquer instante. a guerra é contínua. porém, às vezes, é preciso subir ao topo da pirâmide invisível para de lá deixar rolar vertigem abaixo a roda mortal que inventamos cotidianamente.


* Imagem: http://www.deviantart.com/art/The-rain-10524459