quinta-feira, 17 de julho de 2008

Corpo



Por Germano Xavier


meu corpo,
cota medievalesca imprestável,
em tardes de eu-sozinho
e em receitas exageradas
de se combinar braseiros,
apenas acende, no fundo,
a exata forma de uma existência
anulada, esgotada em dor.

o corpo, meu vestido
(multiplicante, pois sou vário)
de andar direito, direto,
reto?
é apenas ele,
o que se sabe dele.

não sou meu corpo,
como também não sou a palavra.
a palavra está.
o corpo está.
não são.
não me são.

tenho certeza, Affonso,
é sal meu corpo,
é sangue minha palavra.
e mesmo morrendo, pouco a pouco,
vivo onde e quando os dois,
o corpo e a palavra,
sem querer me ultrapassam.


* Imagem: Arquivo próprio.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

O mito de Atená de Palas



Por Germano Xavier



Zeus, tentando prevenir que o controle do Olimpo lhe fosse retirado por um futuro neto, engole sua mulher Métis, que se encontrava grávida de Atená. Completado o período de gestação e acometido por uma insuportável dor de cabeça, Zeus termina, ingenuamente, contribuindo para o nascimento de sua filha, ao pedir que lhe abrissem o crânio. Dele irrompeu a vitoriosa deusa. O destino dela seria, a partir de então, glorioso e grandioso.

Desde logo possuidora de sabedoria e coragem, a Atená de Palas se sobressai no universo cosmogônico dos deuses. Seu nome remete ao título de grande mãe e lhe faz juz: Atená é guerreira, justa, pacífica, protetora e sua existência em atos traz aos que lhe cultuam a fertilidades dos solos, o espírito criativo e a inteligência. A proteção das pólis, onde sua imagem habitava, expandia-se aos artesãos, tecelãos, crianças, governantes, enfim, ao povo. E este lhe era enormemente grato pela direção e conselhos que a deusa proferia. Inúmeros cultos, com diversas comemorações, recebeu a deusa ao longo dos anos.

Com a observação aguçada do mundo ao seu redor, Atená era a de olhos garços, majestosa e bela, acompanhada de perto pela reflexão e calma de atitudes. Em Atenas, considerada como a deusa virgem, concebe de forma singular Erictônio, seu “filho da terra”. E é demais uma vitória contra a tentativa de dominá-la (nesse caso, perseguida por um admirador inflamado de desejos). Sem receber o apoio dos outros deuses, Atená educa seu filho, futuro rei da Ática.

As inúmeras e repetidas vitórias ante as dificuldades marcaram o destino dessa Atená, que fazia brotar sempre de seus discursos a paz, a liberdade, a justiça e a democracia. Da Acrópole, ela transmitiu estes ensinamentos ao seu povo e fez prevalecer a ordem sobre o caos, antes reinante. Suas conquistas são também as da luz sobre as trevas.


quarta-feira, 9 de julho de 2008

O signo como representação de algo




Por Germano Xavier



A partir da leitura do texto Semiótica e Semiologia, de Carlos Vogt, e também das explanações em sala de aula feitas pelo professor Cosme Gomes, pude perceber que a semiótica está inserida num jogo abstrato-perceptivo ou, ainda, imaginário-sensitivo. Tomando como base o conceito de Charles Sanders Pierce, renomado lógico e filósofo americano, o signo é algo que possui a faculdade de representar alguma coisa para alguém. O objeto da semiótica, o signo, existe a partir do momento em que um dado significado é concebido como sendo aspecto universal ou universalizante. Em outras palavras, o signo, trabalhando conjuntamente com a parcela mental do indivíduo, adquire potencial necessário para incutir, nessa mesma mentalidade, um modelo de representação parcialmente ou completamente equivalente, com similaridade menos ou mais apurada. Com o pressuposto de que tudo necessita ser nomeado, assim como receber uma carga de significação no desígnio de construir um corpo unitário completo, a semiótica, vista aqui no tocante à teoria de Pierce, destina-se a estudar o signo em parcelas subdivididas, fato que auxilia no melhor aproveitamento de sua complexidade e, posteriormente, de toda a sua lógica física, psíquica e social.