O Equador das Coisas
| Desde 2007 | Por Germano V. Xavier | Em memória de Milton de Oliveira Cardoso Júnior | + de 2.100 textos publicados |
sexta-feira, 15 de abril de 2022
PEQUENO MANUAL ANTIRRACISTA, de Djamila Ribeiro
quinta-feira, 14 de abril de 2022
Como escreve Germano Xavier

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Nos primeiros três dias da semana é uma correria. Acordo por volta das 05:40h, pego o carro e viajo por cerca de 1 hora para uma das cidades em que trabalho. Ganho a vida como professor. Assim, reservo as noites para ler e escrever. A partir das quintas-feiras já tenho as manhãs livres. Depois do movimento inicial do despertar, sempre que posso vou ao cômodo onde ficam os meus livros e a minha escrivaninha. Ler é sempre prioridade. Reviso algumas coisas por fazer, escrevo e deixo o texto dormir. Tenho muitos textos que ainda dormem, anestesiados pelo tempo que matura. Vou soltando aos poucos alguns textos em meu blog (O Equador das Coisas), mas ultimamente a maioria vai para a “câmara do adormecimento”. O futuro serve para reativar a maioria deles. Nos finais de semana, quando não viajo, dedico-me mais ainda à escrita. Geralmente é quando escrevo textos mais longos em prosa. Poesia sempre representou um fazer literário mais espontâneo para mim, porém não menos trabalhoso.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu prefiro as manhãs. Já me acostumei a escrever dentro das manhãs. Estar inteiro dentro das manhãs é uma dádiva para mim. Preciso estar com a casa em profundo silêncio. Preciso escutar o som do teclado, o som da palavra saindo de dentro de mim. Uma vez ou outra coloco uma música para tocar enquanto teclo, em baixo volume. A probabilidade de encaminhar bem um texto é consideravelmente maior se se cumprida a totalidade ou boa parte desse ritual.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Já consegui escrever um pouco todos os dias. Ultimamente, por conta de diversas demandas, escrevo quando tenho tempo suficiente para escrever com calma. Tenho escrito mais em períodos mais concentrados, intercalados com tempos de leitura. Não tenho meta de escrita por dia. Não trabalho assim. Pelo menos, por ora. A pandemia atual bagunçou muita coisa nesse sentido, também.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Às vezes, o mais difícil é anotar, pontuar, detalhar caminhos para a escrita acontecer como quero. Por vezes, o texto simplesmente desliza por meus dedos e nasce. É mais difícil, mas acontece com boa frequência. Poemas não são mais difíceis de começar quanto contos, crônicas ou textos em gêneros de maior fôlego. Os poemas são os meus amigos mais próximos, mas já houve uma fase muito difícil para poemas. Eu andava lendo muito, muitos textos acadêmicos, leituras mais técnicas e os poemas simplesmente deram uma pausa de mim. Tiraram férias. Tenho muitos projetos de escrita em mente. Não sei como será num futuro próximo. Minhas rotinas podem simplesmente mudar de uma hora para outra. Eu gosto de pensar que nada é estanque, principalmente no ato de escrever, tão particular e ao mesmo tempo tão amplo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Quando percebo que o texto não está caminhando, simplesmente paro. Deixo para continuar em outro momento, em outro dia, em outra semana. Não fico triste por conta disso. Faz parte do processo. É quando me ponho a ler outros materiais, outros livros, escrevo outros textos e, de repente, percebo-me de volta ao texto que estava parado, que fiz questão de deixar parado. Os textos nos chamam, precisamos saber respeitar o chamamento dos nossos próprios textos. Alguns são preguiçosos, morosos, gostam de ficar por muito tempo em descanso. Com relação ao medo ou à ansiedade, sempre lidei bem com tudo isso. Sou muito calmo, muito tranquilo. Sei que não há como passar à frente do tempo das coisas. Sempre chega a hora certa. A hora certa é quando acontece ou quando deixa de acontecer. Se a gente ficar forçando a barra, talvez soframos mais. E isso não é bom, sabemos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Quando escrevo poemas, reviso uma ou duas vezes. Textos em prosa demandam um maior tempo revisando, relendo, reestruturando. Costumo enviar meus textos para outras pessoas somente quando decido publicá-los em esferas outras que não o meu blog ou outros canais de comunicação em que faço parte. A leitura do outro é altamente recomendável em diversos casos.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo em meu notebook, 95% das vezes, eu diria. Já foi diferente. Tenho quatro ou cinco cadernos com aproximadamente mil poemas escritos à mão. Era outro tempo, auge de minha adolescência até os vinte e poucos anos. Hoje quase não consigo mais escrever longe do computador. E não sei até que ponto isso é bom ou ruim, até que ponto melhora ou enfraquece o meu texto. Certo mesmo é que minhas duas máquinas de escrever hoje decoram ambientes mais que antes. De lápis, nunca gostei. Para os outros 5% restantes, utilizo canetas. Pretas, de preferência.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Uma pergunta de difícil resposta. Penso que as minhas ideias são ideias de uma vida inteira, costuradas pelas mãos invisíveis do Tempo. Não sei se há uma raiz, um local de onde elas partem de um dado princípio para assim atingir um respectivo fim. É quase um mistério. Creio que a leitura é o melhor a se fazer para se manter pensante, ativo, em processo contínuo de análise. Para um escritor, então, eu diria que é fundamental. Exercitar o olhar também é de grande relevância. Sem falar nos inúmeros benefícios da paciência, do respeito, da empatia, da revolta, do sincerizar-se… Bons hábitos nada mais são que processos de libertação.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Mudou a maneira de enxergar o texto, de ver a palavra, de escutar o ritmo e de lamber o sentido daquilo que pretendo burilar. Hoje, percebo que tenho mais paciência para lidar com as angústias do texto, com as agruras do escrever. Quando mais jovem, a palavra era explosão. Escrevia muito e quase sempre muito desordenadamente. Não que a desordem também não tenha o seu lado positivo, mas eu consigo conquistar um modelo de equilíbrio na escrita que me parece mais saudável hoje em dia, apesar das mil tarefas diárias que tenho de cumprir. Não tenho tantos espaços para falhas como tinha antes. A espada de Dâmocles hoje vive sobre minha cabeça. Finjo que ela não existe, mas sei que ela está acima de mim. Sabedoria é saber rir de tais situações.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Um romance cuja personagem principal seja a minha cidade natal (Iraquara-BA/Chapada Diamantina) ou personagens marcantes dela. Tenho uma coleção de crônicas e outra de contos sobre o assunto que funcionaram como uma espécie de treinamento. Sei que vai acontecer, mais cedo ou mais tarde. Tenho dois livros de poesia publicados e em 2022 lançarei mais um. Todavia, um dia minha mãe veio me perguntar quando eu iria escrever um livro de verdade… fiquei matutando sobre o dizer dela. É mais ou menos assim, não? Só vale se for em prosa, um romance, um livro grosso, de preferência que se sustente em pé nas estantes (risos). É óbvio que discordo disso… O livro que eu gostaria de ler e que ainda não existe está em minha cabeça. Tenho todo ele pronto. Preciso escrevê-lo.
Entrevista concedida originalmente ao projeto www.comoeuescrevo.com
sábado, 9 de abril de 2022
SPECTRUM LITERÁRIO EM ANGOLA: O CASO DE JOÃO TALA
domingo, 3 de abril de 2022
Sobre as festas particulares do corpo
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sábado, 2 de abril de 2022
SOBRE A ESTUPIDEZ, de Robert Musil
sexta-feira, 25 de março de 2022
Poemas estranhos e estrangeiros (Parte XIV - em Francês)
Por Germano Xavier
Tradução: Luísa Fresta
Poemas estranhos e estrangeiros
(Parte XIV)
Des poèmes étranges et étrangers (Partie XIV)
À la recherche des sirènes du Rhin
je suis parti tôt pour une
dernière journée de découvertes.
au dessus d’un énorme pont,
à l’ouest allemand,
j’ai traversé la Moselle en
respirant un air d’adieu.
l’Allemagne était déjà un dessein
conquis.
à Boppard, j’ai débarqué en Rhénanie
après avoir parcouru une forêt.
région bellissime qui
possède une délicieuse bière de blé.
tout de suite après, la
proximité de la Valée du Rhin
et toutes ses créatures
légendaires.
j’ai pris la direction de
Loreley avec une vaine attente passagère.
serait-ce vraiment possible
d’être avalé par ses charmes et ses recoins?
je m’interrogeais à ce sujet
et pendant tout le parcours fluvial,
entre deux châteaux
médiévaux en marge de ces eux froides,
je me suis mis à l’écoute, pour
vivre, qui-sait, un moment de défi attachant.
pourtant, je m’y attendais,
Loreley tenait à se déguiser
au milieu de bruits quelque
peu étranges.
ce qui est sûr c’est que ma
dernière première vision
d’une Allemagne presque
rurale et presque ancienne et presque
moins développée de ce
qu’elle est réellement m’a fascinée
par le regard et par
l’écoute.
«je suis chanceux de ne pas
avoir été avalé par le Loreley» — ai-je pensé.
P.S. Après cela, je me suis arrêté à Frankfurt am Main.
La nuit tombait.
Il était l’heure de dormir puis de rentrer au Brésil…
(Cologne, Valée du Rhin et
Frankfurt, le 17 juin 2017)
sábado, 5 de março de 2022
A VIDA NÃO É ÚTIL, de Ailton Krenak
sexta-feira, 4 de março de 2022
Poemas estranhos e estrangeiros (Parte XIII - em Francês)
Por Germano Xavier
Tradução: Luísa Fresta
Des poèmes étranges et étrangers (Partie XIII)
Une sorte de Pequod
la Mer du Nord était
toujours là dans mes pensées
depuis que j’avais quitté
Volendam.
je ressentais une sorte
d’appel, comme un cri.
mon après-midi venait de commencer
à Marken.
il faisait froid, il y avait
du vert partout dans les maisons en bois
des fenêtres ouvertes, des
gens nus là-dedans.
ils se déplaçaient à gauche
et à droite dans les pièces
insouciants, délivrés de
toute sorte de pudeur,
comme s’ils habitaient un
petit Éden.
au cœur d’un petit comté,
j’ai remarqué un Pequod ancré
sur un rivage.
et j’ai fixé le bateau
pendant un bon moment.
le froid me réchauffait le
cœur.
des souvenirs de voyages par
le biais des livres m’ont assailli.
c’était un moment simple et
beau
et j’éprouvais le besoin de
te le raconter.
(Marken, après-midi du 16 juin 2017)
quarta-feira, 2 de março de 2022
MENINA A CAMINHO, de Raduan Nassar
A escritora luso-angolana Luísa Fresta tece alguns comentários acerca do livro MENINA A CAMINHO, escrito no início dos anos 1960, mas que só começou a ser disponibilizado ao grande público em 1997. Seu autor, Raduan Nassar, exerceu diversas atividades antes de estrear na literatura em 1975, com Lavoura Arcaica, sua obra-prima e um dos grandes marcos da literatura brasileira contemporânea. Ainda neste vídeo, Angélica Carem nos oferta mais uma de suas preciosas dicas em sua coluna Fala & Escuta. #raduannassar #meninaacaminho
Sobre "êxodo,", de Carlos Gomes
terça-feira, 1 de março de 2022
O VELHO E O MAR, de Ernest Hemingway
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022
Não falta açúcar (ou Ainda a penumbra)
Por Germano Xavier
meia-luz. vamos parar o Tempo.
parar o Tempo pode ser voltar no Tempo.
entre a luz e a sombra, assombra sempre
o fantasma do que passa
e do que nos transforma.
gradativa mudança ou brutal revolução,
cada qual com seus caminhos. meia-luz.
vamos lembrar o Tempo. um Tempo.
para isso: quilômetros.
sim, a ampulheta está sobre a mesa.
escutar o Tempo também pode alongar
a vida dos instantes eternos. meia-luz.
em cima do que se ameniza para não ser susto,
ou surto, está a vontade de ler a página esquecida,
aquela última página que pode ser a penúltima
página esquecida, aquela penúltima página
que pode ser a antepenúltima quimera.
meia-luz.
que não sejamos o anteparo, a umbra, a antumbra.
sejamos o Tempo, mesmo líquido, mas o Tempo,
que é de onde todas as insurreições florescem.
sejamos, afastados das sombras das dúvidas,
o Tempo que ensina a fênix a nunca morrer.
o Tempo-Badalo, toante, que unido a outro
de mesmo ritmo, rapidamente se esquece,
sobretudo, do quão tudo mudou. e ficou.
* Imagem: Google
O QUARTO DE GIOVANNI, de James Baldwin
Poemas estranhos e estrangeiros (Parte XII - em Francês)
Por Germano Xavier
Tradução: Luísa Fresta
Des poèmes étranges et étrangers (Partie XII)
Odin et la Mer du Nord
l’attente était auspicieuse.
au bout d’un long trajet, j’aurais
la chance de toucher les
eaux
de la Mer du Nord.
Amsterdam je l’ai vue dès le
matin dans mon rétroviseur.
la route était mon chemin.
arrivé à Volendam, après
avoir dégusté des fromages typiques,
le froid s’est ancré dans ma
peau, et ce fut le premier signe.
j’ai traversé quelques
ruelles et les étroits couloirs de la petite ville
et voilà...l’énorme Mer nordique, le temple vivant des vikings!
lorsque je suis en plein
centre des cosmos historiques,
j’arrive à entrevoir des
départs, des arrivées, des gens,
des batailles, des joies et
des tristesses. c’était le cas.
la Mer du Nord m’a semblée
chargée de souffrance,
ses écumes discrètes
dévoilaient une complainte
dans la couleur du liquide.
en regardant la Mer du Nord
j’ai compris
que les vagues ne dansent
pas toujours dans les fêtes de corail.
(Volendam, matin du 16 juin 2017)
domingo, 27 de fevereiro de 2022
DIA DO PROFESSOR | MEUS PRIMEIROS PASSOS NA PROFISSÃO
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022
Poemas estranhos e estrangeiros (Parte XI - em Francês)
Por Germano Xavier
Tradução: Luísa Fresta
Des poèmes étranges et étrangers (Partie XI)
Des diamants, des canaux el le district de Lumière Rouge
en arrivant à Amsterdam, je
suis allé voir
des diamants. j’ai dit à la
dame qui montrait
les pierres «je viens de
Chapada dos Diamantes. qui
me dit que ce brillant ne
provient pas de chez moi ?»
elle a rigolé, mais mes
propos étaient empreints de révolte.
j’ai riposté méchamment.
d’ailleurs, je trouve toujours
un moyen de me venger.
au bout d’un petit tour à la
petite usine je me trouvais déjà
au centre de la capitale
hollandaise.une ville bellissime. des vélos.
beaucoup de vélos. de tous
les cotés. de toutes les couleurs. des vélos noyés dans les canaux. un festival
d’histoires sur les vélos et leurs propriétaires. j’ai pris du vin.
et le bateau a inauguré la
nuit.
j’ai contourné des rues
étroites e je me suis retrouvé
au district de Lumière
Rouge. j’ai donc tout observé minutieusement
autour de moi. une façon
singulière de se faire de l’argent,
de vendre le corps,
d’exploitation et de tant d’autres choses…beaucoup de jeunes
plein de fumée, de l’alcool
et beaucoup de drogues, je sais.
jusqu’à présent je me
rappelle des regards fugitifs de ces femmes dans les vitrines. à demi-nues et dénudées
de tant de choses. j’ai observé, mais pas trop.
je ne voulais pas les gêner.
la Hollande mérite
une attention spéciale. on
peut y trouver plein de choses qui sont déjà le futur, en quelque sorte.
ou pas. un jour, nous le
saurons.
à ce moment-là j’ai pensé à
Anne Frank.
j’ai tout de suite fermé les
yeux,
et mes pensées ont éloigné
la douleur.
(Après-midi et soir du 15 juin 2017)
domingo, 13 de fevereiro de 2022
GRAVANDO, de Aline Rocha
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022
Poemas estranhos e estrangeiros (Parte X - em Francês)
Por Germano Xavier
Tradução: Luísa Fresta
Des poèmes étranges et étrangers (Partie X)
Arômes du Nord
du coup j’ai vu surgir la Haye,
la troisième ville hollandaise,
comme si de rien n’était. juste
en passant, je l’admets. de manière fluide.
c’est un siège du
gouvernement, sans l’être, une sorte d’éminence grise,
la capitale. c’est là où
habite le Roi. Et il n’est pas nu.
j’ai admiré le Binnenhof, un
des bâtiments de la Cour.
mais, par moments, j’ai
éprouvé une étrange fatigue.
l’Europe, parfois, et à
certains endroits
de son territoire, nous
semble un grand bloc uni,
sous différents aspects, et
ce détail
peut être repéré aisément
dans l’architecture, le
paysagisme.
j’ai dribblé des touristes en
marchant vers le marché
que j’avais aperçu de
l’autre coté de la rue.
là-bas, à l’intérieur du
magasin,
j’ai goûté le jus d’orange
le plus orange de ma vie,
puis j’ai remarqué qu’il y
avait un Canta LX et je me suis mis à réfléchir à toute une problématique urbanoïde.
pourtant, quelque chose
d’autre attirait mon attention ce jour-là.
et ce n’étaient pas les
voitures Mini ni les édifices éclatants
des différents tribunaux
mondiaux
éparpillés dans la ville.
un arôme s’enracinait dans mes entrailles.
c’était la Mer du Nord,
vivant à l’horizon ouest.
les boucaniers savent que
les abyssales eaux du monde
dansent sous les astres.
(Matin du 15 juin 2017)