sexta-feira, 16 de julho de 2010

Eu que guardo rebanhos

Por Germano Xavier

"Porque quem ama nunca sabe o que ama/
Nem sabe por que ama, nem o que é amar..."
(Fernando Pessoa/1914)

Quando a noite dos dias aparecer na escama da tarde, lua nova pingando as doenças da alma, acredite no corpo vermelho de tua ânsia. Acredite que o tempo é o amor. Porque o amor é o sangue-instante coagulado em poços artesianos humanos. Não prive teu olhar para a lâmina côncava da água negra. Não prive tua mão ao reconhecimento do sol. E deixe, não queira, deixe o corpo em lança perfurar teu perfume... e viver o amor-fragata navegando mares sem cor. O não saber o suspeitável ou o não querer sentir fumegantes ares é o real dom daquele que sabe. Não precisa querer. Querer é matar-se. Não precisa precisar, a voz é rouca sentinela apática. Não olhe de longe a carga do teu ombro, a doença de ver extrapola o fio do terror tecido: o amor.