Por Germano Xavier
A modernidade se institui no século XVI. Entre a Idade Média e a Moderna surge o Renascimento, período em que há uma mudança no modo de pensar. O homem está mais próximo da natureza (universo) e se estabelece num diálogo entre o mesmo e seu universo. O pensamento moderno opera instalando uma nova forma de conhecimento do homem, baseada na ciência. A teologia racional cede lugar para uma nova ordem de reflexão antropológica, agora do homem-máquina e do homem-histórico. Para que isso acontecesse, foi necessário retirar Deus do centro do universo; o homem passa a ser o centro do Lógos (conhecimento). As coisas serão explicadas por elas próprias, e não exterior a elas, e para a suas constituições bastarão a observação empírica e a análise lógica. Nessa época, institui-se um novo padrão de racionalidade, pois a natureza como meio que explicava o que acontecia no mundo se reduz ao momento em que Copérnico e Galileu Galilei introduziram a Astronomia e a Física, respectivamente, no modo de pensar do homem. A razão é a fonte natural do conhecimento e possuidora de poderes para atingir a verdade, independentemente de qualquer força superior. O mundo agora é imperfeito, sem começo nem fim, assim como um espaço neutro, sem hierarquias nem valores. O homem adquire autonomia e é integrado a partir dele mesmo e das condições da subjetividade, em busca dos dispositivos mecânicos (mecanismo) posto no fundo do seu ser, os quais regulam suas relações de si consigo mesmo, com o outro e com o mundo, dando movimento à antropologia do homem-máquina. É a partir daí que brota a célebre expressão "penso, logo existo", que é a razão própria da existência. Ao duvidar de todas as certezas existentes, o homem se depara com a constatação de que estava duvidando, fato este do qual não se pode duvidar. "Na medida mesmo em que estou pensando, tenho a certeza que estou existindo". Esta é, para o homem, a certeza inquestionável, ela é evidente por si mesma, é intuitiva. Essas mudanças ocorrem justamente no momento de transformações fundamentais na sociedade européia; a Reforma Protestante, a Expansão Marítima, a Revolução Industrial e, consequentemente, a Revolução Francesa. Com todo esse processo que se dá, fica ainda mais perceptível de que antes da modernidade não existia o eu (absoluto, autosuficiente, moderno). É também neste momento que a igreja católica tem seu poder reduzido. Grandes pensadores da época vieram confirmar o poder da razão humana: Galileu Galilei insurge-se contra o logismo aristotélico (o homem atinge todo conhecimento possível); Espinosa estende a ciência ao mundo dos homens, afasta os mistérios e as restrições que impedia o domínio do saber, como os antigos; Descartes estende a "ciência" a todos os campos do conhecimento, da física à astronomia, da filosofia à metafísica; Freud descentra a consciência, que não é absoluta (dependente das funções, estâncias e efeitos); Marx descentra o indivíduo (a historicidade do homem não é individual, fala das relações de classes: burguesia e proletariado); Darwin explica que o homem deixa de ser o centro da natureza (a questão essencial da sua teoria é a adaptação: os mais adaptados sobrevivem). A alma, que já foi imortal, redonda, infinita, descobre-se mortal e finita. Os diferentes modos de racionalidade como vimos na antiguidade clássica, medieval, modernidade, pós-modernidade, acabam por se debaterem, uma vez que uma não se sobrepõe a outra numa linha evolutiva. Mesmo que um modo se torne hegemônico, não extingue os outros, os elementos são recompostos.
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