Por Germano Xavier
Da mesma forma que a cultura serve para denunciar o progresso da sociedade, o tempo serve para reformar e construir novos conceitos e ideias. E, em se tratando do polêmico debate concernente ao estudo de nossa identidade nacional (leia-se, brasileira), isso fica ainda mais evidente após uma análise mais acurada sobre o afloramento da visão de que o povo brasileiro deve ser pensado como a fusão de inúmeros fragmentos raciais que, por conseguinte, desencadearão em uma Unidade/Singularidade frente a outras etnias; ideologia essa que começou a ser mais bem tratada a partir dos anos 60. "Nós somos um povo mestiço e isso não podemos esconder", assim escreveu Darcy Ribeiro em seu livro O Povo Brasileiro. Essa afirmação só vem a corroborar um aspecto identitário nacional que, na pior das hipóteses, é completamente visível e indiscutível - ou alguém aqui sabe dizer a verdadeira origem de seus traços físicos? A formação desse "povo ninguém", como assim designou o autor da obra, mesclado e repartido em trejeitos europeus, africanos, indígenas e tantas outras derivações, acabou implicando, querendo ou não, na produção dessa "unidade multifacetada e multicultural" chamada brasileiro. O documentário, que leva o mesmo título da obra, dirigido por Isa Grinspum Ferraz, apresentando este mesmo discurso através de outra linguagem midiática - neste caso a televisão -, faz brotar impactantes questionamentos referentes ao papel desempenhado pela mídia, ou melhor, que deveria ser desempenhado por ela, no justo desígnio de promoção desse "universo homogêneo" que é o nosso país. O filme ainda conta com depoimentos de Chico Buarque, Gilberto Gil, Antônio Candido, Tom Zé, Aziz Ab'Saber, Paulo Vanzolini, Hermano Vianna.
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