domingo, 4 de setembro de 2011

Quem sou eu, quem sou eu?


Por Germano Xavier

Da mesma forma que a cultura serve para denunciar o progresso da sociedade, o tempo serve para reformar ou construir novos conceitos e idéias. E, em se tratando do polêmico debate concernente ao estudo da identidade nacional (leia-se brasileira), fica ainda mais evidente e perceptível tal embate ideológico após uma análise mais acurada acerca do afloramento da visão de que o povo brasileiro deve ser pensado como a fusão de inúmeros fragmentos que, por conseguinte, irão desencadear numa unidade/singularidade frente outras etnias, fato esse que começou a ser mais bem tratado a partir dos anos 60 do século XX. "Nós somos um povo mestiço e isso não podemos esconder", assim escreveu Darcy Ribeiro, em seu influente livro "O Povo Brasileiro". Essa afirmação só vem a corroborar esse aspecto identitário nacional que, na pior das hipóteses, é completamente visível e indiscutível. Ou alguém aqui sabe dizer da verdadeira origem de seus traços? A formação de um povo "ninguém", como assim designou Darcy, mesclado e repartido em trejeitos europeus, africanos e indígenas, acabou implicando, querendo ou não, na produção dessa unidade multifacetada e multicultural chamada "brasileiro". O documentário homônimo à obra do grande pensador, antropólogo, escritor e político brasileiro, apresentando esse mesmo discurso, porém agora através de outra linguagem, faz brotar impactantes questionamentos no que diz respeito ao papel desempenhado pelos dispositivos midiáticos, ou melhor, que deveria ser desempenhado por eles, no justo desígnio de promoção desse universo homogêneo-total que é o povo deste país chamado Brasil.

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