No texto intitulado EQUÍVOCOS NO DISCURSO SOBRE GÊNEROS, o professor Benedito Gomes Bezerra (UPE/UNICAP) repercute a ideia, sem antes deixar de problematizá-la, de que as problemáticas envolvendo a discussão acerca de gêneros no espaço de competência da linguística foram alavancadas a partir da década de 90 do século XX (o que não é de todo verdade), prioritariamente depois da fomentação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que incorporou o debate sobre o assunto em setores antes ausentes na discussão, tal qual o espaço da Educação Básica em território brasileiro.
A devida introdução da matéria em novos espaços e sua consequente reformulação atitudinal frente às novas demandas de giro e de pesquisa, por alguns motivos, não se deu de maneira completamente tranquila e simples. Um dos fatores, demasiadamente alegado por profissionais e estudantes do ramo, foi o fato de ser o gênero um tema em providencial ordem processual, de caracterização por demais recente, o que, para alguns pesquisadores de renome, não passa de uma ingenuidade até certo ponto grotesca.
Durante o transcorrer das páginas, o professor destaca alguns pontos nevrálgicos no que tange aos equívocos de pensamento/conceituação ao se trabalhar com gêneros, como a citar os conflitos presentes nas dualidades gênero e texto, gênero e suporte, gênero e domínio discursivo, gênero e forma/estrutura e gênero e tipo textual. Com base em recortes avulsos de material publicados em diferentes locais, instalou-se uma aproximação afetuosa para com as bases do problema, servindo de prisma norteador para não iniciados e já iniciados em estudos relacionados ao tema.
Por andarem muito juntos, os conceitos de texto e de gênero dão início às escaramuças linguísticas aqui citadas. Seus caracteres de “materialidade linguística” são importantes pontos de divergência neste embate; claro, cabendo ao texto em si essa especificação de algo de cunho mais material.
Para o caso da diferenciação conceitual envolvendo gênero e suporte, bastaria se pensar que o suporte é algum instrumento onde se instanciam textos em diversos gêneros, a citar como exemplo a rede social Facebook. A bem da verdade é que, sobre tal posicionamento, não há um consenso, explica o autor do texto. Todavia, para ele, seria mais difícil apontar o Facebook como sendo um gênero por questões até certo ponto óbvias.
Acerca do conflito existente entre gênero e domínio discursivo, fica evidente que há uma aproximação palpável do conceito de domínio discursivo com a ideia de esfera de atividade humana bakhtiniana, o que dá ao jornalismo, por exemplo, não a faceta de se portar como sendo um gênero, mas um campo de atividade por onde transitam variedades as mais diversas de gêneros peculiares ao referido espaço de abordagem/uso.
A forma, por sua vez, também não pode ser considerada um critério único para a definição do que realmente seja gênero. Do mesmo modo ocorre com o conflito onde se envolvem gênero e tipo textual. Para o professor Benedito Gomes Bezerra, os tipos textuais se configuram como aspectos composicionais dos textos que, por sua vez, pertencem a respectivos gêneros. Aponta-se, destarte, um caminho mais aprazível e racional para o manejo de tais imbróglios linguísticos, a se fazer perceber quando de um direcionamento possível: esclarecer a relação que há, pois, entre os conceitos de texto, de gênero e de discurso. Talvez, o melhor percurso a se seguir nesta direção.
REFERÊNCIA
BEZERRA, B.G. Equívocos no discurso sobre gêneros. In: DIONÍSIO, Angela Paiva; CAVALCANTI, Larissa de Pinho. Gêneros na linguística e na literatura: Charles Bazerman, 10 anos de incentivo à pesquisa no Brasil. Recife: Editora Universitária UFPE/Pipa Comunicação, 2015. p. 63-79.
* Imagem: http://www.pipacomunica.com.br/works/generos-na-linguistica-na-literatura/
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