Por Germano Xavier
A rua era a mesma. Algum movimento ali, algumas fofocas de bocas acolá... mas, no final, tudo acabava mesmo no sempre e eterno estado de início. Eram sempre as mesmas pessoas, as mesmas árvores, as mesmas calçadas, as mesmas sinfonias de vozes...
Certa vez, naquelas brenhas, passou um vendedor empurrando um carrinho de mão amarelo. A princípio, parecia um simples vendedor de iguarias caseiras tentando ganhar a vida honestamente. Todavia, quando ouvi de sua boca o anúncio que fazia do seu produto, tive o leve pressentimento de que não valia a pena viver.
O vendedor tinha dito, em alto e bom tom, “Olha aí o sonho! Somente cinquenta centavos!”. Aquela frase não soou bem em meus ouvidos. Posso até estar errado, mas durante toda a minha vida imaginei que os sonhos poderiam ser conquistados, com muito suor e, também com um punhado de sorte, porém jamais pensei que poderíamos comprar sonhos.
Vender sonhos, isso já o tornava um comerciante diferente e, talvez, vanguardista.
Outros poderiam dizer que eu estava exagerando, que eu estava “viajando na maionese” ou demais conclusões. Talvez o sonho fosse mesmo um bolinho feito com farinha, leite, ovos e com recheios diversos. Ora, o que é a fantasia senão a gordura da realidade?
O certo é que o vendedor sempre passava com seu carrinho cheinho de sonhos, e que rapidamente era formada uma fila de crianças, jovens e adultos. Todos compravam sonhos de cinquenta centavos. Alguns com recheio de goiaba, outros com recheio de queijo. Outras preferiam sonhos sem recheio. E os velhos, bondosos, jogavam pedaços de sonhos para os pombos da praça.
Quando a tarde chegava, era sempre a mesma coisa. O homem que vendia sonhos e um bando de esfomeados.
“Olha aí o sonho! Somente cinquenta centavos! Quem vai querer?”
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