terça-feira, 26 de março de 2013

Ondas nada comuns


Por Germano Xavier

O uso da esfera pública com a finalidade de formação de uma consciência coletiva (localidade), a democratização da comunicação e a promoção ao engajamento da comunidade em prol da defesa e da manutenção de sua particularidade social, possibilitando a geração de movimentos sociais que encontram no pleno direito ao exercício da cidadania a sua meta primordial, formando também "agentes políticos" saudáveis... Talvez sejam essas as três características mais desrespeitadas no ambiente de uma rádio com a concessão para ser comunitária. Em síntese, a maior parte das características e funcionalidades objetivas ligadas a qualquer rádio comunitária é desrespeitada e/ou desviada a partir do momento em que seu pensamento básico atrela-se, direta ou indiretamente, à mídia. Tal fato explica, de uma forma mais contundente, a desvalorização do caráter original das emissoras de rádio comunitárias. Perde-se assim o foco da racionalidade, abrindo espaço para a introdução de uma metodologia discrepante da que a origina. A defesa e a preocupação com o que é de ordem social e de interesse geral (maioria) da comunidade/localidade é reprimida a tal ponto que o cidadão é obrigado a aceitar posicionamentos que não condizem com a sua realidade, tornando-o alienado e reduzindo-o ao papel de mero consumidor de bens simbólicos. Há uma espécie de prática de uma "violência" simbólica por parte dessas estações transgressoras, um nuvem negra que sobrevoa a atmosfera cognitiva e intelectualizante de milhares de pessoas. Outro ponto a se destacar é a instrumentalização do meio comunicativo, nessa caso o rádio, por meio de figuras políticas ou partidos/legendas, com o desejo de angariar conquistas eleitorais. Uma apropriação indevida de um espaço destinado a outros objetivos, mas que serve de combustível para a máquina da corrupção. E o pior de tudo é saber que esses atos são, indubitavelmente, facilitados por administrações também fraudulentas. Muitos mitos são forjados através dessa prática ilícita. Desse modo, a comunidade acaba perdendo a vez e a voz, o direito à cidadania, à moral e à liberdade de expressão. Essa atitude, quando não aparece clara e inteiramente perceptível aos ouvidos do cidadão, surge camuflada, jamais perdendo o seu caráter degenerante. Não obstante, há a prática do que se convencionou chamar de "coronelismo radiofônico", entre tantos outras artimanhas que são utilizadas. Aqui o patrão (geralmente um candidato político) arma uma rádio comunitária, difunde suas propostas e, depois de se sagrar vitorioso - ou não - "entrega" a emissora à população, manipulando interesses e vontades que deturpam os anseios da massa.

Um comentário:

Yvana disse...

Muito bom texto, bem explicativo.
A força dos meios de comunicação, em uma sociedade em que eles têm "donos", como é o caso brasileiro, não está, pois, apenas no que eles dizem, mas também, de maneira contraditória, no que silenciam. Os meios de comunicação de massa, que designamos aqui pelo conceito de "mídia", constituem-se numa dimensão fundamental e central das sociedades modernas. Atualmente a mídia constrói a realidade. Algo passa a existir ou deixa de existir, em termos sociológicos, se é ou não veiculado. Ao mesmo tempo em que constrói uma realidade, dá a ela uma conotação valorativa, diz se aquilo é bom ou ruim, certo ou errado; toda informação carrega consigo uma dimensão valorativa, influenciando, desse modo as condutas e as motivações das pessoas. Além do mais, os meios de comunicação pautam a agenda do que o povo pode ver, ouvir e falar.
Nas democracias mais avançadas, ou sociedades de cultura menos autoritária, abusos e instrumentação da mídia são dirigidos principalmente para fora, para objetivos de dominação mundial. Todos sabemos que a imprensa pode destruir reputações, derrubar ministros e às vezes um governo inteiro. Foi uma campanha de imprensa, liderada por um grande jornalista, Carlos Lacerda, que levou Getúlio ao suicídio em 1954. Vinte anos depois, nos Estados Unidos, o presidente Richard Nixon renunciou por causa de denúncias da imprensa. Nas grandes democracias representativas, as democracias de massa, como Brasil, Estados Unidos e Índia, a mídia substituiu as praças públicas como o espaço em que se dá a disputa pelo voto. Obviamente, se o grosso dessa mídia se alinha a uma determinada corrente política, gera-se um desequilíbrio fundamental na disputa democrática. Finalmente, são esses meios que hoje constituem um novo personagem dentro de nossas casas, falam conosco muitas horas por dia, sem que possamos responder a eles, tais relações verticais influenciam fortemente a construção de nossa subjetividade. Mas nas regiões que ainda dominam o chamado (coronelismo) embora dito como extinto, existem os “eu falo” e “tenho dito” e sou o dono , ainda utilizam dessa comunicação para expor seus argumentos para enganar a população analfabeta politicamente, mantendo seu autoritarismo sobre essas pessoas .. Essas não são tratadas como pessoas; são, antes, consideradas como oportunidades e possibilidades de serem manipuladas e induzidas, em prol dos interesses, muitas vezes financeiros, daqueles que controlam o fluxo de informações, os detentores do poder.