terça-feira, 5 de março de 2013

Pobre de mim


Por Germano Xavier

Eu acordaria se não fosse um sonho. Os teus passos no corredor a estreitar a distância entre nossos encontros. Como não sonhar com tudo. Como não se ater às reminiscências mais puras e inspiradoras deste teu colo endeusado pelo tempo. Ah, pobre de mim que não passo de um punho mortal. Pobre. Onde estás? As tuas amarras em meu corpo, feitas com os cordões dos sentimentos profundos. Como não te enxergar ao flanco meu diante do espelho. Ah, pobre de mim que não passo de um poeta. Pobre. Onde vais? A cor do sol dos teus cabelos longos, clareando os caminhos por onde passei. Como não sentir-se preso ao teu semblante mulher. Ah, pobre de mim que não sou cupido. Pobre. Vais voltar? E esta tua epiderme tão macia e tão quente a produzir em minh'alma doces suspiros de amor. Como não libar do teu mel em todas as minhas sedes. Ah, pobre de mim que não sou loquaz. Pobre. Tu me esperas? Toca-me feito o acorde fino dado ao violino, com maciez e ternura de coração sincero. Como não tomar de versos e te cantar. Ah, pobre de mim que não sou serenata. Pobre. Viajas? Quanto quero o teu pranto a se juntar ao meu pranto e dele ver nascer a cachoeira de águas límpidas e cristalinas. Como ser indiferente às palpitações e turbulências mais internas. Ah, pobre de mim que não sei quem sou. Pobre. Estás longe? Quando passava com você, os jardins eram mais floridos e as flores mais coloridas. Como dizer-te a verdade que construo sempre ao tê-la pensamento. Ah, pobre de mim que sou sem brilho. Pobre. Vens? Por que deixa-me a perguntar para o vazio? Não se contenha tudo não passa de um sonho. Um sonho onde sou pó e esperança e você a deusa mulher. Eu acordaria se não fosse um sonho. Mas pobre de mim que sou só palavras. Pobre. Tens vida?

Um comentário:

Daniela Delias disse...

Estes textos tão cheios de perguntas e poesia são belos, incrivelmente belos.

Beijo, G.!