sábado, 9 de março de 2013

O dinossauro da Super


Por Germano Xavier

Imaginem um homem sentado numa pedra no meio de uma planície desértica. Imaginem agora que este homem não desconfia que a pedra é na verdade um focinho fossilizado de um Tiranossauro Rex. Agora junte à imagem os dizeres "Quem não lê não sabe o que está perdendo", usado numa propaganda da revista Super Interessante. Imaginou? Então, continuemos...

O produto de mídia que começarei a "analisar" a partir deste instante foi retirado de um exemplar da própria revista Super Interessante que, utilizando de seu espaço particular, acabou realizando uma espécie de esforço "metalinguístico", não na essência do significado, mas no átimo em que evidencia uma estratégia publicitária e de divulgação de sua marca dentro do produto que leva e eleva esta mesma marca. Seria isso um novo pré-requisito editorial? Uma nova "tecnologia" para a arte do convencimento? Ou uma nova e "esperta" maneira comunicativa? Não sei bem ao certo, mas esta ideia não me parece original. Faz lembrar os Parnasianos, a coisa da "arte pela arte"... Percebi que existiu uma maior (e bota maior nisso) preocupação com a linguagem visual do que com a escrita. Percebo um enorme fóssil de dinossauro, provavelmente um Tiranossauro, que ocupa quase que todo o campo da página fazendo alusão a um passado incomensuravelmente distante e mágico. No topo, um jovem pós-ultra-moderno vestido ou equipado a la American Way of life - como a maioria, claro -, completamente distraído, contemplando o horizonte e, sem se dar conta, sentado na estrutura óssea superior de um milenar e pré-histórico animal. Mas qual a moral da história? Qual a mensagem que a Super, utilizando-se da própria Super, quis transmitir? A frase presente na propaganda, que diz de maneira direta, "Quem não lê não sabe o que está perdendo", seria, talvez, a melhor resposta para estas perguntas. A informação, ou também a falta dela, ligando-se diretamente àquele velho dito do "ver mas não enxergar". Porém, o que o rapaz está perdendo? Pelo simples fato do rapaz não ser leitor da Super Interessante, ele perde a chance de perceber que não está sentado numa rocha, mas sim no focinho de um Tiranossauro Rex. E mais, perde a possibilidade de ter descoberto o mais novo parque arqueológico do mundo, que simplesmente estava ali, sob suas nádegas! E mais, perde a chance de se tornar famoso, de seguir uma carreira brilhante como cientista ou pesquisador, meramente por ter sido ele o dono da descoberta! Ficamos com a impressão de que a Super é um verdadeiro manual paleontológico, que vai nos mostrar os atalhos e os truques para diferenciarmos uma pedra de um dentre de um Tigre Dente-de-Sabre, por exemplo (desculpe a redundância). O rapaz poderia ser leitor da revista Galileu, por exemplo, fato que não o tornaria capaz de discernir a pedra do fóssil. Este conhecimento só é adquirido por advento da leitura da Super Interessante, e nada além dela. Só, e somente só, a Super Interessante pode mostrar o caminho para uma descoberta desta magnitude. Continuando a leitura e análise da propaganda, é possível extrair a ideia de uma sabedoria consumível, facilmente encontrada nas avenidas e ruas deste mundo. Lá está ela, saída do forno, imótua numa banca de revista, e agora até nas prateleiras dos Supermercados! A ordem agora é ler. Não apenas ler, mas ler a Super, pois só o seu conteúdo pode ser aplicado em seu cotidiano em prol, quem sabe, da humanidade e porque não dizer de um prêmio Nobel de "Faro Paleontológico", se caso existisse. Peço desculpa pela brincadeira. É que a situação chega a ser cômica. Imagine você no quintal de sua casa a olhar um líquido preto e mal cheiroso que brota do chão, achando que aquilo não passa de uma tubulação de esgoto quebrada. Entra ano e sai ano e você não dá a mínima importância para aquele pequeno vazamento, sem imaginar que seu quintal é um verdadeiro manancial petrolífero capaz de produzir mais de 1000 barris de petróleo e seus derivados por dia. E tudo isso porque a senhora não lê a revista Super Interessante todos os meses! Será que tudo isso é verdade? O certo é que a comunicação tem o poder de convencer e de deslocar o pensamento humano. O conhecimento e a informação pelo consumo (ou pela leitura), é o tema principal desta propaganda. Nada seremos se não lermos a Super, pois como ela mesmo diz no rodápé, "saber é Super". Talvez se não lermos, sejamos reduzidos à condição de insetos, feito o Samsa do Kafka. Meu deus!

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