sábado, 4 de janeiro de 2025

Rubra


 

por Germano Xavier

para Débora Xavier


alicatada entre tuas pernas,

esterçada entre tuas coxas,

está a cor que ama, está o som 

que apazigua, o calor que ameniza

a hora | quanto tempo durará o Tempo

quando o Tempo (ao teu lado)

parecer não durar?


e tu, rubra, carnívora alma,

ente que me habita o ser

em lampejos de prazer,

até quando esta quimera,

este sonho camuflado em teu batom?


| dobras o que não vive

em mim e me refaz homem-seu

até o espelho refletir apenas

a nossa manha, a nossa sanha,

o nosso assanho, o nosso amor |


tu és entrada para o paraíso,

porta entreaberta para as cordilheiras

do amar, rota impura, caminho molhado,

| melado | a me induzir erros nada errados.


sem piedade, gerencias o verbo das ânsias,

a palavra sussurrada, o gemido tênue,

o que brota de dentro. infalível, feito

uma dor no peito, impressa nos tantos,

tu me ensinas a te querer, mulher,

como ninguém fez.



* Imagem: https://pt.123rf.com/photo_84802705_menina-sexy-em-lingerie-e-meias-ilustra%C3%A7%C3%A3o-vetorial.html

O PERFUME DO MAR, de Jonas Ribeiro


 

Neste vídeo, Germano Xavier comenta o livro O PERFUME DO MAR, de Jonas Ribeiro e ilustrado por Márcia Széliga.

sábado, 28 de dezembro de 2024

Carta aberta ao meu último amor


 

por Germano Xavier

para Débora Xavier


            

Vou logo lhe dizendo que espero que você seja o meu último amor, o derradeiro amor. Aquele para levar até a eternidade, até o fim dos meus dias, até o sempre. Aquele para carregar no peito no momento em que eu atravessar as dimensões dos outros mundos, das outras vidas. Eu quero isso, amor, que você seja o meu último e o meu maior amor. Porque você mudou toda a atmosfera dos meus caminhos desde o dia em que nos conhecemos.

Meu coração nunca mais foi o mesmo depois de você. Meu corpo se reprogramou. Meus olhos ganharam mais cor. Minhas mãos, mais força. A mera rua se transformou no mais belo dos horizontes. Conhecer você foi a melhor coisa que me ocorreu nos últimos anos, amor. Sou muito grato por isso e por tudo que você me fez e faz sentir, todos os dias. Em sua companhia, nada é velho. Nada é como antes. Nada, absolutamente nada, é sem graça.

No auge dos meus 40 anos de idade, redescobri o prazer em estar vivo. Redescobri a poesia em mim. A palavra que estava seca no meu peito, agora cobre de luz o território das imensidões. A poesia está de volta. A palavra renasceu. Meus passos te seguem jornada adentro como um lobo caçando sua presa favorita. Observo tua voz, tão minha, tuas frases de dizer tanto, tua pele de sentir desejos. Tudo em você me encanta. Você me encanta, amor. Você me fez um homem apaixonado, detido em teus braços e aberto ao porvir. Amando-te, sigo, exageradamente aos seus pés, como bem sabes.

Vou logo lhe dizendo que espero que você seja o meu eterno amor. Aquele para levar até bem distante, onde nem os olhos conseguem ver. Aquele para ocupar a mente na hora mais certa de todas as horas. Eu quero você, amor, e que você seja o meu infinito, a mulher dos meus dias e das minhas noites. Porque você chegou e tudo agora é um só futuro. Meu coração nunca será um coração antigo, velho, fraco. Você não me permite regressar. Você só me permite avançar.

Meu corpo é uma lança perfurando o nosso amanhã, abrindo o sol e a lua. Meus olhos ganharam mais verde. Meus punhos, mais luta. Você é o agora, o meu presente, a minha paz. Ao seu lado, só carinho, respeito, cuidado e muito amor. Redescobri a literatura de amar, amor. A palavra que perfura o sonho e que mata vontades. A poesia está de volta, amor.

A palavra ressurgiu das cinzas, e escrevo agora para lhe dizer do meu amor por você. Quanto orgulho de nós! Tudo em você me enamora, tudo em você me diz sentimentos. Você me enche de prazer, amor. Você me fez um homem mais forte, decidido e muito mais feliz. Amando-te, sigo. Seguirei. Sinta tudo, amor. Permita-se. Segure minha mão, bem forte. Abrace-me. Beije-me. Seja o que você nasceu para ser. Minha. Para sempre!


* Imagem: https://depositphotos.com/br/photos/dois-cora%C3%A7%C3%B5es.html

O HOMEM ENCURRALADO, de Germano Xavier (3 poemas lidos, por Luísa Fresta)


 

Neste vídeo, a escritora luso-angolana Luísa Fresta lê, em português e francês, três poemas do livro O HOMEM ENCURRALADO, de Germano Xavier, publicado pela Editora Penalux (2021).

Encontre o livro em: https://www.editorapenalux.com.br/loja/o-homem-encurralado

domingo, 22 de dezembro de 2024

Ouro


 

por Germano Xavier


para Débora Xavier


| o ouro reluz |

tua pele absorve o denso

dourado do amor

a cor-imperatriz que revolve

o mundo em destinos tantos

e únicos


o ouro que agora em ti vigora

alcança teus olhos nus

de entusiasmo

e reverte o Tempo

das esperas


o ouro encontrado

nas jazidas do teu coração

é alma pura e faz girar

a roda que nos enreda

| união |


que o ouro burle toda turba

e nos convide ao gesto final

| quisto em quimeras |

como a morte e o flagelo

da solidão 



* Imagem: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2022/07/25/ouro-ilegal-do-brasil-e-ligado-a-refinador-italiano-e-a-big-techs-mostram-documentos.htm

ALI BABÁ E OS QUARENTA LADRÕES (As Mil e Uma Noites), recontado por Tatiana Belinky


 

Neste vídeo, Germano Xavier fala sobre a narrativa ALI BABÁ E OS QUARENTA LADRÕES, que faz parte do monumental As Mil e Uma Noites. O exemplar lido e comentado é um reconto produzido por Tatiana Belinky para a Coleção Clássicos Recontados.

domingo, 15 de dezembro de 2024

O vestido


 

por Germano Xavier


para Débora Xavier


por baixo do vestido

dou-te meu sobrenome

bem antes de nosso amor nascido

já havia promessa de amor tingido

em laranja | ou rosa (sua cor) |

num natural mistério em manifesto


por baixo do vestido

recolho o mel da mulher que amo

uma ânfora poética inteira entre lábios 

e corações | minha nação de estar

de bem-estar


por debaixo do teu vestido

existe um lar em que habito

casa de um só corpo em alma única

sendo dois o número de nossa sorte:

a do encontro


porque eu prefiro teu evangelho de amar

e nossas bocas entrecortando as noites

nos retirando dos desertos de antanho

nos referindo às águas quentes do hoje

(nosso mar)


teu vestido cobre o feminino fatal

que mudou o rumo de meus passos

que ceifou a inverdade de uma vida 

refinando minha nada cega vontade 

de ter você



* Imagem: https://www.amazon.com.br/Mulher-Vestido-Laranja-Abstrato-60x40cm/dp/B0CBCR26QN

NEM TUDO O QUE HÁ NO MUNDO (ANTOLOGIA)


 

Neste vídeo, Germano Xavier fala sobre a antologia NEM TUDO O QUE HÁ NO MUNDO, que marca o início dos trabalhos da Editora Arrelique na região do agreste pernambucano, principalmente na cidade de Caruaru-PE.

A antologia está disponível de graça (Kindle Unlimited) ou via compra no site da Amazon.
Lista dos autores presentes na antologia: Alisson Pereira, Alyson Monteiro, Carolina Azevedo, Clécia Pereira, Daniela Celi, Dave H. Santos, Davi Geffson, Edlúcia Rodrigues, Germano Xavier, Ivan Nicolau Corrêa, Iyan Oliveira, Jénerson Alves, Joana Figueirêdo, Luciene Alves, Manu Monteiro, Silvano Barbosa, Silvia Jussara Domingos, Thiago Medeiros, Urbano Leafa e Vitor Vieira.

sábado, 7 de dezembro de 2024

A(mar) é


 

por Germano Xavier


para Débora Xavier


eu te saúdo

feito o sol que toca tua pele

ancorada no prazer

feito a água do mar que salga

tua alma malina | eu te embarco

na onda do amor mais puro

que vem descendo e que vem

tomando o inteiro horizonte

e te remeto ao certo e simples destino 

dos amantes | eu te navego

com o mapa do teu corpo

em minhas mãos e a maré...

e a maré...


e (amar) é

nossa flutuação



* Imagem: Google

sábado, 30 de novembro de 2024

BRANCA DE NEVE, dos Irmãos Grimm (por Tatiana Belinky)


 

Neste vídeo, Germano Xavier fala sobre o conto Branca de Neve, dos Irmãos Grimm, em versão de Tatiana Belinky.

Estrada de infinitos


 

por Germano Xavier


para Débora Xavier


reconheço meu lugar

em tua voz-terra

o futuro dos meus passos

alinhados em alinhavos

a estrada de infinitos

curvados pelo destino

que me mostra o coração

dos agoras-e-além


reconheço em você 

toda dor vencida

toda vitória reunida

sob a égide do amor


o escudo que carrego

nos ombros largos

é força tamanha (imperiosa chama)

de se quebrar barreiras e de rumar idas

para bem distante do mal


reconheço minha casa

em teus aromas de não-distância

e para lá me vou

unido ao mar das coragens

ancorado nas velas de resgate

que me retiram do breu e me devolvem

para muito perto 

do paraíso


* Imagem: Google

ÉPOCA DE MIGRAÇÃO PARA NORTE, de Tayeb Salih


 

Neste vídeo, Cristina Seixas fala sobre o livro ÉPOCA DE MIGRAÇÃO PARA O NORTE, de Tayeb Salih.

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Invisível aos olhos, o amor


 

por Germano Xavier


para Débora Xavier


as coisas são assim

simplesmente acontecem

como quem nunca espera o trem

da vida na primeira hora do dia

como quem jamais se ancorou na quimera

e nos sonhos sem cor: e estamos

onde estamos?


(tu)

chegaste como o sol 

que me banhou a pele na mais memorável

das semanas (e dentro do Tempo: uma espera de almas)

que se reconhecem na aurora dos sons

no alvorecer dos sorrisos

na boca úmida sem o beijo

na força humana do querer


quem me dirá que a noite já me era dona

na redoma das demoras e dos fastios?

mas você me retirou da imperiosa

sanha de morte dos meus desacontecimentos


agora tudo é fúria (tudo)

arranha e tudo forja a glória 


e a manha das manhãs nos teus olhos d'amor


em teus pulsos me leva você

ao pioneiro dos rumos: o de amar loucamente

uma mulher como quem ama

uma fé


no fim

(de tudo que agora se inicia)

fica feito em êxito o novo em que me aposso

do tamanho do que nunca senti

originalíssima invenção do Real


aquele de ir sem desistir

mistério fundado em te amar

e só



* Imagem: Google

domingo, 27 de outubro de 2024

O TEMPO VOA, de Pedro Dias


 

Neste vídeo, Germano Xavier fala sobre o livro O TEMPO VOA, de Pedro Dias. #otempovoa #pedrodias #literaturainfantojuvenil #canalliterário #oequadordascoisas

sábado, 17 de agosto de 2024

VIDA E OBRA DE CAROLINA MARIA DE JESUS (LIVE)


 

Neste vídeo, Germano Xavier, Catarine Gonçalo e Alayz Vasconcelos (mediadora) conversam sobre a vida e a obra da escritora mineira Carolina Maria de Jesus, numa Live organizada pela Escola Municipal Cordeiro Filho, de Lagoa dos Gatos-PE.

Semana Literária EMCF/2021.
#carolinamariadejesus #vidaeobra #quartodedespejo #canalliterário #oequadordascoisas

terça-feira, 13 de agosto de 2024

Sobre a escritora Luísa Fresta (Texto para o Canal do Poetariado - Youtube)


 

Por Germano Xavier, 

em especial para o CANAL DO POETARIADO (YOUTUBE).


É com enorme satisfação que esboço aqui uma apresentação sobre a escritora Luísa Fresta, voz poderosa de nossa literatura contemporânea em Língua Portuguesa. Sua carreira literária é marcada por textos de tonalidades muito diversificadas, perfazendo um percurso que vai da literatura infantojuvenil às formas mais clássicas e tradicionais da poesia, passando por outros importantes gêneros como o conto e a crônica.

Luísa Fresta é amplitude portuguesa e angolana, uma dupl'alma concentrada em uma força-motriz-feminina que entrelaça Angola, Portugal, Brasil, Áfricas e Mundos em um coração delicado e dedicado a enxergar a mais pura arte literária nas situações mais comuns ou nas circunstâncias mais rudes. Suas mãos tecem um conjunto de textos que pontuam suas múltiplas influências culturais e humanas como quem aborda o próprio espelho das grandezas da vida. Uma mulher que a todo instante nos apresenta à lusofonia e ao africano, uma mulher que não se cansa em opinar sobre livros, filmes, artes em geral... uma mulher em constante movimento.

Com a escritora Luísa Fresta, aprendi que o essencial está por vir, ainda no próximo verso, ainda no próximo parágrafo, porque a literatura está no que avança e no que nos desdobra, no que nos recobra e no que nos aplaina, apontando para as mazelas mundanas mais irrefutáveis. Com a escritora Luísa Fresta, aprendi que é necessário perceber e revelar os centros das pequenas coisas, os núcleos sísmicos dos elementos que fazem a vida de todas as pessoas, mesmo que estas fontes interiores e, por vezes, ulteriores de e acerca da vida sejam ou estejam integradas à própria faculdade vital do ser humano: o viver, o estar vivo-e-além.

Ao lado de Luísa Fresta, numa jornada de parcerias que já ultrapassa uma década, aprendi que o verdadeiro poeta fotografa o caos, que o verdadeiro escritor registra os medos de nós-gentes e articula a chama que fará o fogo-máximo de nossas idas e vindas, de nossas descobertas e, também, de nossas decepções. Luísa Fresta soa quase sempre maternal, como uma mãe que ensina as suas crias os segredos do caminho.

A escritora Luísa Fresta nos questiona, em seus textos, se a felicidade é um bônus ou uma guilhotina. Dentro de suas palavras, tombamos por cima das farturas e das fraturas dos símbolos mundanos, adentramos o sagrado nas coisas triviais e bulimos com o absurdo das naturalidades cotidianas oriundas de convenções sociais e institucionais. Tudo isso, regado com uma pessoalíssima dose de maturidade artística e pessoal. Aliás, ensinagens não faltam nas páginas dos livros e na obra geral escrita por Luísa Fresta. E isso me chama muito a atenção. Luísa Fresta sempre está a nos ensinar algo. E de uma forma muito espontânea e inteligente.

A escritora Luísa Fresta, por vezes, quase ignora o real para nos abrir um mundo de percepções suavemente surreais, quando no tempo das intermitências e das incertezas da vida, colocando-nos numa posição de combate e, também, de respeito perante o tempo futuro. Afinal, o que faremos da vida que nos resta? O que estamos fazendo com o nosso Hoje, com o nosso Agora? Aquela velha batalha já por demais esgotada e profética: cada dia que passa é um dia a menos, não um dia a mais. Luísa Fresta tenta parar o tempo para que possamos observá-lo, tamanho o seu poder perante todos nós. Luísa Fresta é, por fim, a voz de uma humanidade revista e ressonhada, cheia de memórias e refundada em anunciações. 


* Imagem: https://www.voaportugues.com/a/4324514.html

domingo, 9 de junho de 2024

EVANGÉLICOS E PANDEMIA, de Pierre Salama


 

Neste vídeo, Germano Xavier fala sobre o livro EVANGÉLICOS E PANDEMIA, de Pierre Salama. #evangélicosepandemia #pierresalama #neopentecostalismo #canalliterário #oequadordascoisas

terça-feira, 4 de junho de 2024

Nivaldo Tenório e as camadas do conto


Por Germano Xavier



Em seu terceiro livro de contos, intitulado de NÍNGUEM DETÉM A NOITE (Confraria do Vento, 2017), o garanhuense Nivaldo Tenório, autor do bem cotado DIAS DE FEBRE NA CABEÇA (2012), faz aquilo que em seu livro anterior já havia, diria, iniciado, como quem repercute uma marca pessoal e a expande: a fabricação ou composição do conto em camadas. Da mesma forma (ou com a mesma fórmula), as narrativas são curtas e circundam temas cotidianos, com toques enxutos de realidade fantástica, quase que imperceptíveis. A morte entra como pano de fundo central e a noite engloba boa parcela de seu simbolismo. Doenças, fragilidades de corpo e alma, fraquezas de conduta, amarguras e dissabores formam o arco-íris pintado em tons de cinza do livro do escritor pernambucano. Como em DIAS DE FEBRE NA CABEÇA, tudo aparenta estar em seu lugar. Mas não se engane, leitor. Ao menor sinal, perdemo-nos nos finais sem fim dos contos de Tenório. Fragmentados, somos atraídos por um imã-maior como cacos e, só assim, seguimos adiante na leitura. Uma pequenina coletânea de abismos é o que Tenório nos oferta neste livro. Os contos, formulados em pequenas cadências, com diálogos internos ou não, formam uma geometria avulsa, completamente organizada, mas indefinida a partir de sua respectiva angulação final. O olhar de Tenório sobre o básico e sobre o essencial da vida é o de quem sonda o imprevisível com respeito e arguta paciência. O autor desvia o leitor do caminho comum à medida que nos informa sobre outros mil nadas por demais preciosos. Cada mínima camada de suas fabulações é uma nova dúvida instaurada, um novo segredo camuflado, uma nova observação momentânea que se realiza dentro das miudezas e das minúcias das narrativas. Algumas imagens podem turvar o campo de visão do leitor mais desatento, como uma tartaruga que morre durante um passeio familiar em plena ditadura. É um livro triste, denso, duro, cru, cruel, que não tem pena de seu interlocutor. Assim se formou a verve de Nivaldo Tenório, sabedor astuto de que é na vida, dentro dela propriamente dita, que nos criamos feito bichos, que nos desenvolvemos feito astros, dentro dela que aprendemos a desaprender submissões e a desatar os nossos grilhões. Em Tenório há sempre um suicídio prestes a acontecer, tão provável que quase não mais assusta, pois é ele tão próximo que tende a ser a única certa defesa com a qual suas personagens podem contar quando necessário. A mensagem é a de fim de percurso, a de que o homem (todos nós, inclusive eu e você, amigo leitor deste blog) não tem mais para onde correr. Não há mais força nas pernas nem picadas a abrir nos matagais de pedra das cidades. A luz do dia ofuscou nossa derradeira esperança e ninguém, absolutamente ninguém, parece ser ágil o suficiente para deter a noite eterna das civilizações.


* Imagem: Acervo do autor

sábado, 13 de abril de 2024

O SEGREDO, de Rhonda Byrne


 

Neste vídeo, Rebeca dos Anjos fala sobre o livro O SEGREDO, de Rhonda Byrne. #osegredo #rhondabyrne #rebecadosanjos #psicologiapositiva #canalliterário #oequadordascoisas

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Então você quer ser escritor?


Por Germano Xavier


Para quem gosta de contos, o livro ENTÃO VOCÊ QUER SER ESCRITOR?", do paranaense Miguel Sanches Neto é um prato a ser devorado com uma fome necessária. 16 narrativas perfazem o miolo. Personagens aparentemente simples, mas que portam angústias e conflitos nada medíocres, todos desenrolados com maestria. A verdade é que nada no livro impressiona muito. Nada há de exagero nem de estapafúrdio. O fantástico e o inominável passam longe de suas linhas. Há uma intensidade linear em todas as estórias, e por isso mesmo o livro ganha créditos nas mãos de quem o lê. É um livro suavemente denso e densamente sutil, mas ardiloso. A literatura contemporânea praticada em sua excelência, talvez. Linguagem corrida, deslizante. Diálogos avessos a qualquer tipo de ostentação linguística de estilo. A comunicação em primeiro lugar. Enfim, um livro de contos, com 16 contos muito bem instalados e cada um com vida própria. Diversidade, neste caso, interessa e muito. ENTÃO VOCÊ QUER SER ESCRITOR? não é nenhum mapa astral para quem quer ou está começando a se enveredar pelos caminhos árduos, traumáticos e prazerosos da literatura, como pode sugerir o título. Porém, se observado sob tal viés, o livro de Miguel Sanches Neto pode surpreender como livro-aula. É difícil dizer, numa primeira leitura, qual a principal qualidade do livro de Sanches. O livro habita um território onde todos podem estar. Os leitores são rapidamente levados a vivenciar tudo, pelo simples fato de que nada ali é irrealizável. Nota-se um esmero nas frases e no discurso das entrelinhas. Um livro de contos sem romantismo, mas com alto teor de nostalgia. Há sempre um momento a ser revisitado, não se sabe se pelo próprio autor ou se pelas personagens. Uma obra embriagada por ela mesma, posto que se sabe dentro de si e existível além: precondição nada para o tornar-se diferenciado. Longe de querer classificar o livro de Sanches utilizando de qualquer artifício, ele, o livro, é digno de leitura. Coisa rara hoje em dia, onde tudo que é escrito parece sair das genitálias dos "escritores", descarregados de muitos elementos básicos e fundamentais para o elaborado exercício da prática da escrita ficcional. Hemingway já dizia: "A maioria dos escritores vivos não existe" - esta citação está destacada no último conto de ENTÃO VOCÊ QUER SER ESCRITOR?, e me serve agora para dizer o fim destas poucas ideias. Miguel Sanches Neto está vivo e existe. Você duvida? Sugiro começar o livro pelo segundo conto, intitulado de Árvores Submersas. Talvez ele só já te prove alguma coisa em caráter de urgência, e aí você pode continuar o nado sem grandes tribulações na consciência sobre o uso do seu tempo.

domingo, 7 de abril de 2024

O ÚLTIMO SACI, de Renata Limão Campos


 

Neste vídeo, Germano Xavier fala sobre o livro O ÚLTIMO SACI, de Renata Limão Campos, com ilustrações de Juliana Scatolin.

#oúltimosaci #renatalimãocampos #julianascatolin #literaturainfantojuvenil #germanoxavier #canalliterário #oequadordascoisas

quarta-feira, 27 de março de 2024

Não haverá futuro


 

Por Germano Xavier


não haverá futuro

até que se aprenda a aproveitar o dia

como uma estrutura sólida de sempres

até que se possa viver o hoje 

sem o incômodo destemperado do Tempo

não haverá futuro

antes de mais nada que não seja nada

ou mesmo depois do pior

não haverá

futuro sem amor

se não intentarmos a ferina variação

dos nossos humores

dos rumores e dos tumores e dos temores

não haverá futuro

se continuarmos a espionar nossas presenças

com os olhos autogovernados dos sistemas

surpreendentemente secretos do amanhã


sobremaneira

não haverá futuro


somente o saldo romântico das contestações



* Imagem: https://www.notibras.com/site/solidao-vira-risco-para-o-futuro-dos-jovens/

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

OBRA LITERÁRIA, NÃO LITERÁRIA, ANTOLOGIA E COLETÂNEA, por João Fernando André


 

Neste vídeo, João Fernando André esclarece os conceitos de Obra Literária, Não Literária, Antologia e Coletânea.

#obraliterária #conceitosliterários #teorialiterária #joãofernandoandré #canalliterário #oequadordascoisas

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Os abismos de Trevisan



Por Germano Xavier



Para começo de conversa, que capa belíssima a da segunda edição desse livro, datada de 1979! O título: ABISMO DE ROSAS. Que título, Dalton Trevisan! Só podia ser mesmo um livro escrito por vossa senhoria, mestre da amplificação semântica das palavras mínimas. Os minimamente iniciados nesta lida chamada de literatura já podem desconfiar: ABISMO DE ROSAS é um petardo vindo em direção ao coração do humano. Um sedutor furacão feito de palavras-além que arrasta homens e mulheres, meninos e meninas, crianças e adultos, para os centros das vivências instantâneas, para o vértice das experiências mais fugidias, furtivas, aligeiradas. Lugares triviais e espaços inesperados formam a selva representativa por onde as personagens nadam de braçadas em busca da vida e da morte, seduzidas pelas fragrâncias inequívocas das horas mais cotidianas.

Há alguns anos, eu tinha bastante dificuldade em engolir Dalton Trevisan. Não gostava do modo peculiar de escrita dele. Hoje, mais maduro, com mais envergadura leitora, consigo degluti-lo e também confirmar o grande literato que é. O ABISMO DE ROSAS é mais um livro poderoso do Vampiro de Curitiba. São 21 contos curtos por onde putas, “degracidos”, aliciadores, bêbados e outros personagens típico-clássicos de seu já consagrado repertório se integram num microcosmo que resume bem toda a aurora de nossos dias, tanto a que é vista/revista quanto a que é insistentemente camuflada e/ou interrompida propositalmente pelos meios de comunicação de massa, primordialmente.

Dia desses, participando eu de uma edição da Toca Literária, oficina de criação literária regida por Marcelino Freire, o autor pernambucano reiterou a importância do Dalton Trevisan para a literatura nacional e, também, como influência em sua carreira de contista. Convenhamos, todo livro do Trevisan é uma aula particular de como elaborar diálogos arrebatadores. Só por isso, já vale a leitura, não obstante o toque lírico que dá à temáticas envolvendo o escatológico, o bestial, o insano, ao que é tido como sendo de natureza imoral, às sanhas e idiossincrasias humanas. Enfim, eis um autor de estilo marcado, próprio, personal. Condenados estamos a este abismo gutural que é a vida. De rosas ou não, só vivendo e lendo mais para saber. 

Evoé, Trevisan!


* Imagem: https://www.skoob.com.br/abismo-de-rosas-648794ed650841.html

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

O GARIMPEIRO DO RIO DAS GARÇAS, de Monteiro Lobato


 

Neste vídeo, Germano Xavier fala sobre o livro O GARIMPEIRO DO RIO DAS GARÇAS, de MONTEIRO LOBATO.

#ogarimpeirodoriodasgarças #monteirolobato #literaturainfantojuvenil #germanoxavier #canalliterário #oequadordascoisas