VIEIRA, S. R.; BRANDÃO, S. F.. Ensino de gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007, p.121-146.
A problemática envolvendo a questão da COLOCAÇÃO PRONOMINAL, principalmente com relação ao seu uso/ensino, termina por revelar de antemão a grande ligação existente entre a Fonologia e a Morfossintaxe, do mesmo modo que serve de ponto de apoio para identificar reais aproximações e/ou divergências no tocante ao uso da língua portuguesa tanto no Brasil quanto em Portugal.
A colocação pronominal obedece não só a fatores estruturais, mas também a aspectos estilísticos e rítmicos. De tal forma, um trabalho que envolva a temática da colocação pronominal vai sempre passear por três vertentes: a sintática, a morfológica e, por fim, a fonológica, não sendo possível deixar de lado alguma destas características em caso de se efetuar um estudo mais aprofundado acerca do assunto.
Dada a relevância do tema, e visto que se agrega em campos da pesquisa de caráter interdisciplinar, um olhar sobre o uso das colocações pronominais sempre se mostrará pertinente e, diria, fundamental para a lida diária de profissionais e pesquisadores que perpassam esta área do conhecimento.
Destarte, alguns pontos definidos com base em pesquisas recentes merecem destaque:
• A abordagem tradicional tenciona que há mesmo uma situação conflituosa envolvendo a colocação pronominal no português brasileiro e no de Portugal e que, num olhar aglutinante, a ênclise seria a regra geral;
• A abordagem descritiva em duas gramáticas estudadas indicam que ou a ênclise é o padrão básico, não marcado, ou os clíticos se colocam sempre anteriormente antes do núcleo do predicado (verbo);
• A abordagem sociolinguística aponta que há um equilíbrio na ocorrência de próclise e ênclise em lexias verbais simples nas duas variedades do português (modalidade oral), inexistindo casos de mesóclise. Quanto à escrita, há um leve aparecimento de casos envolvendo mesóclise na variedade europeia do português. De resto, mantém-se o equilíbrio quanto ao seu referido uso;
• No português europeu (oral), e com relação aos elementos condicionadores da ordem do clítico pronominal, observa-se maior ocorrência da variante intra-CV (Complexo Verbal), sendo que no caso do português brasileiro este índice pode chegar a 90% dos casos;
• O tipo de clítico, a forma do verbo não-flexionado e a constituição do complexo verbal são fatores importantíssimos para o condicionamento da ordem dos pronomes, tanto na variedade do português brasileiro quanto na variedade europeia;
• Quanto ao tipo de clítico, fica evidenciada a marcação maioral da posposição do clítico acusativo de 3º pessoa aos complexos verbais;
• Quanto ao tipo de complexo verbal, o comportamento do português brasileiro diferencia-se da variedade europeia pelo fato de apresentar o pronome anteposto à segunda forma verbal, como no exemplo: pode me dar;
• Quanto à forma do verbo não-flexionado, percebe-se que a forma do particípio não recebe bem o pronome. A variante pós-CV é, assim, bloqueada pelo particípio e desfavorecida pelo gerúndio;
• Com relação à análise prosódica, percebe-se que o pronome átono do PB assume feições de sílaba pretônica vocabular e o seu parâmetro de ligação fonológica é inclinado à esquerda, sendo que duração e intensidade são os fatores que mais influenciam na cliticização do pronome à esquerda;
• Dentro do ambiente da colocação pronominal brasileira, a caracterização sociolinguística a partir das pesquisas empenhadas infere que a próclise é a variante preferida, mesmo na escrita, ficando a ênclise destinada a alguns casos especiais em contextos morfossintáticos (a ênclise pode figurar significativamente na oralidade);
• O profissional/linguista deve estar ciente da co-atuação de variáveis extralinguísticas (modalidade e registro) e linguísticas (tipo de clítico e presença/ausência de “atratores”) no contexto da fabricação da regra variável;
• O ensino da colocação pronominal, observando os fatores da regra variável, promove diversas habilidades em leitura, desenvolvendo também o raciocínio científico do aluno sobre a língua;
• Para um melhor progresso na relação de ensinagem, faz-se preciso que o professor revele ao aluno cada contexto variável em função das variedades e das modalidades linguísticas em uso, apresentando assim todas as possibilidades inerentes aos diferentes níveis gramaticais, indo desde a ordem dos pronomes em relação ao verbo até a averiguação acerca da função sintática que os referidos pronomes exercem nos enunciados;
• Num olhar geral, a orientação denominada de “sociolinguística inovadora” é a que se apresenta melhor equipada para os desafios da ensinagem, pois viabiliza ao estudante o contato com o maior número possível de opções, valorizando para isso os contínuos da variação e não negando o estatuto social da linguagem, padronizador e mutável ao mesmo tempo.
* Imagem: http://edusampaio.com/2012/01/03/colocacao-pronominal/
Resumo: texto em formato de recortes.
Resumo: texto em formato de recortes.