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Por Germano Xavier
O mundo anda revirado e com tudo ou quase tudo deslocado de sua normalidade, nem a produção de alimentos ficou de fora da bagunça. A agricultura danou-se a se disfarçar de agroindústria, e vice-versa, embocada numa neura de usufruir de métodos agrotóxicos para florescer o coração capitalista que somente visa às rentabilidades de poucos bolsos e de poucos indivíduos. Na mesa do ser humano comum, lá estão as frutas e os legumes, as hortaliças e os grãos os mais diversos, silenciosamente envenenados em seus corpos esbeltos, prontos para o baile da indigestão generalizada.
O Sr. Mercado agradece!
Pela beirada, corre a agroecologia, sorrateiramente, como a sentir que é a hora de se aprontar de vez por todas e de dar as caras. Mas por que tanta demora? Por que só agora? Por que tantos empecilhos? – questionamos nós, pobres mortais comedores do que está mais em conta pelas feiras livres ou pelas bancadas dos supermercados mundo afora, via-de-regra. Como fazer com que a agroecologia deixe de ser vista como uma forma não rentável e se torne, enfim, uma metodologia de produção eficiente em todos os sentidos? Certamente, as respostas não são tão simples quanto podem parecer.
O Sr. Mercado titubeia!
Difícil mesmo é fazer vigorar o processamento de uma efetiva transição de modelos de produtividade agrícola num planeta que gira na ordem do lucro e da desfaçatez, especificamente da convencional agroindústria, de razão industrial, promotora de monoculturas e com base na exploração dos recursos naturais, para a agroecologia sustentável, com raízes fincadas no solo do ambientalmente correto e de benfeitorias mais duradouras sob todos os aspectos analisáveis. Difícil, sim, mas não impossível.
A agroecologia, muito discutida nos nossos dias, é, pois, a ciência que se utiliza da teoria ecológica para estudar e gerir os diversos sistemas agrícolas de produção cuja mentalidade é, prioritariamente, a do respeito aos recursos naturais e, por conseguinte, a do respeito ao homem, seu maior beneficiário. O emprego dos ideais agroecológicos, de nós minifundiários e de baixa intervenção referente à aplicação de insumos externos, tende a sobrecarregar menos o meio ambiente, além de oferecer um maior e mais sadio intercâmbio homem X natureza, sem falar na qualidade do alimento fomentado por esta lógica.
O alarme soa, dia após dia. Estridentemente, por sinal. Caminhamos para o caos agrícola-alimentício. E já não estamos dentro dele? Se quisermos fugir de problemas vários, tais como os ligados à degradação do meio ambiente e de tantos outros, o melhor a se fazer é dar uma reviravolta nesta engrenagem engessada e cruel. Mas de onde partirão as ações para tal mudança? Dos governos, das ligas mundiais, de cada um de nós? Políticas públicas de incentivo devem ser prioridade no trato da agricultura não-comercial, familiar e sustentável. Uma alimentação saudável, vista aqui tal qual um direito humano, precisa ser prioridade. Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente na ordem do dia, para já!
* Imagem: http://www.deviantart.com/art/Cooperativas-de-agricultura-513489113