sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Mulher-rio



Por Germano Xavier

para Carol Piva, em ani-versos


estio | equador
quente de tão-quente
verão inteiro



Carolina Piva é o nome dela. Toda uma estação. Ela. Desde que a sei que sou mais. Ela tem isso. Dentro. Cria e difunde. Ama. Este espaço é mais com ela. Por ela, também. Rio que corre na noite. Sereno. Misterioso, de tão profundo. 

Feliz aniversário, C..
Sigamos!


* https://pixabay.com/pt/gotejamento-molhado-gota-de-%C3%A1gua-2806027/

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Os contos febris de Nivaldo Tenório



Por Germano Xavier



Secos, os contos de Nivaldo Tenório em DIAS DE FEBRE NA CABEÇA. Não secos por não possuírem um osso nutritivo medular, mas secos por não revelarem nada mais que o essencial. Ou seja, nada. O cotidiano na obra, também áspero, parece o centro de todas as maldições humanas que abarcam os personagens. Sufoco, evasão, fuga, desterro e suicídio percorrem os cenários de suas narrativas curtas. A cidade aparece na trama e nela quase nada aparenta estar fora do lugar. Aparenta, eu disse. No fundo, tudo está muito deslocado, mesmo tudo estando em seu devido lugar. E o leitor, temeroso, também muda de lugar simplesmente por achar estranho o fato de ter de ficar parado, estanque. O leitor, por vezes imóvel, perde o lugar, vira personagem, anda e é chamado pelo narrador, é barrado pelo personagem de um determinado conto, fica, sai, corre, foge, perde-se. Uma violência quase delicada se instala nas páginas do livro desse escritor de Garanhuns, integrante de uma leva de narradores do interior pernambucano que até hoje marca o solo próprio de suas letras literárias. Nivaldo Tenório escreve parte da história universal do abismo, do abisso, do nada em nós. Em pouco mais de 100 páginas, detona qualquer ideia mais elaborada de valia acerca da caminhada humana sobre a Terra. Seus tipos são desenganados, desprestigiados, feitos de glórias vãs ou destituídos de brilho próprio. Têm muita amargura as personas de Tenório. Nada parece possuir um propósito, como se a qualquer movimento fosse dado um destino de ser fim, de ser término um dia, de acabar. O patético é a forma comum. O dia é trivial e é sempre e apenas um outro instante em relação ao momento anterior. Nada é novo e, por isso, o homem é ninguém. O homem é ele mesmo. O homem em DIAS DE FEBRE NA CABEÇA não conseguiu se multiplicar nem se transformou em outros. O homem é ele próprio e, devido a este fato, não consegue se aceitar por completo. Em tudo há uma espécie de repulsa, de vômito, de escarro. A cabeça ferve ao ler o livro de Tenório. Os dias fervem dentro dele. A febre é deveras febril. O livro, lançado pela Confraria do Vento em 2014, tem orelha escrita por Raimundo Carrero.





* Imagem: https://pixabay.com/pt/xarope-para-a-tosse-medicina-colher-2557629/