Por Germano Xavier
reza a lenda que uma serpente,
enveredada na noite quilométrica,
correu chão até ser o encanto das línguas.
Itá Berá, pedra que brilha, veio e se foi em silêncio,
cidade das acutilâncias e dos espantos inaugurais.
Ikan era já Muhatu, Muhatu era já Ikan.
E toda uma Terra imensa se tremia.
Os dois, doentemente contagiados pelo tumulto
das farturas, agora veriam de perto a Mãe-Noite.
Sem-igual era a estrada.
A estrada era uma longa serpente
de riquezas, fluidos, sensos, línguas
e escolhas.
Sem-igual era a estrada.
A estrada bem no centro da Mãe-Noite, além-Orobó,
era a impressão mais nítida do Corpo, do Amor, da Vida.
Muhatu era o licuri maduro, inchado de dentros,
arte-mor de todo um conflito. Muhatu era a reação.
Ikan, caído em morte póstuma, agora renascia,
criança de colo no seio do Deus-Depois.
Ikan era a serpente, e a serpente era a estrada.
Muhatu, o emblemático destino e sua larga distinção.
* Imagem: https://www.deviantart.com/cllozdemir/art/ciplak-168844490
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