domingo, 4 de agosto de 2019

O professor e a alegria do movimento




Por Germano Xavier


Muita gente não sabe, mas a minha caminhada dentro do planeta Educação começou mesmo, de verdade verdadeira, no ano de 2004, apesar de eu ser filho de professora e ter um certo convívio para com esta Dona já de bem antes desta. Paulo Freire (ainda podemos falar o nome dele, assim, abertamente?) já dizia: "A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. Ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria". Naquele ano, estava eu em Salvador-BA esperando que as aulas da Universidade do Estado da Bahia  (DCH III) começassem após uma greve que fez com que o semestre letivo se atrasasse cerca de oito longos meses. Num dia bonito, minha mãe me liga: "Germano, uma professora vai sair de licença... você não teria coragem de pegar as aulas dela, não?" Foi o estopim. Fósforo riscado.

De lá para cá, passei por várias modalidades e níveis de ensino, principalmente pela Educação Básica de ciclo público, trabalhando em comunidades quase sempre carentes ou menos favorecidas, entre elas algumas em zona rural. Para este público, o professor é ainda mais necessário. Trabalhar com cognitivos adormecidos, carências motivacionais e sensibilidades afetivas muitas vezes destronadas é feito pisar um campo hostil e misterioso, que não nos oferece o óbvio olhar sobre as coisas que nos rodeiam. Todavia, eu sempre soube que ser professor é buscar, é se manter em movimento, é estar-além, e sempre fiz isso em minha trajetória na docência: buscar. Descobrir os caminhos para se chegar ao fim da reta, com mais fôlego e menos arfante, é saber manusear as estratégias mais inteligentes para se descobrir e construir habilidades.

Digo a vocês, meus caros, em alto e bom som: saber reconhecer a importância de uma pedagogia da afetividade voltada para o aluno representou, e ainda representa, para mim, um dos maiores avanços meus no trato educativo, ano após ano. A escola, assim, tende a deixar de ser vista como um território amargo para os discentes. O interesse aumenta, o respeito, a reciprocidade, a empatia, o acolhimento é sugerido já de pronto. As competências dos estudantes logo são atingidas, conhecidas, desabrochadas, incentivadas. Tal pedagogia, a da aproximação, a do olho-no-olho, a do pulso-com-pulso, esboça querer resolver o que temos a fazer com este Novo Tempo que nos cerca, veloz, midiático, ríspido, de superfícies e pouca amorosidade entre os iguais. 

Descobrir-se professor, na ativa sê-lo, em luta, reconhecer-se, saber-se poderoso e capacitado para enfrentamentos vários e diários já é, sim, um ótimo começo. O mundo anda complicado demais para se ser em metades. É cada vez mais primordial mudar a realidade, auxiliar pessoas, empoderar almas, instruir, aconselhar caminhos, apoiar destinos na fortaleza que é o conhecimento. O professor, mais que qualquer outro profissional, tem a chance de operar estes pequenos milagres cotidianos, que farão do futuro o reino de todas as graças. E é sua obrigação prestar mais atenção em tudo isso.


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