segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Sobre Arquiteturas de Vento Frio, de Walther Moreira Santos




Por Germano Xavier


(Cepe, 2017)



Frio é o vento-nascente de dentro, aquele que aflora e deflora. Corta, afia, amola: lâmina invisível. Cultivo de bala é vento que mata sem dó de quem nestes pernambucos tão brasis. Fogo de dentro e também de fora. Chama acesa, labareda-de-meu-deus. Vem varrendo tudo! Vem que vem. Cada ser é uma correria humana. Ponta aguda contra o peito nosso de cada dia. Quão complexa é a vida! E quão simples ela é? Dá para se ter uma mínima noção do tamanho do estandarte que carregamos? Nossas alegrias parecem poemas cobertos com querosene. Podem servir para fogaréus.

Primeiro carro abre-alas: precisamos fugir para amar com amor o silêncio mais bruto. Segundo & rubro carro abre-alas: a cidade não para, a cidade só cresce, em nome de todas as mutilações possíveis e inimagináveis. Ela cresce. Cresce a mente de quem faz a cidade crescer? Andar é morte. Respirar é morte. Bocejar é morte. Sair é morte. Feriado é morte. Sumir é morte. O que é mesmo a vida, meu amigo? Por isso, a palavra? Ainda uma regra de três sem mote esgotado, a Palavra. Engenharia de quem é a caminhada para os ondes? Lugar bom é o peito de quem nos acolhe?

O "se" torna-se eterna ponte: arquitetura de vento frio. Dúvida X Pedagogia. Tão cedo tem sido a marca da imaturidade nas gentes. Pessoas cada vez mais sem. Faltando escolher o que abandonar, o que vale a pena carregar nas costas, os pesos tantos, o peso destes corpos desabitados e secos. Quem à margem insistirá em ir? Murmuremos, pois. Prolongados são os dias à espera do que nos convém. Rogar a quem quando teu é o reino funesto que encampas? Santíssimo, tende piedade de nós! Misericórdia, senhores da guerra! E que nos ensine o caminho onde o que mais nutre é palavra posta em papel nu, Senhor dos Universos!

Coragem não basta, nunca. Fazer manso não basta, sempre. Louvado seja aquele que renova suas manhãs no café bebido logo cedo. Punidos sejam os homens de igual tarde todo dia. Reinventar é preciso quando o buraco esconde o fosso-mor de nossas almas. Prolongar-se, tentar ser e ir mais adiante. Remanescer dentro de nossas gargantas gélidas como o branco do Ártico. Sobreviver aos ensaios de antropologia brasiliana dos agoras em agonia. Retesar a corda já rija. Fazer chover. Chuva de água morna. Sobre nossos pés. E viver, apesar.


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