Por Germano Xavier
(Escrituras, 2010)
Roseiral: O mundo encarnado pela seiva das rosas escarlates. Livro vermelho de memórias. Livro vermelho de saudades. Livro vermelho de raízes. Livro vermelho de pareceres. Livro vermelho e augusto sobre a Vida. Vermelho aqui é cor e é além. E é aquém. Vermelho-sentido. Vermelho de céu grávido de chuva num sertão que é tão meu quanto nosso. Vermelho-sertão, aquele que aprofunda o horizonte, dobrando-o na vista dos olhos nus. Uma rosa é uma rosa é uma rosa é outra rosa é outra alguma é toda é sempre é nunca. Uma rosa é um roseiral.
José de Alagoas e baiano, calculador etário das pedras sozinhas. Voz que se safou do Nada e se transmutou. Virou amuleto de si mesmo, rosário que se conta no dedos de cada vitória. Voz-incêndio. Um homem rosa. Um homem rosa de tão vermelho: um poeta. Poeta é uma rosa é uma rosa é uma rosa é um vermelho é um soluço é um sonho é uma fuga. José das roças, José das Rosas. José do Vermelho. José Roseiral, seu sobrenome? Odisseu. O que anda e está por, aos quinze anos ou mesmo na casa dos quarenta anos. José que inventa.
Vai de soneto, vai de relato, vai de coisa pequena, de linha curva ou reta, vai. Canibaliza as experiências de Amor. José Vampiro. Sangue é alimento. Sangue é vermelho. Ele queria ser Elizeu Moreira Paranaguá, mas acabou sendo ele mesmo. Um rosa no meio do vermelho. Um diferente. Um matutador de coisas agrestes. Um virgem de tantos espantos. Deslumbrador. Inventador de canções e aboios. Um José vermelho no meio de tantos josés minúsculos. Um José maiúsculo, entre a cor e a couraça, entre o boi e a pega, filho do espinho do mato e da boneca dos milharais.