Por Germano Viana Xavier
Em seu mais recente ensaio, intitulado de A CRUEL PEDAGOGIA DO VÍRUS (Boitempo, 2020), Boaventura de Sousa Santos nos interroga logo de cara: O que aprenderemos com a atual pandemia do novo coronavírus que assola o mundo inteiro desde os últimos meses de 2019? Para o professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, não é possível classificar este período de agora como sendo uma "nova" crise civilizatória, já que o termo "crise" tornou-se um estatuto permanente à humanidade atual e essa ideia só é alimentada pelos sistemas políticos e financeiros para se "legitimar a escandalosa concentração de riqueza e impedir a iminente catástrofe ecológica" e, também, para inviabilizar qualquer movimento humano de mudança que deseje pensar alternativas ao modelo dominante de sociedade.
Ao se colocar luz sobre a obra do sociólogo Boaventura de Sousa Santos, percebemos instantaneamente que o conteúdo do texto levanta fundamentais questões que nos implicam como indivíduos e sociedades. Regressar à normalidade de antes da pandemia não é, deveras, uma ideia inteligente. A forçosa e dolorida irrupção de uma pandemia desta magnitude mundo afora, apesar de toda a tristeza proporcionada pelas milhares de mortes ocorridas de modo abrupto e com suas outras cruéis consequências, muitas ainda inclassificáveis, tornou possível e quase que inevitável o reencontro de outros milhares de indivíduos com a sua própria casa, antes apenas um local de repouso pós-trabalho, viabilizou o reencontro mais verdadeiro com os filhos, com o seu parceiro ou sua parceira, com os livros outrora empoeirados nas estantes, com os filmes nunca vistos por pura falta de tempo, com as séries, com o tempo propício a se escutar boas canções, com o ócio que ajuda a criar, a ver, a sentir mais, a ser mais, aclarou novamente a importância da contemplação e a magnitude da Beleza.
Ao se colocar luz sobre a obra do sociólogo Boaventura de Sousa Santos, percebemos instantaneamente que o conteúdo do texto levanta fundamentais questões que nos implicam como indivíduos e sociedades. Regressar à normalidade de antes da pandemia não é, deveras, uma ideia inteligente. A forçosa e dolorida irrupção de uma pandemia desta magnitude mundo afora, apesar de toda a tristeza proporcionada pelas milhares de mortes ocorridas de modo abrupto e com suas outras cruéis consequências, muitas ainda inclassificáveis, tornou possível e quase que inevitável o reencontro de outros milhares de indivíduos com a sua própria casa, antes apenas um local de repouso pós-trabalho, viabilizou o reencontro mais verdadeiro com os filhos, com o seu parceiro ou sua parceira, com os livros outrora empoeirados nas estantes, com os filmes nunca vistos por pura falta de tempo, com as séries, com o tempo propício a se escutar boas canções, com o ócio que ajuda a criar, a ver, a sentir mais, a ser mais, aclarou novamente a importância da contemplação e a magnitude da Beleza.
Não é novidade a esta altura do campeonato: a Arte, de um modo geral, tem ajudado a salvar vidas durante o período de isolamento social ao qual tivemos de aderir por necessidade e por orientação dos órgãos mais competentes. O cinema, a literatura, a música, só para citar alguns bons exemplos, estão nos retirando da escuridão dos dias insossos e fugidios, e nos devolvendo a capacidade de imaginar, a boniteza de inventariar, a competência de sonhar com dias e atitudes melhores, com um planeta mais harmônico e limpo, com criaturas mais solidárias e justas a povoar o globo terrestre. Todavia, esta mesma Arte que nos salvaguarda hoje e sempre, tornou-se um dos maiores alvos da onda política conservadora e extremista que cresce mundialmente nos últimos anos em diferentes regiões do mapa mundi.
No Brasil, nos já quase completados quatro anos pós-impeachment de Dilma Rousseff (sim, pasmem, já se passaram 4 anos pós-Golpe de 2016), a Cultura já deixou o panteão dos Ministérios e agora amarga um doído rebaixamento à categoria de Secretaria. O (des)governo Bolsonaro opera a máquina pública para trucidar o que restou da Cultura em todos os seus valores, e o resultado disso é uma estrutura capenga e segregacionista (ideologicamente) de promoção das expressões artísticas nacionais baseada (até o prezado dia) em cinco trocas de liderança na pasta de Secretaria de Cultura, no retorno à vil prática da censura e no extermínio daquilo que é o mais fundamental no meio: a liberdade. Nesses quatros anos de desordem e de regresso, não vimos surgir sobre as manjedouras messiânicas Temer-bolsonaristas nem sequer um projeto efetivo para o avanço nesta área primordial.
A invisibilidade artístico-cultural de um país gigante como o Brasil é um dado preocupante. Parece que tudo fora neutralizado por uma pedagogia sociolóide gestada a partir da proliferação de fake news e piadas de muito mau gosto, com referenciais nazifascistas e inoportunamente autoritários. Não obstante, um mundo novamente polarizado (principalmente pelo embate EUA x CHINA), discursos vendidos e repassados a todo custo e reduzidos esforços para se fomentar soluções democráticas para as crises sem fim pelas quais a humanidade vem atravessando. Não é possível que a Arte em geral só seguirá sendo vista com bons olhos em momentos caóticos, durante catástrofes ou diante de centenas de óbitos mundo afora. Quem mesmo quer de volta uma tal normalidade quando esta "normalidade significa vivermos em um estado de permanente exclusão e de negação das diversas minorias existentes?
Reproduzo aqui, por fim, uma fala da amiga escritora luso-angolana Luísa Fresta, diante dos apontamentos retidos no referido livro do Boaventura de Sousa Santos: "Gostaria de pensar que aprendemos (aprenderemos) alguma coisa com esta crise. O neoliberalismo selvagem não me parece de todo a solução para a demanda social e econômica do mundo atual. Teremos que nos reinventarmos. Como disse há umas semanas o PM português, uma das coisas que aprendemos é a produzir mais localmente e a dar mais valor aos nossos investigadores e empresas, às pessoas. Outra coisa, penso eu, é a desmaterializar muitos procedimentos, a desburocratizar certas práticas sobretudo no acesso aos serviços púbicos. Afinal é possível fazer muitas coisas de outra forma..." Com a cultura, com a arte em geral, não é diferente. Oxalá melhoremos...
No Brasil, nos já quase completados quatro anos pós-impeachment de Dilma Rousseff (sim, pasmem, já se passaram 4 anos pós-Golpe de 2016), a Cultura já deixou o panteão dos Ministérios e agora amarga um doído rebaixamento à categoria de Secretaria. O (des)governo Bolsonaro opera a máquina pública para trucidar o que restou da Cultura em todos os seus valores, e o resultado disso é uma estrutura capenga e segregacionista (ideologicamente) de promoção das expressões artísticas nacionais baseada (até o prezado dia) em cinco trocas de liderança na pasta de Secretaria de Cultura, no retorno à vil prática da censura e no extermínio daquilo que é o mais fundamental no meio: a liberdade. Nesses quatros anos de desordem e de regresso, não vimos surgir sobre as manjedouras messiânicas Temer-bolsonaristas nem sequer um projeto efetivo para o avanço nesta área primordial.
A invisibilidade artístico-cultural de um país gigante como o Brasil é um dado preocupante. Parece que tudo fora neutralizado por uma pedagogia sociolóide gestada a partir da proliferação de fake news e piadas de muito mau gosto, com referenciais nazifascistas e inoportunamente autoritários. Não obstante, um mundo novamente polarizado (principalmente pelo embate EUA x CHINA), discursos vendidos e repassados a todo custo e reduzidos esforços para se fomentar soluções democráticas para as crises sem fim pelas quais a humanidade vem atravessando. Não é possível que a Arte em geral só seguirá sendo vista com bons olhos em momentos caóticos, durante catástrofes ou diante de centenas de óbitos mundo afora. Quem mesmo quer de volta uma tal normalidade quando esta "normalidade significa vivermos em um estado de permanente exclusão e de negação das diversas minorias existentes?
Reproduzo aqui, por fim, uma fala da amiga escritora luso-angolana Luísa Fresta, diante dos apontamentos retidos no referido livro do Boaventura de Sousa Santos: "Gostaria de pensar que aprendemos (aprenderemos) alguma coisa com esta crise. O neoliberalismo selvagem não me parece de todo a solução para a demanda social e econômica do mundo atual. Teremos que nos reinventarmos. Como disse há umas semanas o PM português, uma das coisas que aprendemos é a produzir mais localmente e a dar mais valor aos nossos investigadores e empresas, às pessoas. Outra coisa, penso eu, é a desmaterializar muitos procedimentos, a desburocratizar certas práticas sobretudo no acesso aos serviços púbicos. Afinal é possível fazer muitas coisas de outra forma..." Com a cultura, com a arte em geral, não é diferente. Oxalá melhoremos...