quinta-feira, 6 de maio de 2021

Poemas estranhos e estrangeiros (Parte VII)


 

Por Germano Xavier


Uma Paris 


o palaciano setor de Versalhes já havia ficado no passado quando, 

sem muito pensar, decidi conhecer a Ópera Nacional de Paris. 

o prédio estava lá, um monumento eloquente 

e repleto de brilho. Galeries Lafayette bem ali 

nas proximidades: uma loja de departamentos 

na capital francesa, nada mais.


após sondar as redondezas e uma parada para café com conferência em mapas,

entrei no túnel do metrô sentido Montmartre.

ali, via estações elevadas e subterrâneas Stalingrad, Paris

me surgiu repleta de imigrantes, com suas vestimentas típicas, com suas fomes

de quaisquer coisas bem mais visíveis aos olhos, com suas ruas e moradas

mais simples e bem mais dia e bem mais dor e bem mais fogo.


namorei por um tempo a fachada do Moulin Rouge até pegar o trenzinho 

até a Basílica do Sagrado Coração, símbolo máximo do boêmio bairro.

subi as ruelas com o coração alegre. 


Paris não era apenas o óbvio, 

tinha cheiro de humanidade e todos os mistérios de arte viva.

foi ali, no entrepasso do escasso tempo, que ao ter de partir senti o mal

maior das horas passantes. quanto tempo se perde em Paris

longe de Montmartre!, pensei.


a hora avançava rápido e entrei em um metrô para as margens do Sena, novamente.

de lá, por sorte tomei o último trem A14 para La Défense. 

o céu claro inda era ao longe e me encostei no Grande Arco. 

fiz um rápido lanche e observei a dança sem ajustes de um negro

bem no meio daquele grande pátio de espelhos.

ele segurava uma garrafa de vinho e todos os seus medos

em suas mãos. aquela cena ficará, 


ficará.


olhei para os lados e depois para o céu beirando a linha do horizonte.

eu não tinha mais mapas nem carga no aparelho celular 

e o único jeito era sair perguntando qual o caminho 

para o hotel. o guarda mais próximo não entendia (ou não queria).


um francês local, que morava próximo ao hotel,

escutou a conversa e se prontificou a ajudar. foi ele o guia por cerca de 30 minutos,

entre prédios, supermercados e desvios que só um morador da localidade

saberia executar com tamanha destreza. 


era Paris se despedindo de meus olhos de um jeito muito inusitado.


restou um fiapo de tempo para um chope dentro de um último pensamento.

Paris é mesmo uma festa, balbuciei.


(Paris, tarde e noite de 13 de junho de 2017)



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