quinta-feira, 30 de setembro de 2021

TRANS, de Age de Carvalho


 

Você conhece a poesia do paraense Age de Carvalho? Já dá para colocá-lo ao lado de Max Martins e de Benedito Nunes no panteão da poesia paraense? Neste vídeo, você confere o meu primeiro contato com a poesia de Age. Você ainda confere as palavras de abraçar almas de minha conterrânea e psicóloga Angélica Nunes.

#trans #agedecarvalho #cosacnaify #7letras #germanoxavier #angélicanunes #canaloequadordascoisas

sábado, 25 de setembro de 2021

Poemas estranhos e estrangeiros (Parte XII)


 

Por Germano Xavier


Odin e o Mar do Norte


a expectativa era bonita.

depois de muitos quilômetros, estaria eu

diante da possibilidade de tocar as águas

do Mar do Norte.


Amsterdam foi vista pelo retrovisor logo cedo.

a estrada era o meu caminho.


ao chegar em Volendam, após degustar queijos típicos,

o frio tomou conta da pele. era um primeiro sinal.

dobrei algumas vielas e corredores estreitos da pequena vila

e lá estava, o grande mar nórdico, o templo vivo dos vikings!


quando estou no centro de cosmos históricos,

consigo vislumbrar partidas e chegadas, gentes,

batalhas, alegrias e tristezas. não foi diferente ali.

o Mar do Norte me pareceu carregado de dores, 

suas espumas eram contidas, havia uma lamúria

na cor do que era líquido.


foi olhando para o Mar do Norte que descobri

que nem toda onda dança em festa de corais.


(Volendam, manhã de 16 de junho de 2017)




ALICE E OS DIAS, de Daniela Delias


 

Impressões sobre o terceiro livro de poemas de Daniela Delias, publicado pela Concha Editora. Ainda neste vídeo: as palavras de abraçar almas de minha conterrânea e psicóloga Angélica Nunes.

#aliceeosdias #danieladelias #conchaeditora #germanoxavier #angélicanunes #canaloequadordascoisas

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Sobre Opusfabula, de Jonatas Onofre



Por Germano Xavier



(Cepe, 2015)



Portugueses em Igarassu. 

O Construtor constrói. A vida. A Boniteza. O Tudo. O Nada. No princípio, era o Vazio. Havia o silêncio. Havia o instante. O princípio mesmo. Uma árvore que estaria ali para ser frutificada, imersa no matagal das Coisas. Aí inventaram, de cara, a espada e a besta. Exalou-se uma amplidão perigosa por todos os muitos cantos. Foi preciso bússula. Começaram a andar de forma torta, os mistérios deixaram de ser resolvidos. Ninguém mais soube em que porta entrar. Todos os nomes se expandiram em místicos sinais. 

Andou-se no escuro.

Vestidos de sono, adentraram matas. Quem não acompanhou, ficou para trás, apagado na escuridão do caminho. Usaram a lâmina sangrenta como lume. Vestiram o futuro de dor, de lágrima, de choro, de lamentação. Índio dormiu quase-nada, quase-nunca. Aceso que nem fogueira, vigiou. Difícil lida. A grande Ausência vagueou. Vagabundos. Geraram amarras e gritos. Geraram prisões. A Linha do Equador não suportou o peso dos corpos. 

Rompeu-se. 

O oceano despenteou um mar de fomes, misérias. A Construção não cessava. Não cessaria, jamais. Era foice eterna. Cabeça nativa era a sede das guilhotinas. Ave Maria, cheia de Graça! O Senhor é convosco? Pernambuco penetrado. Dupla penetração. Gozo. Sagrado profanado. Portos singrados. A língua era a do mal. O entendimento era via única. Manipularam resultados. O exame deu um só: Corpo Morto. 

Embaraçoso. 

Emaranhou-se. Nau. Captura. Surpresa. Virgindades. Virilidades. Atrocidades. Mulher e cria em fuga. Tormento. A palavra, de que vale? De que vale um resto de linguagem? 

Máquina de escombros nascendo. Manjedoura.


sexta-feira, 17 de setembro de 2021

OS MITOS DE CTHULHU, de Esteban Maroto (H.P. Lovecraft)


 

O quadrinhista espanhol Esteban Maroto adaptou três contos do escritor norte-americano H.P. Lovecraft para os quadrinhos. Lovecraft é considerado um dos maiores escritores do horror/terror e criador de toda uma mitologia cósmica de dar calafrios aos mais corajosos leitores. Todavia, muito cuidado, Cthulhu pode estar vivo!

#osmitosdecthulhu #estebanmaroto #hplovecraft #germanoxavier #canaloequadordascoisas

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Palavras paridas


 

Por Germano Xavier e Leilane Paixão


as palavras estão cansadas

de comunicar. as palavras querem férias,

farão uma greve, reivindicarão

a presença do silêncio.


as palavras estão cansadas,

muito fatigadas de informar. as palavras querem

se esvaziar. as palavras odeiam repetição, 

estão fartas de bocas sujas

que profanam os seus sentidos.


as palavras querem silenciar, 

para se mostrarem quando necessário for, 

em suas esplendorosas

vocações de ser.


que se cancele a greve das palavras

apenas quando elas estiverem grávidas

de sentido!


| as palavras querem parir |


as palavras querem homens e mulheres

gestantes, homens e mulheres poetas,

capazes de enxergar a beleza das coisas.

as palavras querem servir ao Belo.

as palavras são divinas!


está feito. e que se decrete a greve das palavras!

registre-se. cumpra-se!



* Imagem: https://www.deviantart.com/slipperykarst/art/palavras-perdidas-87508000

sábado, 11 de setembro de 2021

RECOMENDAÇÕES PARA UM ANO IMPOSSÍVEL, de Germano Xavier


 

Leitura do poema "Recomendações para um ano impossível", presente na antologia SÓ A POESIA SALVA, da Editora Primata. Ainda neste vídeo, o colaborador James Wilker revela mais uma excelente dica de leitura.

#antologiasóapoesiasalva #editoraprimata #germanoxavier #canaloequadordascoisas

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Deriva perversa


 

Por Germano Xavier


o poema é o Grande Objeto

sobre o qual invisto,

obsessivamente,

minhas vias de afeto.


a palavra, imersa em poesia,

acentua o gozo e segmenta o prazer

numa trajetória sólida de sentidos

ou numa deriva perversa.


Imagem: https://www.deviantart.com/patrickleborgne/art/Eolienne-650708934

CRISE E PANDEMIA, de Alysson Leandro Mascaro + DICAS DE JAMES WILKER


 

Neste livro, o professor Alysson Leandro Mascaro, entoa sua voz sobre a crise global do novo coronavírus (COVID-19) e esboça possíveis caminhos para um final feliz (ou menos triste) em toda esta história. E ainda neste vídeo: nosso colaborador James Wilker revela mais uma excelente dica de leitura.

#criseepandemia #alyssonleandromascaro #germanoxavier #jameswilker #canaloequadordascoisas

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Sete de Setembro


 

Por Germano Xavier


o genocida

sobrevoa o golpe

as imagens em giro

sufocam o verde e o amarelo

da bandeira


formigas tontas formigam

na grande avenida

o conselho teme

o inconsciente investiga a tristeza


que país se manifesta

quando até mesmo a morte

vive com fome?


Imagem: https://pcdob.org.br/noticias/investimento-no-pais-retrocede-20-anos-com-golpe-bolsonaro-e-pandemia-2/

O PARATEXTO (AS ILUSTRAÇÕES NA LITERATURA), por Luísa Fresta


 

"No mês de junho apetece falar sobre literatura infantil, porque embora as crianças estejam sempre no centro das nossas preocupações, temos duas datas, o primeiro de junho e o 16 de junho, Dia Internacional da Criança e Dia da Criança Africana, que não passarão nunca em brancas nuvens...", assim nos recorda Luísa Fresta em seu texto "Livro Infantil - Texto e Paratexto". Neste vídeo, Luísa dá destaque em sua fala a um dos principais elementos paratextuais ligados à produção de textos infantis e infantojuvenis: a ilustração. Estejam todos atentos!

#paratexto #ailustração #literaturainfantojuvenil #luísafresta #canaloequadordascoisas

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Sobre Miragem, de Socorro Nunes



Por Germano Xavier


(Cepe, 2015)


Quem é daqui sabe que o terreno é áspero, é rugoso, aberto em fendas. Quem é daqui sabe que planta morta, na verdade, é planta viva. Vivíssima. Sabe que o sertão é uma espécie de Deus, onipresente. Uma grande autoridade no meio do Tempo. Que o que se empurra para o passado é apenas um esboço do futuro, de um futuro que às vezes demora em chegar. Mais distantes dos olhos ficam os homens dos acolás, que nem suspeitam da beleza virginal das caatingas. Os homens dos acolás rodeiam o mundo de cá com seus olhos secos de amor e enxergam apenas o que esperam. E suas esperas são tão curtas que nem.

Sertão-nós.

Ser tão só e somente ser o verdume dos xiquexiques, extremo rompimento e sabedoria de convivência com tudo aquilo que há de mais amargo nas andanças nossas de cada dia. Senhor, imperai  por nós destinos mais azuis cor de céu chuvoso em cinzas líquidos! Somos criaturas pós-solares sem inverno de alma. Somos as alquimias torrenciais dos abraços calorosos. Caudalosa é a nossa matéria em humanidades. Miragem é só a revivente vontade de que se viceje o que não for de ordem efêmera e que seja, sim, perene, o ir: rio que desanda.

Titã desassombrado é o sertanejo. 

Cria resistente de uma Canudos que nunca se abandona, que nunca se retira, que jamais dá para trás. Conselheiro é Hércules do Sertão. Não morre a vida quando a morte é injusta, quando o abalo é sem sentido, quando a paisagem se desnuda em brotos de sangue nem quando o carcará plana sobre os cadáveres sem luta a mais, abatidos em chão silvestre. Quem é daqui sabe que umbuzeiro vivo é esperto a ponto de se permitir várias mortes, pra adoçar depois as fomes dos meninos e das meninas que correm léguas de brincar. Canudos não se rendeu nem vai.

Canudos resiste e ainda é o último sonho possível. 

Nada aqui neste regaço esturricado é noite vulgar. Guardamos a esperança em baús de enfrentamentos. Franzinos são os corpos, adamastores são as almas. Sertão é tormento só na cabeça dos homens de lá, dos de acolás, dos homens que não. Morre quem não se cansou de lutar, vive quem soube sobreviver. Por isso o gigantismo, a força descomunal, a saúde de cacto, todo um manual de como escapar. Por isso nossa severina sanha de querer lugar. Deus está aqui, conosco. Impávido. Colosso. Quem é daqui, sabe. Quem é daqui, sabe.


quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Os estranhos cavalinhos de J. J. Veiga


Por Germano Xavier

O nome do livro já provoca um meio-espanto: Os Cavalinhos de Platiplanto. O curioso, pergunta-se: mas que diabos é Platiplanto? Doze contos e pouco mais de 120 páginas. O apressado diz: livro bom é livro grosso. Um tal goiano de nome José J. Veiga assina o livro. O outro vai e retruca: nunca ouvi falar. Estamos falando do livro que há exatos 62 anos – a primeira edição foi publicada em 1959, com o autor já com 44 anos de idade – inaugurava o gênero Realismo Fantástico na literatura brasileira. 

Aproximadamente 12 anos antes, em 1947, Murilo Rubião invadira o cenário de nossa literatura com contos também fantásticos, o que ainda hoje é motivo para embates acerca de quem realmente é o precursor desse tipo de escrita em solo nacional. E, como se não bastasse, chega um por detrás e sussurra: o que significa Realismo Fantástico? Para melhorar as coisas, se eu disser que o colombiano Gabriel Garcia Márquez, autor do clássico Cem anos de Solidão, o belga-argentino Julio Cortázar, cuja obra-prima é Rayuela (O jogo da amarelinha), Vargas Llosa e Jorge Luis Borges são expoentes natos deste subgênero literário, marco literário da segunda metade do século XX em toda a América Latina, é bem provável que a penumbra comece a esvair-se, e terminemos adentrando um pouco menos leigos neste mundo “real-fantástico”, de estro kafkiano.

Também há dez anos – o escritor, nascido em 1915, morreu aos 84 anos - J. J. Veiga nos deixava, o que fez surgir, sem sombra de dúvidas, uma imensa lacuna em nossas letras. Tratado como inovador e extremamente maduro pela crítica, seu primeiro livro foi logo abocanhando os principais lauréis literários existentes no Brasil naqueles idos, a citar o Prêmio Fábio Prado, um dos mais concorridos até então. 

Narrados em primeira pessoa, os contos presentes em Os Cavalinhos de Platiplanto são marcados por uma forte aura de “brasilidades”, ambientações e expressões regionalistas, retratando reminiscências, estas com características aventureiras ou não, vividas tanto por personagens infantes quanto por adultos. Num tom quase que avesso à denominação fantástica dada à sua obra, o autor preferia dizer que seus textos geravam não um “realismo fantástico”, mas sim um “mundo fantástico real”.

E justamente nesse contraponto, ao qual se insere o real e o irreal, o que é e o que não é, o verídico e o fabuloso, é que destoa a pena mágica veigueana. Os contos são fabricados de tal maneira que, em dado momento, perguntamo-nos: “mas o que há de interessante nisso?”, como por exemplo, no relato de uma fábrica que é instalada atrás de um morro, fato que causa mudanças rápidas e impensadas no cotidiano das pessoas (conto A usina atrás do morro), ou na história de um pacato professor interiorano que diz saber o roteiro para um antigo tesouro, que sofre com a desconfiança oriunda da população do lugarejo e que um dia resolve fazer um protesto contra todo o descaso vivido por ele (conto Professor Pulquério). 

Até aqui, nada de tão intrigante. Mas é bem no trato substancial do que aparenta normalidade que Veiga urde com maestria o seu absurdo temático, quase sempre pegando o leitor desprevenido e atirando-o num universo perturbador, extremamente estranho, apesar de parecer simplório ou sem bifurcações quando ao sentido. Um exercício surreal é pincelado em tons amenos, porém firmes, talvez para não afugentar o leitor menos atento, que como queria Cortázar, percebe-se diante de um tipo de conto que prestigia a unificação de mais de uma “narrativa” dentro de uma única história. Segundo Candido, os contos de Veiga são “marcados por uma tranquilidade catastrófica” (CANDIDO, 1987, p. 211).

Fruto de uma reformulação literária, presenciada principalmente a partir da instauração do regime militar no Brasil em 1964, a literatura dita fantástica iria romper com as insinuações exacerbadamente realistas, por conseguinte quebrando também com os modelos advindos de um naturalismo já em “irreversível” desgaste. Em seus contos, Veiga busca o insólito, e no uso da ficção faz germinar de suas mãos uma realidade alegórica, distante do que possa simplesmente parecer. 

A tensão entre o cotidiano e o insólito vai sendo criada ao passo que invadimos as páginas e os pormenores do livro, num movimento de ascensão gradativa – nunca acontecendo o sentido inverso -, para no final terminar por eclodir alguma coisa, revelar algum segredo que ficara perdido no meio da trama ou desmascarar um mistério que estava à vista de todos, todavia imperceptível. O final é quase sempre apoteótico, mesmo sem exageros. 

É como se Veiga não estivesse, em nenhum momento da obra, disposto a correr o risco, inclusive extremamente natural aos escritores fantásticos, de ter suas narrativas muito distanciadas da “provável” realidade, o que poderia dificultar a compreensão dos textos, mas soubesse muito bem lidar com as dimensões limítrofes tanto do real quanto do irreal. No fundo sabia que, “para assumir significação, o fantástico necessita criar uma curva que o reconecte com o mundo” (LIMA, 1983, p. 207). Nesse jogo, Veiga superestima a linguagem informal, sem banalizá-la, aproximando-se da literatura produzida por seus escritores prediletos, a citar J. D. Salinger, autor do best-seller O apanhador no campo de centeio, e Graciliano Ramos, romancista brasileiro da geração de 30.

Outro ponto a ser ressaltado é a sua ligação com o momento político brasileiro. Veiga desmente muito da crítica produzida sobre tal relação, mas muitos estudiosos de sua literatura insistem em fazer tais ponderações. Em Os cavalinhos de Platiplanto, talvez o conto mais discutido a partir desse pressuposto seja A usina atrás do morro, cujo teor seria condicionado diretamente ao governo do presidente Juscelino Kubitschek e ao impacto da entrada do capital estrangeiro em nosso país. 

Wilson Martins, na orelha da décima oitava edição escreve: “liberto das escolas e das modas... deu à literatura brasileira um daqueles livros pessoais e verdadeiramente novos que assinalam a história dos gêneros: na contribuição quantitativa do conto, ele trouxe, com o sr. Dalton Trevisan, a contribuição qualitativa, a do conto mergulhado num mundo próprio, preso a contingências específicas e criando, pela magia do estilo, novos planos da sensibilidade literária”. 

J. J. Veiga, que nasceu José Pereira Veiga, ganhou esse nome artístico do mineiro João Guimarães Rosa, depois de alguns estudos numerológicos. O J. do centro significaria Jacinto, oriundo do sobrenome da mãe, fator que – acreditavam - lhe traria sorte. Estudou Direito, trabalhou em rádio e no meio jornalístico, inclusive traduzindo e comentando programas na rede BBC de Londres. Quer saber no que deu o protesto do Professor Pulquério, a chegada da misteriosa usina, as peripécias de Cedil e Tenisão, por onde anda o cavalo Balão ou mesmo a espingarda de Seu Juventino? Quer saber onde fica Platiplanto? Então, o que está esperando?!

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CANDIDO, Antonio. “A nova narrativa” in A educação pela noite e outro ensaios. São Paulo: Ática, 1987.

LIMA, Luiz. Costa. “O conto na modernidade brasileira” in PROENÇA FILHO, Domício (org) O livro do seminário. São Paulo: L. R. Editores, 1983.

VEIGA, José Jacinto. Os cavalinhos de Platiplanto. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.