Por Neuma Rozendo e Germano Xavier
I
me conte seu verso
o mais querido
ou o mais desprezado
aquele que você rasgou ontem
depois jogou na lata do lixo
me conte o homem
o menino e a mulher em você
me conte o velhinho
que sai de moto aos noventa
cantando pneu e horizontes
me conte seu verso
pra eu fazer de meu
pra eu jantá-lo com café
vendo aquele filme
que vimos juntos
me conte seu verso
pra eu interpretá-lo inapropriadamente
e convenientemente esquecer
todo o contexto
e o resto da existência
me conte seu verso
secreto, quente, abraço, colo
choro, sofá para dois, lembranças
arte milenar em uso comum
me conte seu verso
pra lavar a alma (da Penumbra).
(Neuma, Campinas, 20/10/2024)
Para Xavier, o poeta dos altos silêncios.
eu tenho um verso
esquecido no Tempo
de minha paciência
um verso avesso
um verso sem terço
um verso no verso
do Temporal
que diz à menina
em rima pobre
caída
no leito do rio
que é o texto
você me conhece
você me decifra
você me reforma
e isso me basta
de um modo inteiro
na noite de agora
no dia de quando
as coisas em sendo
a ordem exata
sem data
sem nada
só sendo e tal
eu tenho um verso
sedento e seco
que compra a vida
sem medo e real
(Germano, Caruaru, 27/10/2024)
Para Neuma, a poeta-penumbra.
Um comentário:
Fabuloso diálogo em que as palavras são usadas com delicadeza e intensidade. Parabéns a ambos!
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