terça-feira, 24 de março de 2009

Ondas nada comuns



Por Germano Xavier



O uso da esfera pública com a finalidade de formação de uma consciência coletiva (localidade), a democratização da comunicação e a promoção ao engajamento da comunidade em prol da defesa e da manutenção de sua particularidade social, possibilitando a geração de movimentos sociais que encontram no pleno direito ao exercício da cidadania a sua meta primordial, formando também “agentes políticos” saudáveis… Talvez sejam essas as três características mais desrespeitadas no ambiente de uma rádio com a concessão para ser comunitária. Em síntese, a maior parte das características e funcionalidades objetivas ligadas a qualquer rádio comunitária é desrespeitada e/ou desviada a partir do momento em que seu pensamento básico atrela-se, direta ou indiretamente, à mídia. Tal fato explica, de uma forma mais contundente, a desvalorização do caráter original das emissoras de rádio comunitárias. Perde-se assim o foco da racionalidade, abrindo espaço para a introdução de uma metodologia discrepante da que a origina. A defesa e a preocupação com o que é de ordem social e de interesse geral (maioria) da comunidade/localidade é reprimida a tal ponto que o cidadão é obrigado a aceitar posicionamentos que não condizem com a sua realidade, tornando-o alienado e reduzindo-o ao papel de mero consumidor de bens simbólicos. Há uma espécie de prática de uma “violência” simbólica por parte dessas estações transgressoras, um nuvem negra que sobrevoa a atmosfera cognitiva e intelectualizante de milhares de pessoas. Outro ponto a se destacar é a instrumentalização do meio comunicativo, nessa caso o rádio, por meio de figuras políticas ou partidos/legendas, com o desejo de angariar conquistas eleitorais. Uma apropriação indevida de um espaço destinado a outros objetivos, mas que serve de combustível para a máquina da corrupção. E o pior de tudo é saber que esses atos são, indubitavelmente, facilitados por administrações também fraudulentas. Muitos mitos são forjados através dessa prática ilícita. Desse modo, a comunidade acaba perdendo a vez e a voz, o direito à cidadania, à moral e à liberdade de expressão. Essa atitude, quando não aparece clara e inteiramente perceptível aos ouvidos do cidadão, surge camuflada, jamais perdendo o seu caráter degenerante. Não obstante, há a prática do que se convencionou chamar de “coronelismo radiofônico”, entre tantos outras artimanhas que são utilizadas. Aqui o patrão (geralmente um candidato político) arma uma rádio comunitária, difunde suas propostas e, depois de se sagrar vitorioso – ou não – “entrega” a emissora à população, manipulando interesses e vontades que deturpam os anseios da massa.


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