Por Germano Xavier
O linguista Roland Barthes, estudioso renomado da área das ciências que envolvem e/ou sofrem influência da palavra, defende que a literatura fundamenta-se a partir da ideia/conceito da prática da escrita, deixando de lado a noção de que a literatura é apenas um arcabouço onde se encaixam enormes listamentos de obras ou, ainda, algo ligado à esfera do comércio-ensino. Tomando como ponto de partida a práxis, a ação de escrever, o autor supervaloriza o “texto”; para ele, o “texto” simboliza o “tecido dos significados que constitui a obra” (Barthes, 2001). Já o extrapolar de representações que um texto pode abarcar não faz a cabeça do pesquisador, que acredita que o elemento basal da literatura está, somente e só, no corpo da escritura, no que indifere ao ordenado de palavras em conjunção, e não nas possíveis compreensões extratextuais ou mensagens que um material literário possa transmitir. Barthes ainda desloca a literatura das demais disciplinas, dando a ela um caráter libertário e emancipatório frente aos mais variados ramos de estudo. Ao mesmo tempo que segrega, Barthes faz da literatura um baú, capaz de zelar por vários saberes. E eis aqui o caractere que torna a literatura um “monumento” quando posta ao lado das demais disciplinas. Para o autor, a literatura “é a realidade, isto é, o próprio fulgor do real”, o que a faz ser e estar sempre em excesso e vantagem diante das outras. O ingrediente a ser analisado, no caso a literatura, é o objeto ou o conjunto de instrumentos que desbastam o irreal, o que é baba ou imprestável. A literatura é o real, ou o seu fragmento, ou o seu motor, ou a “realidade” do que é real. Para Barthes, um lugarejo onde se vive do todo, para o todo e como o todo. Barthes aponta a força de representação como sendo a segunda força da literatura, dizendo que a literatura representa o real para a humanidade através de suas capacidades. Mas o real não pode ser representado, ou seja, a possibilidade que se tem é demonstrá-lo. Há uma constância em se dizer que o real é representado por palavras, através do intermédio da história da literatura. Têm-se várias idéias para uma definição do real, dentre elas afirmá-lo como algo impossível, que não há uma coincidência entre o real e a linguagem, pois estão em planos dimensionais diferentes. Sendo que, o primeiro é pluridimensional, e o segundo unidimensional. O conflito acaba sendo gerado porque é nesse ponto (a união: real + linguagem) que “a literatura não quer, nunca quer render-se” (Barthes, 2001). Os homens se recusam a aceitar tal conclusão; a consequência disso é justamente a produção contínua e ávida da literatura. Para o autor, a literatura caracteriza-se como sendo realista e irrealista. Realista na medida em que está sempre em busca do real, e irrealista porque acredita na lucidez do “desejo do impossível”. Esse último conceito chama-se “função utópica”. Aproveitar tudo, absolutamente tudo. Para o linguista, a transformação , a aprendizagem, o usofruto, a “decência” do escritor-leitor, ou vice-versa, pode ser encontrada no universo de “teima” do banquete da língua, e só. Então, talheres à mesa…
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