Ritmo de toda hora, cor de toda forma, avesso de quem vai embora, lágrima de quem não chora, céu de cada um, música de um acorde só, origem do espinho, nuance do neologismo, volta incompleta de um círculo, movimento turvo no escuro, grito de voz rouca, parada militar na TV, peça de mostruário, intervalo para cigarros, sinal para pedestres, ave que voa sem bando, Beauvoir sem tentação, crítica qualquer sem lança chamas, medo de altura, tremor de terra distante, tremor de carnes sobre camas, visão gigantesca do abismo, queda livre em busca do equilíbrio, vozes do ventilador, ranger de porta engraçada, risada de deboche antes da piada, recôncavo sem entonação, imitação de canto avulso, marcha de cupins, filme europeu sem final feliz, peça encenada em dois atos, gente decorando sua fala, roubo de órgãos, auto-piedade, intoxicação boca a boca, revestimento da pele, hipotermia, insolação, cultos de preservação, melodias, sorrisos de criança, trajeto curto no espaço, segredo sem mistério, moça fazendo magistério, coagulação dos hemisférios, niilismo da nova estação, encontro sozinho, mãos sem abrigo, noite sem vinho, semente fora do ninho, pacificador, antropofagia de amor, levitação, vociferação, verbos e arquétipos, Anaïs Nin, Denser sem jardim, filosofia de boteco, casa sem teto, teto sem gente, linha sem trem, telefone fora do gancho, roupas na tinturaria, lavanderia, palavrão de cada dia, boca suja, velha tia, aposto, bom vício, sobriedade de virgem, linguagem médica, linguagem poética, metalinguagem de uma nova era, era tempo, era vez, era sol outra vez. Era começo de mundo, começo de tudo, poeta se irritou, apagou texto e deixou tudo nas mãos do leitor.
* A escritora Letícia Palmeira disse que escreveu este texto pensando em mim, após uma conversa virtual demasiado aconchegante, numa noite de encontro. Vindo da dona da Livraria Cósmica, a palavra se transforma em átomo primordial, passível de explosões... Muito obrigado, Letícia! Desse modo, a gente costura a teia da vida eterna e brinca de ser humano...
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